Por que ela não se importa?!

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  Eu corria toda estabanada pela calçada lotada. Minha bolsa estava aberta e eu lutava para não deixar nada dentro dela cair enquanto tentava vestir a blusa do time sem parar de andar. Sorte a minha que o esbarrão é cultural em Nova York, se não já teria arrumado problema por estar, mesmo que sem intenção, tropeçando loucamente em todo mundo.

Puta merda, a Lauren vai falar horrores na minha orelha, já até imagino.

E dessa vez sou inocente, calculei a hora certinho, a culpa é toda do atraso do médico!

Realmente, eu não tenho sorte com terapeutas. Desde que decidi procurar ajuda para controlar as crises de ansiedade, já passei por vários, e não dei certo com nenhum. Está claro para mim que alguém está errado nessa história, e eu tenho 60% de certeza que não sou eu!

Se tratando de adultos, na maioria esmagadora dos casos, a pessoa não procura um profissional interessada no tratamento, mas sim nos remédios. Não que eu seja contra o uso de medicamentos, é só que, especificamente em casos como o meu, as pílulas ajudam, mas não são capazes de atacar a fonte do problema.

No começo eu era meio iludida e não aceitava muito bem que não existe uma cura definitiva para ansiedade, por isso não dei certo com os primeiros terapeutas que procurei. Agora estou conformada com esse fato e quero seguir com a terapia a longo prazo, entretanto, ainda não achei um profissional que me faça sentir confortável e segura para isso, então continuo migrando.

Harry vive dizendo que eu deveria sossegar logo com um pois a confiança vem com o tempo e estou desperdiçando o meu toda vez que decido trocar em menos de dois meses. De certa forma concordo com ele, estou nessa há três anos e não tive grandes avanços, e entendo que muito em razão de interromper um trabalho que necessita de continuidade para funcionar. Sigo sofrendo de ansiedade, embora nunca mais tenha tido crises nem sequer parecidas com aquela em Los Angeles.

Porém, que culpa eu tenho de não ter ido com a cara de ninguém que me atendeu até então?! Como ele espera que eu tenha animo para vir conversar toda semana, ao longo de anos, com alguém que meu santo não bateu e ainda ter que pagar por isso?! A simpatia não vai nascer do nada, e sei que vou ficar implicando com a pessoa em pensamentos e depois me sentir mal por isso. Estou a ponto de desistir!

De todo jeito, não sou desleixada com o assunto como era antes e, embora tenha me recusado a tomar os remédios controlados, tenho feito outras coisinhas para me manter bem e melhorar.

E sobre meu terapeuta atual: vou largar mesmo. Se tenho a opção de trocar, por que não faze-lo, não é? Aprendi isso com a mãe da Lucy em uma conversa sobre seu sétimo divórcio litigioso.

Depois de muitos devaneios, xingamentos e tropicões, finalmente avistei a bendita placa do motoclub. Parei um segundo para vestir o colete e retomar o folego, só então atravessei a rua rumo a entrada, torcendo muito para que o jogo não tivesse acabado.

Alcancei o salão principal toda esbaforida e pronta para anunciar minha presença de forma escandalosa, porém, parei ao ver que o cenário a minha frente não era exatamente o que eu imaginava.

Normalmente isso aqui vira uma zona quando a Juventus tem jogo importante. Todo mundo vem, mesmo quem torce para outro time ou não entende nada de futebol, seja para beber ou só para implicar, mas hoje, muito estranhamente, não é isso que vejo.

Para começar, o telão está fechado, não tem ninguém trabalhando na cozinha e o espaço está quase todo vazio. Ao que tudo indica, alguma coisa aconteceu e a reunião foi cancelada. Isso por si só já é estranho e atípico, mas estou sinceramente assutada com a moça vestida de noiva chorando de modo horroroso montada no touro mecânico. Que porra é essa?! Demi, que faz parte de outro motoclub mas só fica aqui, parece tentar consola-la, enquanto o filho da puta do Justin, ri sem nem disfarçar da pobre da menina.

Tongue TiedOnde histórias criam vida. Descubra agora