Roberta Cavalcanti
São Paulo - Março de 2018
A balada naquele dia não tinha sido muito boa. Bebi muito pouco, e meu fornecedor de drogas não estava por lá, então foi tudo menos divertido. Transei com um cara que encontrei por lá, e apesar de fazer o meu tipo e ser lindo pra cacete, não me deu nenhum prazer. Ele ficou dentro de mim por uns cinco minutos, se deu prazer e logo depois virou para o lado e começou a cochilar. Foi a coisa mais ridícula que já passei na vida. Estávamos num motel e ele simplesmente estava dormindo. Acho que ele bebeu demais e não aguentou. Levantei-me depressa, e vesti minha roupa. Ele permanecia dormindo profundamente. Peguei minha bolsa e tirei algumas notas de dinheiro, deixei-as em cima da cama e calcei meus sapatos. Pior noite da minha vida, certeza!
Saí de lá, e peguei meu celular para chamar um uber. Enquanto o esperava chegar acendi um cigarro, já devia ser lá pelas sete da manhã, minha cabeça doía demais e me sentia muito enjoada. Definitivamente não ia mais misturar bebidas. Eu sempre ficava daquele jeito quando fazia isso.
O uber finalmente chegou e entrei esperando ansiosa para chegar em casa. Queria tomar um banho e cair em minha cama. Fiquei observando pela janela e muitas crianças estavam sendo levadas por seus pais para a escola, era ainda uma terça feira de manhã, mas ao observar os sorrisos deles não deixei de pensar em como a minha vida era terrível. Claro que não para os olhos de quem apenas via o essencial, porque para o resto do mundo eu tinha a vida perfeita, só que estava muito longe disso. Eu era uma estudante de direito de vinte e três anos, era linda, e tinha pais podres de ricos. Os meus pais eram pessoas perfeitas para o resto do mundo, ele médico e ela advogada. Meu pai era uma pessoa completamente insuportável que queria tudo à sua maneira, ele não respeitava ninguém e se achava melhor do que todos no mundo. Minha mãe o amava muito, e por isso era submissa a seus caprichos, ela sempre obedecia a tudo que ele impunha, e eu odiava aquilo demais, minha vontade era de puxa-la pelos braços e fugir, para tentar mostrar a ela que o mundo real era muito diferente do o que vivíamos. No meio disso tudo tinha também o meu irmão, a perfeição em forma de gente, o filho que qualquer um poderia pedir a Deus, ele passou em primeiro lugar em medicina aos dezessete anos, e sempre fizera tudo que meu pai queria. Ele hoje estava no auge de seus vinte e sete anos, e tinha uma namorada que trabalhava no mesmo hospital que ele, que obviamente também era médica. Acho que ele ia seguir o mesmo caminho dos meus pais, a vida falsa e perfeita demais.
Lembro que quando fui prestar o vestibular eu tinha apenas duas opções: Direito ou Medicina, meu pai disse com todas as letras que jamais aceitaria um filho fracassado com uma profissão medíocre, e para ele aquelas duas eram as únicas que fariam eu ter uma vida como a que ele tinha. Ele queria manter a imagem de família perfeita para todos os amigos, e ter uma filha que teria qualquer uma dessas profissões seria o auge da vida dele. Eu não sabia o queria fazer, e pra ser sincera ainda não sabia, já estava no terceiro ano de direito e até que gostava de algumas aulas, mas a verdade era que eu estava muito perdida. Se ao menos eu estivesse estudando algo que realmente gostasse talvez nessa parte minha ida tivesse mais cor. Eu obedeci em fazer direito porque era mais fácil de passar na faculdade, se eu fosse tentar passar em medicina levaria pelo menos uns três a cinco anos para passar no vestibular, fora que eu odiava sangue então estava fora de cogitação.
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A Aposta
RomanceRoberta está no auge de sua vida aos vinte e três anos. È aluna de direito, e com todo o dinheiro de sua família, ela tem tudo para ser um sucesso. Mas por trás de tudo isso há uma mulher muito diferente do que todos esperam, tudo que ela quer é cur...