Capítulo 38

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Brad

Sei que magoei Natalie quando nos falamos ao telefone. Eu nem entendo porque retornei a ligação depois que Alina desligou. Aliás, ela fica toda desconcertada comigo, especialmente quando saio na varanda para que ela não escute o teor da minha conversa.

Quando volto para dentro do apartamento ela está no quarto se vestindo, recolhendo suas coisas de cima da pia do banheiro e jogando dentro de uma mochila. Eu sei que Lina é intempestiva e ciumenta, mas não imaginei que ela fosse ficar tão brava quando levantei do sofá discando o número de Natalie. Acontece que Natalie não é só o meu pior pesadelo. É o de Alina também, e minha reação rápida em ligar não foi muito bem vista.

Natalie foi embora, e apaguei todos os contatos dela, mas ver o número internacional no registro de chamadas me oportunizou falar com ela, nem que fosse pra brigar, como Tom e Jerry.

– Alina, pare. – eu peço tentando impedi-la de jogar mais coisas dentro da mochila. – Esse é meu creme de barbear.

Tiro o frasco do meio das coisas que ela pegou rápido e sem pensar.

– Você não esqueceu aquela desbotada, Brad. – ela agora coloca a camiseta do avesso sobre os seios com lingerie preta.

– Ela acabou de dizer que não vai me ligar nunca mais, Lina. Acabou.

– Acabou? – ela me encara indignada.

– Acabou.

Alina sai pisando duro para dentro do closet e volta com o burro de Santorini nas mãos. Eu passo as mãos pelo cabelo, antecipando o que está por vir e já me sentindo contrariado.

– Jogue essa coisa estúpida fora. – ela estica a pelúcia e o burro me encara triste.

Sopro o ar pra fora do corpo me sentindo até meio tonto. O perfume de Natalie está espalhado nesse bicho e meu corpo até amortece ao senti-lo. É óbvio que eu não quero que Alina me veja como se eu fosse um... um... galinha, canalha, imbecil e aproveitador. Mas talvez eu seja exatamente isso, usando Alina como instrumento do meu desejo, mascarando o que eu não quero enfrentar.

Pra não me sentir assim eu preciso fazer o que ela me pede. Preciso atear fogo neste bicho grego e tocar minha vida com escolhas que não me deixem numa corda bamba sentimental o tempo todo. Mesmo que isso signifique contrariar o que eu disse a Edward uma vez, que eu não queria alguém que não virasse meu mundo do avesso.

Alina é estável, corresponde meus sentimentos, está aqui e não pisoteia minhas vontades como se só o que ela quer importasse. Ela não vira meu mundo do avesso e eu estou tentando me convencer que isso basta, e na maior parte do tempo eu sou feliz com ela. Então estico a mão e pego o burro pelo pescoço. Eu devo isso a Alina. Se não por amor, ao menos por gratidão, pela sua honestidade, pela disposição em estar comigo. Tudo que não encontrei em Natalie.

Olho o bicho e penso em atirá-lo pela janela, mas o pensamento de me afastar da única coisa que me restou de Natalie me corrói. Eu gosto de honestidade. Então por que estou mentindo tanto? Merda. Olho Alina e nem preciso dizer nada.

– Filho da puta. Nunca mais quero ver você. – ela me dá um tapa no rosto, tão ardido que deve ter avermelhado toda minha bochecha com a marca de seus dedos.

A vejo terminar de socar as coisas na mochila em silêncio. Eu não consigo falar nada, só vou até a sala meio desolado com o poder que cinco minutos de conversa com Natalie tem de mudar tudo pra mim novamente.

– Eu sinto muito. – digo vendo Alina rumar para a porta. Ela joga as chaves que dei a ela direto no meu peito.

– Vai se foder, Brad. Espero que ela te faça sofrer o triplo desta vez. –ela mostra o dedo do meio e bate a porta.

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