Losing The Religion

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  Scar Tissue do Red Hot soava baixinho no rádio do carro, sendo uma trilha sonora agradável para observar Nova York pela janela. Eu amo esta cidade, sempre amei, mais do que posso colocar em palavras. Nova York não é apenas uma cidade, é um estado de espirito, e aqui encontrei muito mais do que jamais pensei estar procurando.

Nunca serei grata o suficiente.

Deixo um suspiro nostálgico escapar, sentindo uma saudade antecipada apertar o peito.

Com a testa colada ao vidro e os olhos atentos, eu acompanhava a paisagem mudar rapidamente na medida em que o carro avançava pela avenida, tendo boas memorias me invadindo a mente a todo o momento. Um dia eu já fui quase uma estrangeira nessa cidade, mesmo quando já vivia nela há um longo tempo. Hoje não mais. Hoje posso orgulhosamente dizer que, junto a mulher que eu amo; a única capaz de me fazer sentir como Nova York faz, desbravei e vivi da melhor maneira possível cada pedaço desse lugar pela qual sou tão apaixonada.

Ela me levou em cada ponto turístico; em cada lugar onde eu sempre quis ir e me apresentou a vários outros que eu nem fazia ideia que existiam. Fomos a restaurantes, baladas, shows, festivais e curtimos juntas toda sorte de entretenimento que as duas rodas da moto, o tempo e nossos salários nos permitiu. Perdi a conta de quantas vezes me senti como uma Amélie Poulain porto riquenha na garupa da sua Harley; seja cruzando longas estradas em viagens com o motoclub, simplesmente rindo uma com a outra no caminho do cinema ou em alguns episódios totalmente inesperados e que se tornaram mágicos, quando Lauren do nada decidia me acordar de madrugada dizendo que devíamos sair para aproveitar a vida. Devo admitir que na maioria das vezes que ela fez isso eu fiquei puta e não fui, afinal, ainda sou a responsável da relação. Por outro lado, a gringa fez todas as minhas afirmativas valerem a pena.

Vendo assim, até parece que tudo isso aconteceu há muito tempo, mas não. Muitas dessas boas memorias são recentes e, apesar de já estar sentindo saudades, este tempo que sinto falta de certa forma ainda está acontecendo.

Suspiro mais uma vez, exausta de estar tão sentimental. Muito provavelmente eu teria ficado presa nessa minha bolha emotiva por um longo tempo, isso se o carro não tivesse (de novo) parado bruscamente, me fazendo dar de cara no vidro.

-Ops! – Lauren soltou o volante com uma expressão culpada, que só piorou quando me viu segurando o nariz. – Eita, desculpa Camz, machucou?

-Não, mas estou com medo. – Ri de nervoso. – Não teria entrado no carro com você se soubesse que dirige tão mal.

-Eu não dirijo mal, a culpa é do carro. – Fiz uma cara de deboche, deixando claro que não acreditava nela. – É sério! Não sei aonde a Keana comprou essa banheira, mas devia pedir o reembolso.

-O sedan do ano é banheira agora? Anda, admite logo que é uma péssima motorista. – Apertei sua bochecha em provocação.

-Me deixa. – Deu um tapa na minha mão, mas também sorria.

Lembrei que o carro ainda estava parado e tomei um susto. Já estava prestes a alerta-la sobre isso quando estranhei a falta de buzinas e olhei para o lado de fora, vendo que já havíamos passado da avenida movimentada e entrado na parte deserta do caminho. Até mesmo a música já tinha mudado.

-Deixa eu adivinhar. Viajou demais ai e não percebeu que já estamos quase chegando? – Perguntou com um sorriso divertido, religando o carro e logo dando partida.

-Ficou tão na cara assim?

-Tsc. – Revirou os olhos. – Camila, eu já devo ter tentado falar com você umas cinco vezes e fui ignorada em todas. Você claramente não está aqui.

Tongue TiedOnde histórias criam vida. Descubra agora