Dez vezes mais

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-Pela vigésima quinta vez, Lauren: – Falei pausadamente, tentando conter o choro. Eu estava completamente desesperada e atordoada, por mais que tentasse entonar firmeza na minha voz, cada palavra saia da minha garganta como um ruído embargado e sofrido. – Eu quero terminar! Você não pode me obrigar a namorar com você!

Para aumentar a minha raiva – ou alivio – , a gringa não moveu um músculo perante o meu chilique, continuou concentrada e plena em sua tarefa de tirar minhas roupas da mala e colocar de volta no armário.

-Pela vigésima quinta vez, Camila: já te disse que não aceito. – Grunhi frustrada, me atirando na cama e tapando o rosto com um travesseiro. – Prefiro pensar que o estresse está mexendo com a sua cabeça e que você realmente não pensa que sou fútil ao ponto de te largar na primeira dificuldade.

-Você não entende! – Choraminguei, me sentando encostada na parede e observando como Lauren parecia tranquila.

-Quem não entende é você. – Ela se vira para mim pela primeira vez desde entramos no quarto e iniciei a tentativa de discussão. Isso mesmo, tentativa. Lauren me deixou brigando sozinha, só abriu a boca para falar que não iriamos terminar, na mais perfeita calma e educação, como se não houvesse uma desequilibrada gritando e querendo quebrar o pau com ela a mais de quarenta minutos. – Camila, você não quer terminar nosso namoro porque não quer mais estar comigo ou porque não gosta mais de mim. Não tente me fazer de idiota, ok? Sei muito bem que tipo de pensamento estupido está se passando por essa sua cabeça.

-Você não está feliz comigo. – Afirmei tristemente. – Eu não te mereço. – Ela suspirou chateada, caminhando até a cama e se sentando de frente para mim. – Quando eu estava tentando te reconquistar, te fiz tantas promessas. Não percebe o quanto estou falhando miseravelmente em cumpri-las? – Segurei suas mãos, acariciando de leve com os polegares. – Todos dizem que o começo do namoro é a melhor fase. Você faz de tudo por mim e eu só trago problemas para sua vida. Estamos namorando há quase um mês e meio e nem a um encontro decente consegui te levar, não é justo que você se doe tanto por alguém que não consegue te tratar do jeito que merece. Está tudo um caos tão grande e não faço ideia de quando as coisas vão melhorar. Estou sendo um peso, sei que estou, e não quero te prender a todo o drama que significa ficar comigo.

-Nossa, fiquei grudada em você o dia todo, que horas conseguiu fugir para se drogar sem que eu percebesse? – Fechei a cara na hora, indignada com sua brincadeira inconveniente. – Meu amor, você é linda! Fica mais linda ainda quando não está dizendo bobagens.

-Vai se foder, Lauren! – Exclamei puta da vida, voltando a chorar. Meus nervos hoje estão uma coisa de louco, parece que estou a ponto de explodir! Tentei me levantar, mas a idiota não deixou, me puxando para o seu colo e me prendendo com força em seu abraço. – Me solta! Eu estou falando sério aqui e você só fica debochando de mim!

-Calma, meu anjo, não estou debochando de você. – Passou a nos embalar de um lado para o outro, acariciando meus cabelos e beijando meu rosto. – Shh... Camz, só me abraça e fica quietinha, ok? Você está tremendo de nervoso, estou ficando preocupada. – Continuou me beijando com carinho, até que me rendi e abracei seu pescoço, enfiando minha cara em seu ombro e deixando as lágrimas fluírem. – Shh... Vai ficar tudo bem... Respira, linda. Por favor, se concentra em respirar. – Pediu angustiada.

Sempre achei super brega, cafona e imaturo quando a mocinha(o) rompia com o mocinho(a) nos livros e filmes por motivos de '' eu não te mereço, você poderia encontrar alguém melhor ''. Posso até ter acabado de tentar usar essa justificativa merda para acabar com meu namoro, mas em minha defesa, não tenho me sentido muito como eu mesma esses dias. Estou mais para uma telespectadora, assistindo a trama da minha própria vida se desenrolar sem conseguir fazer nada para mudar o rumo que as coisas estão tomando. Há pouco tempo atrás, cheguei a pensar que o controle do destino ficava em nossas mãos, e as escolhas do presente definiriam o futuro. Não que a afirmativa tenha deixado de ser verdadeira – pelo menos não totalmente – , acontece que essa perspectiva de controle é só uma mentira reconfortante que contamos a nós mesmos, no final de tudo, não sabemos que porra está guardado para nós, e o que tiver que acontecer, não importa o que seja, vai acontecer, independente dos nossos esforços para impedir.

Tongue TiedOnde histórias criam vida. Descubra agora