(Dante) Capítulo 3 - Desespero.

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Eu fiquei o dia todo naquela faculdade ajudando com tudo que era necessário, e agora tarde da noite me sentia exausto. Queria ir embora o quanto antes e isso aconteceria logo mais. Andei pelo jardim da faculdade e acabei por me encontrar com Roberta. Ela usava uma fantasia de Cleópatra, e fumava tranquila. Não gostei muito de ver o cigarro em sua mão, odiava cigarro, mas aquela era uma escolha dela, ela já era bem grandinha e sabia bem os riscos que corria por fumar.

Não sabia que você fumava. - Comento me aproximando.

Não acredito que você veio na festa. - Disse surpresa.

Eu acabei por sorrir.

— Eu vim a contragosto. Precisei ajudar na organização, e não se você sabe, mas todo o dinheiro que arrecadarmos hoje vai para uma instituição de crianças. Mas já estou de saída, é muito estranho para os alunos me verem aqui, teve um que parecia ter visto um fantasma, e olha que eu nem estou fantasiado. Você foi única que vi aqui de Cleópatra.

— È estranho porque você está sempre todo sério na sala de aula. - Jogou o cigarro fora. — Mas eu gostei de te ver por aqui, é bom se divertir um pouco para variar, ainda que seja apenas para ajudar a arrecadar dinheiro, você devia ficar e dançar junto com os alunos, imagina como seria?

Acabei rindo, e sentia que ela estava bastante surpresa, o clima naquela noite estava diferente, mais descontraído.

— Nem pensar. Já se foi o tempo em que eu me divertia num lugar barulhento desses. Gosto de coisas mais leves. Enfim, tenho mesmo que ir agora, e mesmo não sendo da minha conta acho que você devia parar de fumar, faz muito mal para o seu pulmão.

Ela me explicou que sabia disso, mas parecia não se importar muito, acabou por voltar para a festa e eu fui até o meu carro, finalmente eu ia embora. Aquela música alta não era pra mim, definitivamente não. Eu já devia ter aceitado a realidade de que por trás dos trinta e quatro anos, eu tinha oitenta de alma. Meu mau humor diário deixava isso nítido. Ando pelo estacionamento e entro em meu carro, quando dou partida acabo por me lembrar de uma pasta que havia esquecido na sala dos professores, teria que voltar para busca-la, eu tinha que revisar alguns documentos importantes que estavam ali ainda naquela noite.

Bufei irritado e tranquei o carro para seguir de volta até a faculdade. Deixei o estacionamento e segui tentando desviar da muvuca de pessoas que dançavam no refeitório da faculdade. Andei pelos corredores e quando estava prestes a abrir a porta da sala ouvi um grito. Aquilo me atingiu no fundo da alma, eu ouvi novamente, e percebi que vinha da sala ao lado. Tentei abrir a porta, mas estava trancada, então comecei a tentar arromba-la, após algumas tentativas finalmente consegui. O que vi ali me deixou completamente chocado para dizer o mínimo. Roberta estava no chão, as mãos amarradas, e Gustavo em cima dela claramente fazia uma tentativa de estupro.

Eu não sei ao certo o que aconteceu comigo, a raiva e o horror tomou conta de mim eu o tirei de cima dela partindo para cima dele, eu soquei sua cara diversas vezes e o sangue dele sujou minhas mãos e minhas roupas, mas não foi isso que me fez parar, na verdade eu voltei ao meu estado normal quando me lembrei que Roberta ainda estava no chão. Soltei aquele filho da puta ali, e segui até onde ela estava.

Você está bem? - Perguntou preocupado.

Ela parecia completamente perdida, e não era pra menos. Apenas assentiu de leve, e eu decidi tomar conta da situação e tira-la de lá. A peguei pela mão e a tirei da sala, tentei andar o mais rápido que pude, e segui para o estacionamento onde ela poderia se sentir mais segura.

Parei em frente ao meu carro e busquei seus olhos que estavam completamente perdidos. Eu já tinha lidado com tantos casos daquele tipo, mas presenciar era algo completamente diferente, eu não sabia ao certo o que fazer, ou que falar. Só queria que ela sentisse o máximo de segurança possível, e que soubesse que poderia confiar em mim.

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