Depois de muito quebrar a cabeça, finalmente um fechamento digno para cena que estava escrevendo me vem a mente. Empolgada, volto minha atenção para o notebook, pronta para colocar a ideia em palavras. Só que, pela décima quinta vez na tarde, uma crise de tosse irrompe pela minha garganta, me obrigando a parar o que estava fazendo. Levo as mãos ao pescoço, acariciando a área na tentativa de aliviar o incômodo descomunal que cada espirro causava. Merda de gripe!
Quando a crise passou, tentei voltar a cena, mas esqueci totalmente o que ia escrever. Droga! Com os olhos marejados e embaçados de cansaço, miro o brilhante e ensolarado céu azul acima de mim. De acordo com a minha experiência, não existe nada como uma paisagem bonita para inspirar alguém a criar algo feliz. Foi com essa filosofia em mente que decidi subir para o terraço do prédio e admirar Nova York em um dia de sol. Ultimamente eu tenho sido um eterno céu nublado e é difícil escrever sobre o amor estando nesse estado. Bom, talvez tivesse funcionado, se a porra da gripe tivesse deixado!
Bufo frustrada, conferindo as horas. Hora de descer! Embora não tivesse avançado nem uma linha, logo o sofá novo que encomendei chegaria e eu precisava estar em casa para receber. Junto minhas coisas e vou me arrastando escada abaixo. Estava tontinha, chapada de exaustão. Mas fazer o que? É a vida!
No maior desânimo do mundo, abro a porta, e quando levanto a cabeça, tenho uma surpresa enorme e bem desagradável.
Ocupando o espaço onde o antigo sofá costumava ficar, três figuras me encaravam com expressões sérias embaixo de uma faixa que dizia:
'' INTERVENÇÃO ''
-Ah não! – Reclamo, fechando a cara para deixar bem claro que odiei a palhaçada. – Que sacanagem, que deselegância, que falta do que fazer, hein? – Cruzo os braços, olhando feio, respectivamente, para Troye, Dr. Hamilton, e o cara esquisito comendo um sanduíche de mortadela. – Ei, quem diabos é você?
-Hum? – O homem tira a atenção do seu lanche, me olhando em dúvida.
-Você, quem diabos é você e o que está fazendo aqui?
-Ah, eu sou o Josh! – Acena com um sorriso. – É que eu vi a porta aberta e entrei. – Explica na maior naturalidade e meu queixo cai em horror.
-Vaza daqui!
-Ihh, grossa. – Leva a mão ao peito, ofendido. – Posso ao menos levar o ketchup?
-Não, sai!
Rebolativo, o homem pegou o ketchup mesmo assim e foi embora. Me volto para os outros dois, furiosa.
-Além de invadir a minha casa, ainda deixam um estranho entrar e roubar as minhas coisas? – Rio sarcasticamente. – Ai, intimidade é uma merda mesmo.
-Camila, estamos preocupados com você. – Troye toma a frente.
-Eu sei, e já disse mil vezes que não precisa. – Esfrego os olhos, tentando me manter acesa o suficiente para não desmaiar. – Eu estou ótima, maravilhosa, perfeitamente bem!
-Não está não! Ou você acha que o Mark te deu espontaneamente uma semana de folga porque é bonzinho? Meu anjo, você está um horror e qualquer um vê isso.
-Ah é? Pois fique sabendo que fiz como pediu e fui ao médico. E adivinha? Ele disse que eu estava bem!
-Ham, eu não disse isso. – Dr. Hamilton interveio. – Na verdade, disse o exato oposto. – Reviro os olhos, adotando minha melhor expressão de tédio. – Camila, você está com anemia, falta de todas as vitaminas, pressão alta, artrose, gastrite, bronquite, enxaqueca crônica, desgaste no joelho esquerdo e uma unha encravada. Sem contar que apresenta indícios de depressão, febre e um início de pneumonia.
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Tongue Tied
Romance''Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fo...