Capítulo 23 - Momentos felizes, e mais algumas mentiras.

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Eu acordei cedo naquele dia, precisava ir até o ensaio da orquestra e estava muito ansiosa, mas ao mesmo tempo o que realmente não saia da minha mente era Dante. Ele andava inquieto, e desde o nosso último dia de aula juntos ele estava estranho. Não sabia exatamente o que havia acontecido, se eu havia feito algo de errado e nem ao menos tinha percebido, mas eu e ele não tínhamos brigado nem nada do tipo. Suspirei cansada. Assim que retornasse do ensaio ia conversar com ele, não era nada bom para mim aquela ansiedade toda. Comi um pedaço de chocolate conforme saí do táxi, aquela barrinha me ajudava muito na abstinência, eu meio que havia substituído tudo por chocolate, e aquilo estava funcionando, claro que combinado com tudo que eu fazia na ONG. Eles me ajudavam demais.

Ando até o local em que a orquestra funcionava, era um lugar enorme de dois andares. No primeiro andar havia um palco de madeira em que várias cadeiras estavam uma ao lado da outra, e partituras apoiadas em mesinhas próprias para elas. Quando entrei lá vi que havia também uma recepção pequena e explico a uma das recepcionistas que eu estava lá por causa do ensaio e ela me explica que eu teria de ir até o segundo andar. Subo a escada e lá vejo diversos instrumentos de violão, flauta, violoncelo, a dois enormes pianos.

Um homem conversava com uma mulher parecendo meio preocupado, mas sua atenção vai direto para mim assim que eu me aproximo.

— Olá, eu me chamo Roberta, sou a pianista que Lorenzo disse a vocês. Ficou marcado que eu fizesse um ensaio hoje. - Falo sorrindo.

— Ah, graças a Deus. Estava morrendo de preocupação, achei que você também ia dar para trás. Já tínhamos combinado com um cara para substituir nosso pianista a algum tempo e ele desistiu de última hora. Espero que você realmente saiba tocar e também que não desista, precisamos muito de um pianista para a festa, a propósito meu nome é Rogério.

Bem... se você gostar do jeito que eu toco, pode ter certeza que jamais irei dar para trás.

— Pode escolher qualquer um dos pianos, e toque qualquer música que goste ou que tenha ensaiado. - Ele explica e aponta para os pianos.

Concordo com a cabeça, e sento-me em frente ao piano mais escuro, abro a tampa e solto um suspiro, não tinha ensaiado absolutamente nada. Não tinha comprado um piano pequeno para ensaiar no apartamento, e então começo a pensar em alguma música que eu fosse fácil e que eu realmente gostasse. Decido então tocar uma música de um filme que eu tinha gostado muito, "City Of Stars, do filme La la Land", eu amava aquela música, me tocava no fundo da alma.

Começo a tocar e fecho os olhos, nem ao menos ouvi o que eu tocava, parecia que eu estava numa bolha em que eu me observava de longe. Conforme acabo de tocar não ouço nada além de um suspiro meu, que era em parte alívio, parte felicidade. Por mais que eu não conseguisse passar, por mim tudo bem aquilo já valia. Foi então que eu ouço palmas de Rogério.

— Você foi ótima. Na verdade, eu nem ao menos esperava que fosse se sair tão bem. A quanto tempo você toca?

— Eu toquei por muito anos, e iniciei tudo quanto ainda era criança, mas parei por um tempo, só que com o pedido de ajuda do Lorenzo eu jamais poderia deixar de vir aqui.

Bem... eu fico feliz que você vai participar da festa em prol da ONG, mas o que acha de ficar por aqui por alguns meses, quero dizer, realmente trabalhar, e não tocar de graça como nessa festa. O nosso pianista está sem previsão de voltar, e realmente vamos precisar de alguém, como sou o que comanda tudo aqui, você me parece ideal. Precisamos apenas ensaiar com toda a orquestra agora.

Aquilo me surpreendeu mais do que qualquer outra coisa. Jamais esperei que um cara que comandava uma orquestra ia querer que eu fizesse parte dela.

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