Capítulo 11

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Natalie

Embora breve, o tempo na Bélgica foi proveitoso para os negócios de Edward. Os advogados estudaram propostas e contratos. Os responsáveis pelas aquisições tiveram reuniões com a equipe de integração e eu tive um brunch com Edward e os representantes da rede. Maryanne passeou um pouco sozinha pela cidade e mandou fotos para mim e Logan o tempo todo.

Depois do jantar em que ela foi oficialmente apresentada às esposas de dois colegas, elas combinam de andar juntas pela Grécia, nosso destino assim que amanhecer. Fico feliz por ela estar aproveitando. Eu não posso dizer o mesmo. Pensar em solidão e no escasso tempo da minha mãe me fez dormir mal e pouco. Eu vivi um pesadelo lúcido.

Sonhei com a partida da minha mãe, sendo acordada num susto e com a nítida sensação de que era tudo real. Minha cabeça azedou meu humor. Falar sobre isso com Mare é frustrante. Embora ela saiba o quanto minha mãe significa pra mim, sua personalidade otimista tem sempre um conselho como "vai ficar tudo bem". Mas este conselho não serve pra mim neste momento.

Além disso, me deparar com Brad distribuindo sorrisos a mulheres aleatórias terminou de corromper meu humor. "Está com ciúmes?". É lógico que eu estou com ciúmes e isso me atordoa mais ainda. Eu estou insistententemente pensando, desejando, alucinando com um homem que já saiu com a cidade inteira, com a empresa inteira.

As garotas da EP Morgan comentam seu jeito, suas artimanhas, o bom humor e a forma como ele age o tempo todo no escritório, me convencendo que Brad é o pior tipo de homem para gostar. E aqui estou eu, desenvolvendo um ciúme bem infame pelo sujeito.

Se estivesse em casa eu tomaria um porre e tiraria dois dias de folga para autocomiseração, internada no apartamento de Logan. O homem é escritor, ele entende de dramas e inefabilidade melhor do que ninguém. Mas não estou em casa. Estou num hotel com um monte de gente estranha e sentimentos confusos. Bruxelas é incrível pelo que vi da janela do carro, mas nem isso anima meu espírito.

E confuso também é o adjetivo perfeito pra definir o que Brad Kensington causa em mim quando me trata como um esquizofrênico o tempo todo. Ele é gentil e acessível em determinados momentos, puxando cadeiras e fazendo elogios. Em outros está passando reto por mim agarrado em morenas lindas e quentes.

Estávamos bem como "piores amigos" ou "melhores inimigos". Interferir na nossa dinâmica, conversando seriamente sobre quem somos, foi um erro crasso. A verdade é que eu não deveria me sentir afetada, ou até mesmo magoada por ele trocar minha companhia por sexo com qualquer mulher. Mas eu me sinto, e isso me dá ainda mais raiva.

Eu só queria que ele continuasse sendo um babaca, mas quando ele me abraça longe dos olhos das outras pessoas, eu choro em seu colo, triste e irritada. Quero falar que estou com medo pela minha mãe e muito brava com ele. Mas não consigo me abrir neste nível com alguém que no minuto seguinte pode fingir que não existo. Eu nem lembro quando chorei pela última vez, mas me deixo vulnerável nos braços de Brad, numa escadaria de hotel, só porque não consigo mais esconder que não estou bem.

Ele é bem legal no fim das contas, mas depois deste meu momento de fragilidade, volta a agir estranho comigo me ignorando durante a noite inteira. Me evitando visivelmente.

Eu o vejo dispensando a garota da academia em frente ao elevador e sorrio malvadamente por dentro. Sei que teria ficado ainda mais arrasada se visse Brad com a girafona de cabelo negro. Quero dizer-lhe "Obrigada por não ter provocado mais meu juízo desfilando com a espanhola por aí.", mas soaria tão presunçoso quanto ele mesmo. Então eu só me rendo à vontade de abraçá-lo novamente, como nesta manhã, e me encosto nele dentro do elevador entupido de gente.

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