Capítulo 40

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Brad

Dizem que a vida passa toda diante dos olhos na iminência da morte. Eu vejo especialmente minha mãe em uma fração de segundos e todas as coisas que ela me ensinou vêm à tona como se eu ainda fosse um garotinho assustado com o futuro imprevisível. Parece que eu vou mesmo morrer, mas estou só tendo um princípio de ataque ou surto que faz um barulho agudo e contínuo no meu ouvido e me causa uma dor no peito.

Minha vida toda em segundos depois que Anna Parker diz "Porque seu filho, ou filha, nascerá em abril.".

Eu sempre quis uma família, mas minha imaginação era mais generosa. Eu me casaria com uma garota bem ajustada e que me amasse como talvez Izabel ama Weston. Teríamos primeiro um cachorro e se ele sobrevivesse aos primeiros dois anos, pensaríamos em um filho, quem sabe dois. Tudo bem, dois. Até mesmo porque não acho que eu vou conseguir ser pai uma vez só. Parece algo bem incrível pra se fazer uma vez só.

Compraríamos uma casa suburbana, longe da agitação de Nova Iorque e eu poderia trabalhar menos, quem sabe de casa em alguns dias, pra poder ficar perto da minha família. Eu sou um galinha, eu admito, embora odeie quando Natalie me chama assim, mas eu nunca me apeguei a ninguém. Analiso agora que meu sonho de família era mais importante do que a pessoa para me ajudar a realizá-lo.

Agora o "quem" é só o que importa e lá está ela, realizando a porra do meu sonho em outro continente.

Não lembro como desliguei o telefone, talvez eu tenha desligado na cara de Anna, talvez eu tenha murmurado em choque qualquer palavra, sinceramente é um pesadelo bem lúcido tentar entender o que Natalie está fazendo comigo. Eu levanto e abro a porta.

– Bruno, eu vou pra Gênova hoje.

– Hoje?

– Eu não disse hoje?

– Disse.

– Então! Hoje. Eu preciso ir pra Gênova. Não é hoje, é agora!

– Ok. – ele digita rapidamente qualquer coisa no computador. – Tem uma passagem para Gênova às três horas, você chega lá amanhã pra almoçar, com uma parada em Munique.

– Vamos. – digo voltando pra dentro do escritório pra pegar meu casaco.

Bruno me olha sem entender muita coisa, especialmente porque dirijo como um maníaco pra chegar ao aeroporto enquanto ele reserva e paga minha passagem pelo celular.

– Devo marcar a volta, Sr. Kensington?

– Não. – dá gosto de ver minha assertividade. Natalie não me tira da Itália nem com um decreto parlamentar.

Bruno não pergunta mais nada, eu deixo o carro ligado e com as chaves pra ele ir embora, e corro para o portão de embarque. Sei que estou agindo num impulso, loucamente, mais uma vez indo atrás de Natalie. Mas e daí? Desta vez não é por ela. Desta vez é pelo filho ou filha que nascerá em abril.

Merda, só pensar nesta frase me dá um formigamento na face, parece que estou prestes a ter um derrame que nem mil anos no Caribe seria capaz de curar desta vez. Eu fico repassando o que dizer a Natalie.

Quero falar sobre a atrocidade que ela fez em engravidar e fugir pra outro país. Penso em como será nossas vidas com um bebê, já que eu não posso mudar pra Itália antes de resolver toda situação do meu emprego e imóveis em Nova Iorque. Por outro lado, não quero estar longe do meu filho. Que filho? É uma menina, tenho certeza que é.

Meus pensamentos correm numa velocidade absurda, eu mesmo quase não os acompanho. Eu só quero gritar com Natalie. Muito. Só que eu tenho medo de gritar com Natalie. Se o bebê sentir que eu sou um homem ruim ele não vai gostar de mim. Eu quero que minha filha goste de mim. Eu lembro do sorriso de Natalie nos meus braços e a odeio, mas isso só me faz amá-la mais, como prometi à sua mãe.

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