Brad
Sei que magoei Natalie quando nos falamos ao telefone. Eu nem entendo porque retornei a ligação depois que Alina desligou. Aliás, ela fica toda desconcertada comigo, especialmente quando saio na varanda para que ela não escute o teor da minha conversa.
Quando volto para dentro do apartamento ela está no quarto se vestindo, recolhendo suas coisas de cima da pia do banheiro e jogando dentro de uma mochila. Eu sei que Lina é intempestiva e ciumenta, mas não imaginei que ela fosse ficar tão brava quando levantei do sofá discando o número de Natalie. Acontece que Natalie não é só o meu pior pesadelo. É o de Alina também, e minha reação rápida em ligar não foi muito bem vista.
Natalie foi embora, e apaguei todos os contatos dela, mas ver o número internacional no registro de chamadas me oportunizou falar com ela, nem que fosse pra brigar, como Tom e Jerry.
– Alina, pare. – eu peço tentando impedi-la de jogar mais coisas dentro da mochila. – Esse é meu creme de barbear.
Tiro o frasco do meio das coisas que ela pegou rápido e sem pensar.
– Você não esqueceu aquela desbotada, Brad. – ela agora coloca a camiseta do avesso sobre os seios com lingerie preta.
– Ela acabou de dizer que não vai me ligar nunca mais, Lina. Acabou.
– Acabou? – ela me encara indignada.
– Acabou.
Alina sai pisando duro para dentro do closet e volta com o burro de Santorini nas mãos. Eu passo as mãos pelo cabelo, antecipando o que está por vir e já me sentindo contrariado.
– Jogue essa coisa estúpida fora. – ela estica a pelúcia e o burro me encara triste.
Sopro o ar pra fora do corpo me sentindo até meio tonto. O perfume de Natalie está espalhado nesse bicho e meu corpo até amortece ao senti-lo. É óbvio que eu não quero que Alina me veja como se eu fosse um... um... galinha, canalha, imbecil e aproveitador. Mas talvez eu seja exatamente isso, usando Alina como instrumento do meu desejo, mascarando o que eu não quero enfrentar.
Pra não me sentir assim eu preciso fazer o que ela me pede. Preciso atear fogo neste bicho grego e tocar minha vida com escolhas que não me deixem numa corda bamba sentimental o tempo todo. Mesmo que isso signifique contrariar o que eu disse a Edward uma vez, que eu não queria alguém que não virasse meu mundo do avesso.
Alina é estável, corresponde meus sentimentos, está aqui e não pisoteia minhas vontades como se só o que ela quer importasse. Ela não vira meu mundo do avesso e eu estou tentando me convencer que isso basta, e na maior parte do tempo eu sou feliz com ela. Então estico a mão e pego o burro pelo pescoço. Eu devo isso a Alina. Se não por amor, ao menos por gratidão, pela sua honestidade, pela disposição em estar comigo. Tudo que não encontrei em Natalie.
Olho o bicho e penso em atirá-lo pela janela, mas o pensamento de me afastar da única coisa que me restou de Natalie me corrói. Eu gosto de honestidade. Então por que estou mentindo tanto? Merda. Olho Alina e nem preciso dizer nada.
– Filho da puta. Nunca mais quero ver você. – ela me dá um tapa no rosto, tão ardido que deve ter avermelhado toda minha bochecha com a marca de seus dedos.
A vejo terminar de socar as coisas na mochila em silêncio. Eu não consigo falar nada, só vou até a sala meio desolado com o poder que cinco minutos de conversa com Natalie tem de mudar tudo pra mim novamente.
– Eu sinto muito. – digo vendo Alina rumar para a porta. Ela joga as chaves que dei a ela direto no meu peito.
– Vai se foder, Brad. Espero que ela te faça sofrer o triplo desta vez. –ela mostra o dedo do meio e bate a porta.

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Cosmopolitan
Cerita PendekNatalie é uma mulher forte e decidida, cosmopolita e dona de suas próprias regras. Quando ela percebe que não consegue controlar absolutamente tudo, vai ter que descobrir até onde suas leis podem ser dobradas em nome do que realmente importa na vida...