Capítulo 4

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Brad

Natalie Parker é um pesadelo insistente e apavorante. Sua influência em tornar Edward um homem adepto à caridade é a razão dos meus cabelos brancos e da minha crescente ansiedade. É por causa dela que eu preciso pensar na porra do Caribe e em mergulhos com o Nemo antes de dormir. Ela é intrigante e eu jamais vou entender por que ela quer associar Edward Morgan a atividades filantrópicas. Ele tem uma moral questionável, talvez sejam as amantes e as noitadas que a fazem impulsioná-lo a tentar salvar sua alma de algum jeito.

Desde que Natalie virou sua relações públicas, Edward tem mostrado mais a família e aparecido em revistas como o homem do ano. Isso melhorou os negócios, trouxe uma boa movimentação financeira, que ela usa sempre pra detonar meus argumentos contra ela. Eu vou ter que ceder, e colocar meu time pra trabalhar em contratos, cálculos tributários e fechamentos insanos de movimentação financeira, só porque ela achou que ele devia investir num hospital.

– Não fique tão triste, Kensington. – ela sorri e eu não consigo evitar em pensar que ela se diverte com meu sofrimento, ela é mesmo um pesadelo disfarçado de mulher.

– É difícil discutir com você quando parece que estou indo contra crianças doentes.

– Não só parece, você realmente está, Brad. Deus abençoe sua pobre alma. – ela adota um tom solene e debochado.

Me convença a ser mais caridoso durante o almoço.

Ela franze o cenho e eu penso que ultrapassei qualquer tipo de limite, parece que estou convidando Natalie pra sair comigo, num encontro. Tento consertar antes que ela possa recusar.

– Pra discutir seus planos, obviamente.

– Então meus olhos não tem nada a ver com esse convite? – ela é muito sagaz, e aqui estou eu, de predador a presa em dois segundos.

– Embora eu admire a palidez dos seus olhos, pra mim é o seu cabelo que realça seu charme. – a vejo corar levemente. De presa a predador novamente.

– Vai precisar mais do que um elogio ao meu cabelo pra me convencer a sair com você, Brad.

Me levanto da cadeira e ela eleva o rosto pra continuar olhando pra mim. Dou um passo pro lado, bem de frente ao seu corpo pequeno e esguio, com um sorriso que ela sempre chama de "canalha e indecifrável" e seu rubor aumenta. Natalie dá uma vacilada quase imperceptível, pegando o ar com um pouco mais de força. Se eu não estivesse atento a ela tão profundamente, não teria notado que ela precisou abrir um pouco os lábios pra soltar o ar.

– Eu não te deixo nenhum pouco curiosa?

– Não tem nenhum mistério em você, Kensington. – ah, voltamos ao chamamento pelo sobrenome. – As garotas do escritório já me disseram tudo que eu poderia querer saber sobre você.

– Fofocas, Natalie. Você não pode acreditar nelas. – desdenho.

– Quer dizer que aquela ruiva da contabilidade foi generosa demais ao falar das suas habilidades? – ela afasta as mãos generosamente e eu sorrio sem graça, mas ajusto as mãos de Natalie próximo ao tamanho real da minha "habilidade".

Ela levanta as sobrancelhas e sorri maliciosamente.

– Almoço, Natalie. Inocente, com pessoas ao redor e num lugar público. É melhor do que comer uma salada patética sozinha na sua mesa.

– Pegue seu talão de cheques e seja generoso. – ela relaxa um pouco o corpo.

– Vai me cobrar pela companhia?

– Não, seu idiota, vou te cobrar pelo ingresso no baile de caridade no sábado.

– E quanto ao almoço?

– Mesmo que você não fosse um galinha, eu não me arriscaria a gerar mais rumores dentro desta empresa, então não.

– Galinha? Você tem o quê? Quinze anos? – dou uma gargalhada sincera.

– Não tenho nada contra promiscuidade, não me leve a mal.

– Você só tem algo contra mim?

Ela ajeita a minha gravata com suas mãos pequenas e reparo nas sardas em seu rosto. Nossa proximidade é gostosa, como se fizesse algum sentido que continuássemos inventando motivos para alguns toques entre nossas peles. Ela me arrepia com seu cheiro fresco e eu preciso controlar um impulso de encostar meus dedos em seu rosto.

– Eu não tenho nada contra você, Brad. Apenas não me relaciono pessoalmente com colegas de trabalho.

– Nem eu, bonequinha. Eu só durmo com as colegas. Nada de relacionamento. – pego meu terno da cadeira e rumo para a porta. – Vou pedir para te entregarem o cheque. E vou ser generoso. – afasto as mãos mostrando um tamanho imaginário como ela fez anteriormente. Natalie ri e me mostra o dedo do meio.

Eu tenho absoluta certeza que eu e ela faríamos bebês incrivelmente lindos se não fossem pequenos detalhes como nossas promiscuidades, nossas políticas pessoais de relacionamento e a forma fugaz como nos cutucamos.

Embora eu a tenha convidado pra comer, realmente não tenho segundas intenções com ela. Nossa tensão mútua é sexy e controlada. Caso algo acontecesse entre nós só serviria para estragar isso e criar um clima terrível entre nós. Eu tenho experiência nestes casos onde uma transa pode corroer um bom relacionamento em minutos.

Se eu adoraria ver Natalie Parker derreter de encontro com minha língua? Absolutamente. Se eu gostaria de entrar em seu corpo lentamente e ouvir sua voz gemendo qualquer palavrão no meu ouvido? Lógico. Fico quente e meio zonzo só de imaginar isso. Mas ela é minha figura mítica preferida. Sendo assim, acho que a Parker que eu imagino e idealizo é muito melhor do que a realidade, e não vale o incômodo.

Edward me liga e é com ele que saio para comer. Num restaurante bem mais caro e mais formal do que eu pretendia ir, ele nem disfarça os galanteios com a garçonete, que ruboriza e recebe uma gorjeta grande. Como eu suspeitava, Edward pretende ceder ao projeto de Natalie, e já me pede para adiantar o trabalho da minha equipe.

Tudo isso junto com seu plano de aquisições de uma rede de hotéis pela Europa. É, a pedra no meu sapato tem nome, sobrenome e uma personalidade vibrante e determinada. Não gosto de dar ouvidos aos boatos, mas chego a me questionar se Edward não é tão sensível a ela por motivos não tão nobres quanto a caridade.

– Caribe... – digo a mim mesmo depois de um longo suspiro.

– Ótimo destino. Estive lá com Hillarie. – Edward termina o cálice de vinho do porto.

– Vou todas as noites. – respondo ironicamente e Edward me mostra uma foto de manchete de um jornal online.

– Está vendo o que diz ali, Brad?

– "Edward Morgan é responsável pelo crescimento da participação de suas empresas em mais de 10 países nos últimos 3 anos." – leio em voz alta, mas na verdade meu foco se desloca para a foto onde atrás do patrão posso ver Natalie sorridente.

– Eu sou o responsável? – a resposta óbvia não é a mais correta neste caso. – Natalie é a responsável, Kensington. E todo o resto da equipe que trabalha muito, logicamente. Mas é ela.

– Eu sei, Ed. – uma pedra irritante no meu sapato, mas da qual não vou me livrar.

– Não odeie a garota por ser incrível no que ela faz.

– Este é o problema, Ed. Eu não odeio. Eu adoro Natalie. Se chegar o dia em que eu não puder ser o Tom no seu desenho favorito, vou perder metade da motivação em trabalhar. – sorrio terminando meu vinho também.

– E ela é o rato esperto?

– A começar pelo tamanho, obviamente, e por não ter o menor pudor em me humilhar e me fazer correr inutilmente e como um trouxa atrás dela.

– Somente profissionalmente? – ele dá um sorriso malicioso.

– Claro. – digo prontamente.

Eu e Natalie temos uma interação ótima. Como Tom e Jerry. 

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