Capítulo 39

146 17 2
                                    

Natalie

Na pequena caminhada pela praia ainda gelada, Edward e Maryanne arriscam molhar os pés e quase se congelam em meio a risadas bem honestas. Parece que sou a coadjuvante de um filme de romance quando fico perto dos dois e um sorriso meio triste aparece espontaneamente no meu rosto. Minha mãe me observa, até porque até parei de andar pra vê-los se molhando como dois adolescentes apaixonados.

Ela acaricia minha barriga e acorda o bebê. É incrível como ele responde imediatamente, como se fosse grato por ela tê-lo desejado tanto. É bem verdade que ele só existe porque Anna Parker existe, e parece que ele sabe disso.

Vinte e três semanas de gestação já me deram plena paixão pela ideia de ser mãe, ainda mais sendo tão gostoso sentir os movimentos dentro da minha barriga e reconhecendo que algo tão bom surgiu de Brad e eu, mesmo que eu tenha errado tanto. Não sei se é menino ou menina pois em todos os exames que fizemos as pernas estavam cruzadas ou o bebê se virava timidamente. Só por aí já sabemos que não puxou minha personalidade exibida, mas tem tudo a ver comigo no quesito de manter segredos.

Aproveito o carinho da minha mãe. As pessoas querem dar afeto ao bebê e eu que me regozijo com tantas atenções e carícias na barriga.

– Você poderia me odiar por qualquer coisa que eu fizesse, Natalie?

– Eu duvido que eu pudesse te odiar, mãe. É uma palavra muito intensa.

– Mesmo se eu fizesse algo bem grave?

– Como o quê?

– Não sei, algo que interferisse em como você conduz as coisas. Algo que alterasse sua vida irremediavelmente.

– Você meio que já fez isso, afinal estamos morando em outro país porque era seu sonho. Mas eu escolhi vir porque achei que era disso que nós precisávamos, até pra não passar por tudo sozinha.

– O que a gente quer e o que a gente precisa podem ser coisas diferentes.

Já entendi tudo, é mais uma lição de vida por todas as coisas que ela vem me falando desde o dia que contei sobre a gravidez.

– Você não está realmente falando de algo que você fez, não é, mãe? – suspiro e sinto um peso na barriga, como se até o bebê relaxasse com a constatação.

– Você me odeia por achar que precisava estar comigo aqui em Monterosso?

– Nunca. Eu odeio sua doença, odeio o tempo que não para de passar rápido demais, mas você eu não odeio, nem poderia.

– E por quê?

– Porque eu te amo. – sorrio e ela me abraça.

– Então por que você acha que Brad te odiaria? – ela fala no meu ouvido e entendo a segunda lição do dia.

Juntando as duas, em quinze minutos Anna Parker me ensinou que eu PRECISO fazer certas coisas que não quero e que é impossível odiar alguém que a gente ama, mesmo que seja possível odiar algumas atitudes desta pessoa.

– Eu vou falar com Brad, mãe. Você, Ed e Mare não tem facilitado as coisas me dizendo como fui injusta com ele, mas em alguns dias eu vou a Nova Iorque.

– Naty, você nunca foi muito boa em ser contrariada, é parte do que te faz tão assertiva. Não adianta eu te lembrar que você precisou dar repouso a esta criança e teve complicações, por isso viajar é uma ideia ruim.

– Vai ficar tudo bem mãe. Eu só quero vê-lo. Quero estar perto dele, nem que seja para mais uma briga.

– Brad é um homem legal, bom, gentil e correto. Ele pode tomar um choque, mas não vai hesitar em fazer a coisa certa.

CosmopolitanOnde histórias criam vida. Descubra agora