Natalie
Depois de visitar minha mãe no domingo e tentar evitar todos os tipos de conversas sérias ela cede ao silêncio e fica apenas observando meu comportamento esquivo. Jogo cartas com ela e Cal, toco um pouco de piano na sala de visitas, revisito meu quarto de adolescente e separo algumas fotos pra levar embora. É como se o tempo todo eu precisasse distrair a cabeça, entrando num transe voluntário que me faça não dar brechas às perguntas dela.
Mesmo me escondendo, resolvo ficar mais porque Maryanne saiu novamente, levando a sério a ideia de exorcizar Edward de sua vida usando outros homens. Depois do jantar eu recolho minhas coisas e dou um beijo na minha mãe, achando-a um pouco mais magra. Não consigo definir se ela realmente emagreceu ou se minha visão mais deprimida das coisas me convence que ela pode estar piorando.
– Por favor, se cuide. – peço num abraço.
– Eu posso pedir o mesmo a você, Natalie? – sua voz é preocupada.
– Pode, mãe. Eu estou me cuidando.
– Conversou com ele? – foi por bem pouco que eu não escapei da conversa sobre Brad. Reviro os olhos.
– Eu nem quero falar com ele, mãe. – não tenho por hábito mentir pra minha mãe. Mas não quero entrar no assunto que vai me fazer chorar novamente como durante o sábado todo.
– Natalie, você tinha medo de monstros no seu armário e debaixo da cama, como toda criança. Um dia você construiu armadilhas pelo quarto inteiro, que quase fizeram Calvin quebrar uma perna. Se lembra disso?
– Lógico que sim. – dou uma risada boboca. Na época não foi tão engraçado e fiquei de castigo um bom tempo.
– Você preferiu encarar seus monstros do que viver com medo, mocinha. Eu me recuso a acreditar que a Natalie com 10 anos era mais corajosa do que a Natalie de hoje. Onde está aquela menina? – ela fala com todo carinho do mundo.
– Porra, mãe. – a lição de moral ainda não desce pela minha garganta.
– Olha a boca! Eu te amo demais pra te ver errando tanto, Naty. Faça alguma coisa, construa armadilhas, mas encare o que você sente.
Sorrio enquanto ela arruma meu moletom. Nem é pra tanto, já que a temperatura é alta, mas ela sempre fez isso antes que eu fosse pra escola quando era pequena. Me sinto denovo como a garotinha que ela ainda exerga em mim, exceto pela parte de ser bem corajosa, e sinto falta do tempo em que meu maior dilema era comer um ou dois quadradinhos de chocolate antes do jantar.
– Faça alguma coisa! – ela ainda grita da porta conforme me afasto pela rua.
Vou meio dormente pelo caminho, sem conseguir ler o livro que Maryanne me emprestou nem mesmo no trem. Saí um pouco tarde de Newport e até me sinto sonolenta. Na estação de metrô há um casal em plena demonstração de afeto, entre beijos. O universo não poderia me castigar mais evidentemente. Eu respiro fundo e analiso minhas opções. Francamente estou cansada de ser esta figura patética. Eu nunca obedeci ordens nem da minha mãe, por que estou obedecendo Kensington?
Então puxo o celular do bolso da calça jeans e faço uma ligação para minha assistente.
– Bren, desculpe incomodar seu domingo, mas preciso do endereço de Brad Kensington.
– Claro. – ela é prestativa como sempre.
Em dois minutos o endereço pisca na tela do celular. Pego a direção oposta do metrô que iria para minha casa.
O prédio de Brad é moderno e elegante, com uma fachada em vidro e mobília avant garde. Destoo completamente do ambiente de tênis, roupas casuais e cabelos desgrenhados. Pareço exatamente como me sinto, uma bagunça. Venho destoando da ideia que eu faço de mim mesma desde Santorini, eu não me reconheço, mas sei exatamente o que eu quero, mesmo que isso complique bastante as coisas.
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Cosmopolitan
ContoNatalie é uma mulher forte e decidida, cosmopolita e dona de suas próprias regras. Quando ela percebe que não consegue controlar absolutamente tudo, vai ter que descobrir até onde suas leis podem ser dobradas em nome do que realmente importa na vida...