Capítulo 21

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Natalie

Depois de visitar minha mãe no domingo e tentar evitar todos os tipos de conversas sérias ela cede ao silêncio e fica apenas observando meu comportamento esquivo. Jogo cartas com ela e Cal, toco um pouco de piano na sala de visitas, revisito meu quarto de adolescente e separo algumas fotos pra levar embora. É como se o tempo todo eu precisasse distrair a cabeça, entrando num transe voluntário que me faça não dar brechas às perguntas dela.

Mesmo me escondendo, resolvo ficar mais porque Maryanne saiu novamente, levando a sério a ideia de exorcizar Edward de sua vida usando outros homens. Depois do jantar eu recolho minhas coisas e dou um beijo na minha mãe, achando-a um pouco mais magra. Não consigo definir se ela realmente emagreceu ou se minha visão mais deprimida das coisas me convence que ela pode estar piorando.

– Por favor, se cuide. – peço num abraço.

– Eu posso pedir o mesmo a você, Natalie? – sua voz é preocupada.

– Pode, mãe. Eu estou me cuidando.

– Conversou com ele? – foi por bem pouco que eu não escapei da conversa sobre Brad. Reviro os olhos.

– Eu nem quero falar com ele, mãe. – não tenho por hábito mentir pra minha mãe. Mas não quero entrar no assunto que vai me fazer chorar novamente como durante o sábado todo.

– Natalie, você tinha medo de monstros no seu armário e debaixo da cama, como toda criança. Um dia você construiu armadilhas pelo quarto inteiro, que quase fizeram Calvin quebrar uma perna. Se lembra disso?

– Lógico que sim. – dou uma risada boboca. Na época não foi tão engraçado e fiquei de castigo um bom tempo.

– Você preferiu encarar seus monstros do que viver com medo, mocinha. Eu me recuso a acreditar que a Natalie com 10 anos era mais corajosa do que a Natalie de hoje. Onde está aquela menina? – ela fala com todo carinho do mundo.

– Porra, mãe. – a lição de moral ainda não desce pela minha garganta.

– Olha a boca! Eu te amo demais pra te ver errando tanto, Naty. Faça alguma coisa, construa armadilhas, mas encare o que você sente.

Sorrio enquanto ela arruma meu moletom. Nem é pra tanto, já que a temperatura é alta, mas ela sempre fez isso antes que eu fosse pra escola quando era pequena. Me sinto denovo como a garotinha que ela ainda exerga em mim, exceto pela parte de ser bem corajosa, e sinto falta do tempo em que meu maior dilema era comer um ou dois quadradinhos de chocolate antes do jantar.

– Faça alguma coisa! – ela ainda grita da porta conforme me afasto pela rua.

Vou meio dormente pelo caminho, sem conseguir ler o livro que Maryanne me emprestou nem mesmo no trem. Saí um pouco tarde de Newport e até me sinto sonolenta. Na estação de metrô há um casal em plena demonstração de afeto, entre beijos. O universo não poderia me castigar mais evidentemente. Eu respiro fundo e analiso minhas opções. Francamente estou cansada de ser esta figura patética. Eu nunca obedeci ordens nem da minha mãe, por que estou obedecendo Kensington?

Então puxo o celular do bolso da calça jeans e faço uma ligação para minha assistente.

– Bren, desculpe incomodar seu domingo, mas preciso do endereço de Brad Kensington.

– Claro. – ela é prestativa como sempre.

Em dois minutos o endereço pisca na tela do celular. Pego a direção oposta do metrô que iria para minha casa.

O prédio de Brad é moderno e elegante, com uma fachada em vidro e mobília avant garde. Destoo completamente do ambiente de tênis, roupas casuais e cabelos desgrenhados. Pareço exatamente como me sinto, uma bagunça. Venho destoando da ideia que eu faço de mim mesma desde Santorini, eu não me reconheço, mas sei exatamente o que eu quero, mesmo que isso complique bastante as coisas.

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