-Camz, eu sei que você está acordada. – A voz rouca que eu tanto amo soou baixinha e carinhosa ao pé do meu ouvido. – Abra os olhos.
O fato de eu estar raciocinando suas palavras diz por si só que sim, estou acordada, ainda que meio desorientada. Isso, pelos meus cálculos, há pelo menos uns dez minutos. O problema é que a vergonha me impede de encara-la depois do papelão enorme que fiz, então, escolhi ficar quieta por mais um tempo enquanto reunia coragem.
Lembro-me de estar abraçada a ela no chão do banheiro, sendo embalada pelos seus braços enquanto estava rendida a um choro histérico. Haviam outras pessoas ao redor tentando ajudar, mas a ideia de mais gente me vendo naquele estado me deixava ainda pior.
Em algum momento o cansaço deve ter sorrateiramente me vencido, pois, não faço ideia de quando acabei caindo no sono. Assim que recobrei a consciência, a primeira coisa que percebi foi a mudança de ambiente. Lauren ainda me tinha em seus braços e acariciava meus cabelos enquanto meu rosto descansava na curva de seu pescoço. Porém, mesmo sem abrir os olhos, sabia que não estávamos mais naquele banheiro.
O silêncio ao longo do espaço era absoluto; o cheiro no ar era neutro, diferente do cheiro de desinfetante que impregnava o toalete; a temperatura e falta de iluminação também ajudavam a confirmar minhas suspeitas, além das minhas pernas estarem esticadas no que eu tenho certeza ser uma poltrona acolchoada.
Respirei fundo e, por fim, movi as pálpebras. Eu não reconhecia o lugar, mas com uma breve vistoria, constatei que estávamos em um pequeno auditório.
De cabeça baixa, fui me movendo com cuidado até sair do colo de Lauren e estar sentada na poltrona ao lado da que ela ocupava.
-Como você está se sentindo? – A mais velha segurou meu rosto, me obrigando a olha-la. Sua expressão era uma mistura de preocupação e carinho, muito carinho. Segurei sua mão e plantei um beijo na palma antes de responder.
-Quase desmaiando de vergonha. – Suspirei forte. – E-eu... Eu nem sei o que te falar. Só... Só me d-desculpa. – Deixei os ombros caírem. – Não sei explicar o que aconteceu comigo. Juro que não sei...
-Alguém te falou algo ou aconteceu alguma coisa? – Se aproximou mais. – Olha, eu não entendo muito disso, mas a moça que te socorreu no banheiro disse que você estava tendo uma crise de ansiedade.
-Pior que não, Lauren, não aconteceu nada, eu pirei sozinha. – Comecei a brincar com os dedos. – Como eu te falei, desde ontem de madrugada minha cabeça estava cheia e eu me sentia estranha. Tinha uma espécie de angústia sem sentido cutucando meu peito e me deixando toda inquieta. Ao longo do dia fui me distraindo e praticamente esqueci que estava me sentindo desse jeito antes. Sobre o surto, sei lá, foi uma coisa muito doida. Em um minuto eu me sentia bem e no outro parecia que ia explodir de nervoso. Uma enxurrada de pensamentos ruins começaram a invadir minha mente do nada e eu não conseguia controlar o que eles me faziam sentir, entende? Foi intenso demais. A moça provavelmente está certa, mas também não entendo o suficiente para afirmar com certeza.
Um brilho de compreensão passou por seus olhos, mas, em seguida, ela ficou calada. Parecia estar refletindo sobre a situação. Incomodada com o silêncio, resolvi quebra-lo externando uma das várias dúvidas que eu tinha no momento:
-Onde estamos?
-Na sala de reuniões dos funcionários do teatro. – Franzi o cenho. – Você chorou tanto que acabou apagando de exaustão. Eu não sabia o que fazer, então o segurança que me avisou sobre você estar passando mal se solidarizou e ofereceu essa sala para que você pudesse descansar em paz até que se sentisse melhor.
-E por quanto tempo eu dormi?
-Mais ou menos umas duas horas. – Cobri o rosto com as mãos.
-Porra. – Bufei frustrada. – Lauren, me desculpa. E-eu não qu-
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Tongue Tied
Romance''Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fo...