Capítulo 22

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~MELANIE

Abro levemente meus olhos, acostumando-me com a claridade forte contra meu rosto.

Tento raciocinar onde estou, mas as paredes brancas são completamente desconhecidas e não-familiares para mim. Levo alguns segundos para manter meus olhos completamente abertos e entender o que acontece à minha volta.

Felipe está dormindo em uma poltrona ao meu lado e Estela está dormindo no sofá que fica de frente para mim.

Percebo que estou no hospital quando ouço os barulhos das típicas máquinas. É então que me lembro da forte dor que senti quando estava numa reunião da empresa. Será que desmaiei no meio dela?

Balbucio o nome de Felipe e na hora ele acorda. É um pouco engraçado o desespero dele quando abre os olhos e me vê acordada, mas eu não consigo expressar nenhuma emoção.

— Mel? — a voz rouca de pós-sono é absolutamente deliciosa, mas eu não tenho tempo pra perder com isso, pois preciso saber o que eu faço nesse hospital.

— O que eu estou fazendo aqui?

— Você se lembra de alguma coisa? — se levanta, vindo para perto de mim e cruza nossas mãos uma na outra.

— Estávamos numa reunião... eu por acaso desmaiei no meio dela? — murmuro fraco, pois é o máximo que consigo com todo esses aparelhos em mim.

Sua feição torna-se ainda mais preocupada depois da minha fala.

— Não, eu e você ficamos na sala depois da reunião...

— Não me diga que desmaiei enquanto estávamos transando! — interrompo-o, ainda com a voz fina e baixa.

Felipe ri levemente do meu comentário e nega com a cabeça.

— Estávamos apenas conversando — acaricia levemente meu cabelo.

— Eles fizeram algum exame em mim?

— Sim. Vão entregar o resultado hoje.

— Mel! — Estela berra meu nome e vem correndo até mim assim que acorda e percebe que eu desperta. — Eu fiquei tão apavorava! Você quer me matar do coração, né? Só pode!

— Calma, Estela. Ela está bem agora — Felipe pede, ainda mexendo em minhas madeixas.

— Você já avisou algum médico que ela acordou?

— Ainda não...

— Eu vou lá, então — minha amiga deixa um beijo em minha bochecha e sai do meu quarto.

Nós dois ficamos um tempo em silêncio até que ele pergunta:

— Como está se sentindo?

— Hum, eu estou com um pouco de dores, mas nada insuportável — limpo a garganta quando minha voz falha um pouco.

— Onde está sentindo dores? — ele passa delicadamente a mão em meu rosto, numa leve carícia.

— Por aqui — aponto para o final de meu tronco, acima da virilha.

De repente, porta é aberta com força por Estela, que está acompanhada de uma mulher vestindo branco, a qual suponho ser a médica.

— Bom dia, Melanie. Fico feliz que tenha acordado — ela sorri tão linda e docemente, que eu até esqueço um pouco da dor. — Está sentindo dores?

Afirmo com a cabeça, automaticamente colocando minha mão na parte inferior da barriga e a médica acena com a cabeça, logo em seguida anota alguma coisa na caderneta.

— Eu sou Letícia Carmo, estou cuidando de você desde que chegou aqui. Tenho notícias pra você, mas não são muito boas.

Um arrepio varre-me de cima à baixo com o tom de voz dela.

— Quando você veio aqui, te examinamos em muitos lugares e você lembra o resultado — aceno com a cabeça, sabendo que ela refere-se à minha vinda depois do sequestro. — Então, foi um sintoma de estresse em cima da lesão causada pelo machucado. Foi um chute, certo?

— Sim. Foi um chute muito forte, porque eu vomitei logo em seguida — digo, recordando-me da sensação nauseante de expelir comida junto com sangue.

— Pois é — doutora Letícia confirma. — O chute deixou uma lesão, mas isso já sabíamos e estamos tratando. Você se estressou com alguma coisa antes de desmaiar?

— Não que eu lembre. Eu só estava conversando com meu noivo — aponto sutilmente para Felipe, que está um pouco pálido.

— E sobre o que era a conversa? — a médica pergunta. — Vocês estavam discutindo?

— Doutora! — meu noivo exclama, assustando nós duas pelo tom de voz alto. — Foi só uma conversa normal sobre a reunião. Por que acha que foi estresse?

— Foi somente uma pergunta, senhor Guettman. Não precisa se exaltar.

~FELIPE

Depois de algumas horas, Mel finalmente é liberada para ir para casa, o que me alivia um pouco.

Um pouco.

Porque sei que toda essa merda que está acontecendo com ela é por minha causa.

Christofer não teria tentado se forçar pra cima dela se não fosse nosso noivado; Guilherme não teria machucado Mel no estacionamento do Subway; Melanie não teria sido sequestrada, machucada e esfaqueada. E além disso, ela não teria vindo parar no hospital de novo.

Foi nossa conversa que a deixou nervosa. Não tem como não ter sido. Enquanto eu estava brincando, Mel realmente ficou estressada e acabou desmaiando, o que provocou a ida dela novamente ao hospital.

Em suma: é tudo culpa minha e do maldito contrato que eu inventei com a ajuda de Alexandre.

Eu tentei, juro que tentei segurar esse relacionamento, mas é impossível quando tudo que você faz prejudica e machuca a outra pessoa. Não posso manter Mel comigo depois de todos esses acontecimentos, pois não seria justo nem comigo nem com ela. Além do mais, seria um egoísmo sem fim.

— Não posso mais, você entende que é tudo culpa minha? Nada disso teria acontecido se eu não tivesse feito essa proposta pra ela, Theo!

Meu irmão veio até minha casa mais cedo e decidi contar pra ele sobre minha decisão de acabar com o relacionamento. Mel está na casa dela, sob os cuidados de Estela e de seus pais.

— Eu entendo seu ponto, mas não fique se culpando. Tudo isso não é culpa sua, as consequências só não foram favoráveis. Acho que deveria conversar com ela, e não tomar uma atitude assim sozinho. Vocês se amam.

— Você ainda não entendeu que foi tudo um contrato? — rosno, levando o copo de uísque até minha boca e tomando um gole.

— Mas você sempre foi apaixonado por ela. E Mel desenvolveu esse sentimento por você nesses dias. Você se lembra do "eu te amo" que ela disse quando o sequestrador ligou? Acha que aquilo foi fingimento? Por Deus, vocês se amam, não podem se separar.

— Não é você quem decide isso — rebato, deixando meu copo na mesa e levantando do sofá. — Eu já tomei minha decisão! Ela ficará muito melhor sem mim — apesar do pensamento doer, faz muito sentido, além de ser a decisão mais sábia.

— Você aposta quanto que não?

— Não estou apostando nada com você, Theodor. Aliás, o que ainda faz aqui? Não deveria estar com seu namorado?

— A gente discutiu — ele dá de ombros.

— E então? Está esperando o que para ir fazer as pazes com ele?

— Estou apenas esperando você tirar essa ideia estúpida da cabeça de terminar seu noivado por causa de alguns trastes que machucaram a Melzinha.

Olho bem em seus olhos antes de responder:

— Nada vai me fazer mudar de ideia. A próxima vez que eu a vir, terminarei com ela.

Proposta TentadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora