Sorry To Myself

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  Despertei, contudo, continuava flutuando por uma espécie de limbo.

Sabe quando você acorda, mas ainda não acordou de verdade? Pois é, eu estava assim; meio desperta, meio dormindo. Fiquei nesse estado por um tempo, até que, aos poucos, fui me tornando mais consciente do espaço ao meu redor. Abri um olho, em seguida, o fechei e abri os dois. A luz da lua iluminava o quarto parcialmente escuro, o clima era ameno e o teto acima de mim branco e decorado por um enorme e luxuoso lustre de cristal.

Humm, ok.

Lentamente, fui me arrastando pelos lençóis macios até estar sentada na cama. Grogue e me sentindo confusa, corri o olhar pelo lugar, investigando. Estava em uma suíte enorme; os raios do luar atravessavam o vidro que se estendia do chão ao teto, como uma parede, e cintilavam pelo imponente piso de mármore negro. Também não pude deixar de reparar nos móveis de mogno que gritavam a alta marcenaria, assim como nos tapetes persas e cortinas de seda. Tudo de muito bom gosto, devo dizer.

Coço a nuca, incerta. Sei lá, algo não me parece certo, mas não faço ideia do que.

Decido levantar e ir ao banheiro. No caminho, vejo uma prateleira lotada de porta-retratos e me aproximo, vendo uma sequência de fotos suspeitas. Eu vestida de noiva ao lado de uma moça chinesa também vestida de noiva. Eu beijando a moça chinesa na boca. A moça chinesa com uma touca hospitalar enquanto segura um recém-nascido. Eu e a moça chinesa com crianças chinesas entre nós.

Inclino a cabeça, em dúvida.

Ora, ora... Suspeito.

Desconfiada, sigo meu caminho até o toalete, tentando entender porque sentia que algo estava errado. Após fazer minhas necessidades, fui até a pia e lavei o rosto com bastante água gelada. Porém, ao mirar meu reflexo no espelho, mais uma vez a sensação de que estava deixando algum detalhe importante passar me atingiu.

Cheguei o rosto mais perto do espelho, e com o cenho franzido, apalpei, cutuquei e estiquei as rugas nos cantos dos meus olhos.

Humm... Suspeito.

Muito, muito suspeito!

Mexi e inspecionei um pouco mais, até que me dei conta dos fios brancos na minha cabeça.

Cacetada, era mesmo pra isso estar aqui?

-CAMILA? – Ouço a voz fina chamar, e o meu primeiro impulso é de responder.

-No banheiro. – Grito de volta. Mal pisco e a moça chinesa que vi nas fotos cruza a porta como um furacão e para na minha frente com os braços cruzados, parecendo puta de ódio e pronta para me comer viva. Ue??

-Sua cretina desgraçada! – Dispara, me empurrando pelos ombros. – Como você pode?!

-Ham... O que eu fiz?

-Como assim o que você fez? – Ri histericamente, bagunçando os cabelos. – Você prometeu ao Jake que iria vê-lo na estúpida competição de xadrez e furou. Furou de novo! Qual a droga da desculpa agora, hein?

-Eu... E-eu acho que dormi. – Respondo incerta.

-Ahh, dormiu? Você nunca dorme, mas resolveu tirar uma soneca justo quando seu filho estava te esperando?

-Filho? – Inclino a cabeça, tentando lembrar.

-Por acaso você está chapada de antidepressivos de novo, sua idiota?

-Er...Não?

A mulher bufa frustrada e nega com a cabeça, me dando as costas.

-Graças aos deuses que esse divórcio não vai demorar para sair. Você não imagina o quanto eu gostaria de poder voltar no dia em que te conheci e ficar em casa! – Eita, que mulher grossa! Levo a mão ao peito, ofendida. – O jantar está na mesa. Jake ficou muito chateado, espero que tenha a decência de conversar com ele. Se não tiver também, foda-se, o menino já te odeia mesmo.

Tongue TiedOnde histórias criam vida. Descubra agora