Capítulo 15

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Natalie

Arrumo as malas para mais uma viagem e não consigo parar de reviver meu dia, especialmente quando cheiro o burrinho de pelúcia. Brad o carregou pra mim, então o perfume . Olho no celular a foto do cachorro fantasiado de burro e rio sozinha. Não quero me despedir de Santorini tanto quanto não quero me despedir das duas pessoas sorridentes na foto, mesmo sabendo que elas devem ficar em Santorini. Tenho ressalvas com a forma que me sinto e uma preocupação imensa com o tipo de interação que vou ter com Brad daqui pra frente. Contudo, ele não teve muito problema em recusar ficar comigo esta noite. Eu o queria comigo, mas foi melhor assim.

"Eu não quero me despedir de você.", ele disse logo após eu deixar implícito que ele podia ficar comigo em vez de ir ao bar. Parece que voltamos rápido à nossa antiga dinâmica quando ele me evitava com habilidade. Na hora doeu um pouco. Mas eu preciso ser mais esperta que isso. Ele me chama de boneca, e isso é esclarecedor. Eu sou um brinquedo para Brad.

Não é de todo ruim, eu me diverti bastante e eu mesma disse que não dormiríamos mais juntos depois do fim de semana grego. Mas ainda estamos no domingo e ainda em Santorini, e ele já correu de mim antes que eu pudesse correr dele.

– Pare de remoer isso, Natalie. – digo em voz alta, me comandando a colocar na prateleira as lembranças com Brad.

Maryanne some. Ela não volta pro quarto mesmo depois que a madrugada chega. Pelo jeito ela e Edward gostam de despedidas. Trabalho um pouco com meu laptop no colo, Barcelona será o destino mediano em dificuldade para o projeto de aquisição de um hotel em Poblenou, um bairro miscigenado de arquiteturas modernas e casas residenciais antigas. Isso me distrai até que o celular vibra. Logan está algumas horas atrasado devido ao fuso, ele deve estar pronto pra dormir, já deitado.

Conto sobre a Grécia e as aventuras de Maryanne, se arriscando a fazer sexo casual. Ele quase não acredita que estamos falando da mesma pessoa que ele conhece há anos.

"E o que você acha disso?", ele pergunta colocando uma carinha pensativa depois da interrogação.

"Estou decidida que Santorini é um outro mundo, e nada do que acontece aqui vai se perpetuar quando sairmos. Maryanne voltará a ser romântica e não devassa. Eu voltarei a ser devassa e não romântica e tudo entrará nos eixos.", respondo com uma risada.

"Você romântica? O que está acontecendo???", ele me faz gargalhar.

"Deve ser algo na água.".

"Não beba mais nada, Naty, por favor. E aconselhe Maryanne. Você sabe que isso não vai dar certo.", Logan tem toda razão, e eu preciso ser uma amiga melhor para Mare.

"Você é quase a voz da minha consciência, Logan. Amo você.".

"Se construímos alicerces fortes na amizade, devemos amar nossos amigos para o bem deles próprios em vez do nosso.", caramba, ele é bom. Eu admiro um homem que saiba encaixar uma citação de Charlotte Brontë em uma conversa casual. Lembrar de Logan aterra meus sentimentos de vez e consigo dormir bem.

Pela manhã, quando Maryanne entra no quarto ainda com o vestido de festa que usou para ir ao bar eu a cumprimento preocupada. Ela sorri como se eu fosse sua mãe, me lançando um olhar sem graça.

– Eu sei que você é adulta e sabe se cuidar, Mare. Eu também não estou te julgando, mas, por favor, tenha cautela.

– Naty, Edward é uma excelente companhia, eu estou apenas me divertindo. Eu sei que é complicado porque ele é seu chefe, mas...

– Não é só por ele ser meu chefe, Maryanne. – a interrompo. – Ele é casado.

Vejo a expressão de Mare se modificar. Obviamente ela sabe que ele é casado, mas ninguém, nem mesmo ela, tinha falado isso em voz alta ainda. Sua decepção consigo mesma me dá uma pontada no estômago. Eu sei que ela não é o tipo de garota que curte sexo casual, nem o tipo que não espera um telefonema no dia seguinte. Edward não é um cara que vai cumprir com as expectativas dela. Seu semblante é de culpa e arrependimento, mas depois de pensar por uns momentos ela me olha decidida.

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