Capítulo 31

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Natalie

Pensar em Brad é inevitável, já era antes de mais uma noite juntos, piorou muito depois de mais uma amostra do que ele é capaz de causar em mim, e ainda piora mais quando o vejo de longe no escritório e em algumas reuniões, as últimas que me disponho a ir. É torturante estar próxima de alguém que eu adoro e ter que engolir meus sentimentos como se fôssemos meros conhecidos, coexistindo em espaços, fingindo que ele não habita meu interior inteiro. Ele mexe com cada pedacinho de mim, e eu só posso respirar fundo, esperando que a taquicardia no meu peito diminua toda vez que o vejo. Nem Logan, que eu achava que tinha amado muito, significou tanto.

Eu sei o quanto fui nociva para ele. Tenho plena consciência do tanto que o fiz sofrer. Olhando em retrospecto, fui imensamente cruel em mentir pra acabar com nosso relacionamento. A questão é que eu sei que não levaria a frente meus planos se ele estivesse comigo. Ele mesmo disse não poder se mudar agora para outro lugar. Mesmo que ele pudesse ir em alguns meses, não concordaria com a segunda parte do que eu quero: dar um neto à minha mãe.

Quando eu disse a ela que cuidaria inclusive dos milagres, é a isso que me referi. Eu quero que Anna Parker seja avó antes de partir. Não seria justo arrastar Brad para mais esta parte louca da minha vida, então, foi mais um motivo para que eu me separesse dele. Neste tempo ainda em Nova Iorque, enquanto minha mãe luta pela vida a seu modo, eu também estou lutando pela vida do filho que ainda não conheço, indo a consultas sobre fertilização e escolhendo doadores de esperma para combinar com meu óvulo em setembro.

É meio surreal. Às vezes nem eu mesma acredito. A médica diz que tenho boas chances, mas mesmo as boas são mínimas com o pouco tempo que eu tenho. Deixei de tomar contraceptivos, comecei a tomar uma bateria de comprimidos que mexem até com a temperatura do meu corpo e lá vou eu.

É óbvio que eu não contava com a rasteira que minha saudade me passou, me fazendo ir atrás de Brad desesperadamente. Quando eu pedi pra ele não me odiar da primeira vez, ele respondeu "eu não te odeio, Natalie.", agora, quando pedi pra ele me odiar menos, ele nem conseguiu responder. É fato, ele me odeia. Eu devia usar isso como motivação para deixar meu coração expulsá-lo de vez, mas não consigo. Olho Brad sentado ao meu lado, prestando atenção quando Edward anuncia minha saída definitiva da EP Morgan, e meu coração pula descompassado. Meus olhos se enchem de lágrimas e eu agradeço as palavras de Ed, mas meu choro incontido tem nome e sobrenome.

O mês inteiro de agosto se arrasta como se eu fosse uma criança esperando o Natal. Minha mãe termina o ciclo de quimioterapia em um estado muito frágil, e isso me abate profundamente. Tento animá-la, falando sobre como estaremos em breve com os pés na água salgada e azul do Mar Tirreno e às vezes acho que é só o que a faz sorrir entre um mal estar e outro.

No meu último dia de trabalho eu passo os derradeiros detalhes a Denise. Ela parece aterrorizada com a sobrecarga de Edward Morgan que vai ter nos dias a seguir, mas meu dever está cumprido. Há um aperto na minha garganta, remediado somente pela minha ideia de finalmente estar fazendo o que é certo em relação a minha mãe, mesmo que eu esteja errada em todo o resto.

Arrumo a caixa de papelão com os últimos pertences pessoais da minha gaveta e pronto. Três anos de trabalho duro resumidos em uma caixa de arquivo. É melhor que uma vida resumida a expectadora de outra, por mais que minha mãe sinta orgulho de mim. Edward bate na porta aberta e entra antes que eu diga qualquer coisa. O dia está acabando e já fiz algumas despedidas que importavam. Agradeci Brenda por toda cooperação e desejei um bom trabalho com Denise. Agora é a vez de Edward, meu chefe, mentor e namorado falso por um curto período. Ah, e meu amigo também, o título que eu prefiro pra ele neste momento.

– Pronta para a Itália, Natalie?

– Vinte dias, Ed. – me encosto na mesa enquanto ele senta numa das cadeiras em frente a mim.

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