Capítulo 18

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Brad

Sou advogado, isso significa que sei ser persistente, geralmente sou ótimo em estruturar argumentos e não me abalo com dificuldades, especialmente as que parecem desafios para as minhas capacidades. Mas com Natalie eu me sinto preso numa lagoa congelada, tentando achar uma rachadura que me libere do sufoco enquanto tudo dói.

É uma analogia estranha, mas eu passei por isso quando tinha quatorze anos e hoje é como eu consigo definir a forma que me sinto sobre a bonequinha. O gelo se abriu debaixo de mim e caí, a correnteza forte me afastou da passagem para fora rapidamente, e eu nadei como se meu corpo fosse cutucado por agulhas de tanto frio. Procurei no gelo qualquer buraco, nem que fosse pra meter meu nariz grande na superfície e respirar. Qualquer coisa que me desse a esperança de continuar vivo, porque eu não queria desistir. Simplesmente não é do meu feitio ser o cara que se conforma e espera o mundo acontecer ao seu redor.

Achei uma parte fina de gelo, como a que me trouxe pra dentro do lago, e a quebrei. Eu estava com hipotermia, todo dolorido pela baixa temperatura, mas vivo. Aquela entrada de ar no meu pulmão foi revigorante e mesmo com tudo que ainda era uma ameaça pro meu corpo, eu sorri.

Eu não desisto fácil.

Contudo, com Natalie parece não haver camada fina de gelo para a saída. Estou me debatendo em agonia enquanto ela ignora minhas mensagens e não atende quando eu ligo. Parece que ela quer esquecer que eu existo, e está usando o fato de estar em outro continente para facilitar isso. Eu corro o risco de parecer um homem doentio e obcecado se continuar insistindo, e, honestamente, quantas dicas são necessárias antes que eu perceba que estou insistindo inutilmente?

Na última noite em Barcelona, entretanto, estou à beira de um novo porre como o que me tirou do prumo em Santorini. É o tipo de fuga mais covarde que existe, mas eu não consigo fazer muito mais que isso. Edward resolve intervir, tendo me observado sentar no bar do hotel após a janta e pedir um uísque atrás do outro.

– Achei que você tinha aprendido qualquer coisa sobre isso na Grécia. – ele aponta o copo que acabou de sair dos meus lábios.

– A coisa é que eu não quero rolar na cama com uma insônia filha da puta. Eu quero apagar. Dormir sem pensar em nada. – declaro decidido e peço outra dose.

– Ela é boa assim? De dar insônia?

– Não é só isso, Ed. É como se as coisas tivessem outro significado com ela. Por que eu estou explicando isso pra você? – tomo a outra dose.

– Porque eu perguntei. – ele ri e senta ao meu lado, pedindo uma bebida para si.

– Eu nunca mais vou ouvir você, Edward. – digo já sentindo os primeiros efeitos do álcool.

– Essa vai ser boa. – sua gargalhada ecoa pelo ambiente todo. – O que eu fiz?

– Você me disse pra esquecer, ficar longe, não gostar dela.

– Continuo achando que você vai cair numa armadilha gostando de Natalie. Vai sofrer pra caralho, embora pode ser que se você se humilhar apropriadamente ela acabe fodendo contigo mais algumas vezes.

Dou uma risada irônica. Edward tem a delicadeza de um coice de mula.

– Não é um botão que possa ser ligado e desligado, Ed. Você gosta de alguém mesmo sem perceber, e quando vê já é tarde pra ser desfeito. – explico como se o homem não fosse dez anos mais velho e mais experiente do que eu.

– Acho que seria bom pra Natalie ter alguém como você. Mas não vejo acontecendo, Kensington.

– Me deixe voltar e saberemos. – tomo mais uma dose. Esta foi a da coragem.

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