Mommy Issues

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  Eu andava de um lado para o outro na sala de estar, extremamente nervosa. A princípio, até tentei me controlar e parecer indiferente a visita inesperada de Sinu no meio da madrugada, porém, toda a situação grita a dor de cabeça.

Primeiro, porque ela jamais se preocupou em sequer me ligar por outra razão que não fosse pedir dinheiro, duvido muito que apareceu por aqui porque sentiu saudades. Também tem o fato de que há semanas ela tem tentando falar comigo, mas tenho ignorado todas as suas tentativas de contato. O que realmente me deixa alarmada, é a quantidade de malas que a mulher traz consigo e sua falsa expressão de coitada. Ela fez alguma merda, disso tenho certeza.

-Aqui. – Lauren entrega um sanduíche e um copo de suco em suas mãos.

-Obrigada, querida. – Minha namorada não diz nada, sua expressão é preocupada, não tanto como a de Dinah, que observa tudo com os braços cruzados da soleira da porta. – Humm... o suco está muito doce, você não se importa de fazer outro, não é?

-Ela não é sua empregada e aqui não é uma lanchonete, se não gostou, que vá comer em outro lugar! – Exclamei aborrecida. Sinu ama colocar defeito em tudo e nada nunca está bom, me espanta que nem com uma desconhecida ela perde sua falta de educação.

-Eu sou sua mãe, Karla, não ouse falar assim comigo!

-Me poupe. – Neguei com a cabeça. – Você só se finge de mãe quando é do seu interesse, não estou com paciência para aturar sua hipocrisia. – Lauren se aproximou, acariciando minhas costas e me pedindo para ter calma. – Anda, para de enrolação e diz logo o que veio fazer aqui!

-Essa rebeldia é falta de apanhar. Eu devia ter te batido direito, assim você teria aprendido a me respeitar. Mas não, a boba aqui ficava com dó. Olha só o resultado. – Me olhou com desgosto. Fechei os olhos com força, respirando fundo para engolir os desaforos que me vieram a mente. – O assunto é particular, gostaria de trata-lo a sós.

-Ok. – Suspirei pesado, voltando minha atenção para Dinah e Lauren. – Vou ficar bem, podem ir dormir.

-De jeito nenhum. – Dinah se adiantou. – Não confio nessa mulher e você também não deveria. Vamos ficar na cozinha, no primeiro sinal de discussão estou entrando no meio. – Avisou, logo dando as costas e seguindo para o comodo.

-Linda, estamos com você, ok? – Beijou minha testa.

-Ok. – Lhe ofereci um sorriso cansado, assim que ela deixou a sala, me voltei para mulher que analisava cuidadosamente todo o apartamento. – Pronto, estamos sozinhas. – Cruzei os braços, adotando uma posição defensiva.

-Vejo que está vivendo bem. – Começou, um sorriso irônico nascendo em seus lábios. – Você é uma ingrata, Karla. Eu poderia ter tido uma vida muito melhor, mas desisti de tudo para te criar. E o que ganho em troca? – Negou com a cabeça. – Você está aqui, vivendo com todo conforto e me abandonou naquele fim de mundo. Me deixou desamparada, sem se preocupar se eu estava comendo, passando frio, ou precisando de alguma coisa... Como pode ser tão fria, garota?

-Você está me zoando, não é? – Levei as mãos ao cabelo, completamente incrédula. – Você nunca se preocupou se eu estava sentindo fome quando gastava todo o dinheiro em noitadas e se esquecia que a geladeira estava vazia. Também nunca se preocupou com a minha segurança quando passava dias fora de casa e me deixava sozinha, ou quando trazia um homem diferente por semana para morar conosco, sendo que tinha uma filha mulher. Sinu, você nunca lavou um prato naquela casa, se não fosse por mim, viveríamos em um chiqueiro! Como se não bastasse ser porca e irresponsável, fez da minha vida um inferno! – Cerrei os punhos. – Perdi as contas de quantas vezes fiquei doente e você ligou o foda-se para mim. Nunca se importou se eu estava indo bem na escola, nunca me deu nada sem reclamar antes, tudo que você sempre fez foi isso: reclamar, reclamar e reclamar! Nunca nem sequer me agradeceu pelas vezes que me coloquei em perigo para te buscar toda suja naqueles becos imundos, ou pelas milhares de vezes que te socorri quando estava se afogando no próprio vômito. E pior, você queria me manter naquela miséria a qualquer custo, uma mãe não deveria querer o melhor para os filhos? – Sua expressão se mantinha neutra, meu desabafo não parecia afeta-la nem um pouco. – Depois de tudo, ainda teve a cara de pau de me ameaçar por quase dois anos! – Bufei de irritação. – Sim, estou vivendo bem, mas isso é graças ao meu esforço. E eu poderia ter muito mais, não tenho porque mesmo depois de toda merda que me fez passar, ainda quis te ajudar. Mas isso acabou, Sinu, vai ter que arrumar outra pessoa para parasitar, de mim você não arranca mais nem um centavo. Cansei de me sacrificar por uma pessoa tão mesquinha.

Tongue TiedOnde histórias criam vida. Descubra agora