The World's End

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Com quem você gostaria de estar, no momento em que o mundo fosse acabar?

-Você entende de sociologia? – Lauren voltou a puxar assunto depois de abaixar o rádio.

-Só o básico. – Respondi sem tirar os olhos da estrada. – Por quê?

-Supondo que eu comece a nadar junto com os golfinhos e passe a agir feito um golfinho. Isso quer dizer que eu também vou ser um golfinho?

-Amor, não me faz rir assim se não capoto com a Kombi. – Segurei firme no volante, tentando conter o riso para não sair com o veículo para fora da estrada.

-Estou falando sério. – Ela não estava falando sério. – Se eu começar a viver com os golfinhos e sair espalhando por aí que sou um golfinho, isso vai ser exótico ou configurado como apropriação cultural?

-Não faço ideia de como você chegou a essa linha de raciocínio, mas apostaria em apropriação cultural.

-Adoro como você sempre busca entender minhas paranoias. – Lauren se aproximou de mim, beijando minha bochecha para depois repousar suavemente sua cabeça em meu ombro e iniciar um carinho em minha coxa.

-Será que o Jimin do BTS faria o mesmo?

-Nossa, você não esquece isso, hein? Foi só uma brincadeira, desencana!

-Toda brincadeira tem fundo de verdade. Você quem provocou, agora aguenta. Vou jogar isso na sua cara em toda e qualquer oportunidade. – Virei rapidamente meu rosto para devolver o beijinho que ela me deu. Senti seu sorriso em meu pescoço e acabei sorrindo também. Aquilo era bom. – Trairagens a parte, sua sorte é que eu também adoro como você busca entender minhas paranoias. Mas se eu te pegar ouvindo o novo álbum deles, vou considerar como adultério e te largar. – A gringa ameaçou um riso, mas o engoliu quando percebeu que eu falava sério.

-Ai Camila, você é ridícula. – Tenho certeza que ela revirou os olhos. – Olha, sua banda preferida está tocando! – Aumentou o volume do rádio até o talo, me deixando emburrada com a porcaria que estava sendo obrigada a ouvir. – WOAH, WE'RE HALF WAY THEREE, WOOAH LIVIN' ON A PRAYEER, TAKE MY HAND, WE'LL MAKE IT I SWEAR, WOAAH, LIVIN' ON A PRAYEER.

Neguei com a cabeça, mais achando graça do que tudo de seu desaforo. A cena me agrada bastante. A noite está gelada, causando um leve nevoeiro na estrada de terra. A lua está escondida por trás das nuvens; sendo os faróis da Kombi os únicos a iluminarem o caminho escuro. A música é uma merda, mas gosto de Lauren coladinha assim em mim, sorrindo até não poder mais por achar que está me fazendo raiva.

Ela não sabe ainda para onde estamos indo, é uma surpresa. O bom é que é fácil deixa-la feliz, Lauren gosta de praticamente tudo que faço para ela, mas quero que hoje seja especial. Lucy é dona de uma porrada de carros e concordou em me emprestar esse. Eu não a conhecia nessa época, mas diz ela que no fim do ensino médio, decidiu largar o mundo capitalista para viver como uma hippie, eis então o motivo de possuir uma Kombi toda personalizada, modelo bem diferente de seus outros carros de luxo. Desistiu da ideia assim que percebeu que aplaudir o sol não pagava o ingresso para o Tomorrowland. Trágico. O nosso combinado foi o empréstimo em troca da localização de Keana. Ao que parece, Lucy tomou gosto mesmo por esse negócio de perseguir as pessoas, e minha cunhada é a vítima da vez. Tudo começou no meu aniversário, há mais de um mês atrás, naquela escapulida que elas deram para um canto escuro. Keana jura que elas não fizeram nada, enquanto Lucy jura o contrário. Acredito mais na minha amiga, Keana é a maior mentirosa. O fato é que desde então Lucy tem tentado captura-la (?) e a outra tem se escondido nas sombras como pode. Desconfio que Lucy tenha até mandado construir um cativeiro subterrâneo em sua mansão, mas Keana está merecendo. Ela fica espalhando tudo que a gente fala perto dela em troca de coisas estranhas.

Tongue TiedOnde histórias criam vida. Descubra agora