Eu me sentia feliz e miserável ao mesmo tempo. Minha vontade era de despejar para Roberta toda a verdade sobre como eu me sentia, mas eu não podia, seu tratamento tinha acabado de se iniciar e ela vivia um caos em sua vida. Não poderia atrapalhar ainda mais. Mas ao mesmo tempo as noites mal dormidas e meu trabalho incompleto também me deixavam nervoso, eu não conseguia me concentrar em nada. Parecia um adolescente iniciando e vida e novas descobertas, era ridículo que eu ficasse daquele jeito, ansioso a espera dela. E mais ridículo ainda foi o sorriso que apareceu em minha boca quando a vi abrir a porta de minha sala.
— Você veio cedo hoje. - Falei sorridente, e fechei a porta.
Beijei-a ansiando por muito mais, só que minha curiosidade para saber o que tinha acontecido era maior naquele momento.
— Eu sei, precisava conversar com você pessoalmente. - Disse ansiosa.
Ela sentou-se no sofá e me juntei a ela.
— Sobre o que você quer conversar comigo? - Pergunto.
— Eu... hã... tomei uma decisão sobre a minha vida, na verdade algumas decisões. Hoje vim me demitir do estágio, e também esta noite vou ter a minha última aula com você, Dante. Não quero seguir a carreira de direito, odeio isso, e quero me encontrar, quero redescobrir a Roberta que eu perdi a tanto tempo. Saí da casa dos meus pais, e pretendo alugar um apartamento, e preciso também procurar um novo emprego.
Ela me surpreendeu e me senti feliz por ela estar buscando sua independência. Ela merecia muitas coisas boas em sua vida.
— Você sempre me surpreende, sabia? Você é tão forte, Roberta, e nem ao menos se dá conta disso. Só fico triste porque não vou te ver todos os dias, estava tão acostumado. Mas você está certa, precisa fazer o que gosta, e se direito não te faz bem, então vá a atrás do que realmente te faz bem, eu vou estar sempre aqui para te apoiar no que precisar.
Ela sorriu para mim e me derreti por dentro.
— Obrigada, de verdade, por tudo.
Eu acariciei seu rosto com delicadeza.
— Mas me conte, sua mãe te procurou novamente? Já conversaram? - Perguntei.
Sacudiu a cabeça negativamente.
— Não, e ela nem sabe onde estou. È melhor assim, não quero nem saber dela agora. Sabe o que aconteceu? Eu estava saindo de casa e dei cara com o meu pa... com o Eduardo, ele ficou cheio de ironias para cima de mim, acha que não vou conseguir sobreviver sem a ajuda deles. - Ela revirou os olhos.
Suspirei pesadamente.
— Não pense nisso. É exatamente isso que ele quer, te afetar, e você não pode permitir que isso aconteça.
Ela assentiu
— Eu estou com tanta raiva que prefiro ficar morando de baixo de uma ponte do que voltar para a minha antiga casa. Estou bem feliz com a Laya, mas não me parece certo atrapalhar a vida dela, não gosto de incomodar ninguém, e estou procurando um apartamento feito uma doida. - Contou e suspirou pesadamente. — Ah, tem outra coisa que queria te contar, uma coisa boa dessa vez. - Disse sorrindo.
— Que seria? - Perguntei curioso.
— Bem... vai ter um evento para arrecadar dinheiro para a ONG e o Lorenzo me contou que vai ter uma orquestra lá tocando, só que o pianista não pode ir, e eu contei a ele que sei tocar e... digamos que vou fazer um teste para poder tocar junto da orquestra no evento. - Ela mordeu o lábio nervosa.
Eu sorri, e era um sorriso de orgulho que era totalmente destinado a ela.
— Estou tão feliz por você! Você nem faz ideia. Isso vai te fazer muito bem, sei o quanto você amou tocar piano na nossa viagem, parecia que você tinha se tornado outra pessoa nos minutos em que tocava, era como se nada a sua volta existisse, somente os sons e as sensações que isso causava em você.
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A Aposta
RomanceRoberta está no auge de sua vida aos vinte e três anos. È aluna de direito, e com todo o dinheiro de sua família, ela tem tudo para ser um sucesso. Mas por trás de tudo isso há uma mulher muito diferente do que todos esperam, tudo que ela quer é cur...