Capítulo 9

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Natalie

Aos domingos eu visito a minha mãe. Ela mora com meu padrasto em Newport, a uma distância de mais ou menos uma hora de metrô e trem. Eu gosto das caminhadas até as estações, além de poder passar o dia com ela. Sempre fazemos um almoço juntas e chá à tarde. Neste dia quando chego ela está recortando os jornais com fotos onde eu apareço, mesmo que minimamente e sempre atrás de Edward.

Não importa o quanto eu me ocupe em explicar, pra ela eu sou mais importante do que um Sr. Morgan qualquer, e o fato de aparecer nos jornais é o máximo pra ela, mesmo que as fotos da internet tenham melhores resoluções. Dou-lhe um abraço demorado e arrumo o lenço em sua cabeça. Ela batalha contra um câncer há anos, e está fazendo um novo ciclo de quimioterapia. O cabelo nem a incomoda mais, ou melhor, a falta dele, ela sempre foi muito vaidosa, mas creio que aceitou que os cabelos precisavam deixar de ser prioridade. Ainda usa maquiagem pra sair de casa e transformou a necessidade de lenços e chapéus em puro estilo.

Eu a acho a mulher mais corajosa do mundo, sempre sorrindo e planejando as próximas viagens com Calvin, o homem que está em nossas vidas desde quando eu era muito pequena e o mais próximo que tenho de uma figura paterna. A verdade é que a incerteza sobre a existência do futuro a impulsiona a fazer mais e mais planos. Como se ela pudesse apagar a doença com otimismo e felicidade. Eu procuro não pensar no pior. As coisas mudam o tempo todo na medicina, certo?

É pela minha mãe que eu dispendo tanto tempo tentando convencer Edward a investir em pesquisa de saúde e novos hospitais. Logicamente ele não sabe disso, mas grande parte dos meus esforços estão concentrados em financiamentos de pesquisadores de saúde e hospitais modernos.

– Natalie, eu não estou ficando mais jovem, quando é que você vai me apresentar um namorado decente? Logan foi minha última esperança, e francamente, já faz anos. – ela diz guardando os recortes de jornal.

– Eu me formei entre as primeiras da classe, tenho um emprego excelente e você só consegue pensar na ausência de um homem na minha vida, mãe. Estou decepcionada. – a ajudo a se levantar da cadeira.

– Eu não ligaria para o homem, querida. Se ele não fosse necessário pra fazer um neto pra mim.

Faço uma pausa calculada. A conversa sobre netos é inesperada e bastante irritante, mas eu sei exatamente de onde ela vem.

– Mãe, nada dessa chantagem sobre não saber quanto tempo resta. Sei que você não é assim.

– Natalie, eu acho você ótima, sério, mas solitária demais. Você gosta de garotas?

Eu gargalho. Já tive algumas experiências nesse sentido, mas nenhuma que a minha mãe precise saber.

– Não, mãe. Eu gosto de garotos. Ok? Chega desse assunto.

Ela chacoalha a cabeça divertidamente e começa a preparar as coisas para nosso almoço, tento aprender seus segredos culinários em todos os finais de semana, porque honestamente, ninguém cozinha como Anna Parker. O dia é gostoso e cheio de conversas sobre os outros membros da família. Aquelas primas com filhos e vidas suburbanas que eu não invejo nem de longe.

Contudo, quando vou embora, não consigo não pensar em tudo que ela me disse e na imagem que tem de mim. Uma pessoa solitária. Ela me disse uma vez que sabia que os pais deixam de ser quem melhor conhecem os filhos. Os substituímos gradualmente por amigos, construímos segredos que escondemos deles até que sejam meros expectadores de nós. Pode ser que seja verdade, mas eu não quero que ela se sinta excluída da minha vida, embora não tenha nada de novo para dividir com ela. Deve ser por isso que ela acha que estou num marasmo pessoal.

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