Capítulo 19

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Natalie

Largo todo meu trabalho, inclusive organizando um evento próximo que Edward vai patrocinar, e saio do escritório direto para a estação do metrô. Minha cabeça pesa uma tonelada. Eu imaginava que Brad estaria bravo comigo por ter ido embora, por não ter aceitado suas tentativas de contato, mas pareceu realmente que ele me odeia.

Fui atrás dele justamente pra explicar que eu funciono assim, preciso me afastar e mudar minhas perspectivas. Meu coração e meu cérebro não trabalham na mesma velocidade e eu tentei negar o quanto foi possível que eu gosto dele, de verdade. O fato é que eu crio todas as desculpas que posso pro meu comportamento, imaginando que minha autossuficiência é uma virtude. Mas ela tem falhas sérias. Especialmente porque eu já vivi sozinha muito tempo e agora começo a questionar meu modo de vida de forma irreversível.

Era só ter dito isso, mas ele me cortou rápido por ter beijado outro homem. Eu queria, por Deus, como eu queria, sentir por Logan o tipo de coisa que estou sentindo por Brad. Mas novamente, meu coração e minha cabeça não se acompanham.

Eu não devo explicações a Brad, mas ainda assim eu queria explicar. Gostaria de dizer que quero abraçá-lo mesmo quando estou deitada do lado de outro homem. E que nada aconteceu com Logan. E ainda, que eu sei que meu comportamento em Barcelona o machucou, mas ele também me machuca, e eu continuo pensando nele de um jeito que desculpa até a grosseria com que ele falou comigo.

Mas eu entendo. O pior de tudo é que eu entendo. Especialmente por ele ter dito que sou igual a Edward, o que basicamente quer dizer que sou uma vadia presunçosa e sem coração. Não consigo nem me defender disso, porque não fiz nada que prove pra ele o contrário.

Talvez se eu pensasse melhor nas atitudes de Brad, eu o odiaria também. Pelo menos um pouquinho, mas quando eu dedico tempo a pensar nele, não são as coisas ruins que me vem à cabeça e eu só consigo lembrar de Santorini, e de querê-lo ainda mais.

Vou até Newport e minha mãe abre a porta de casa, estranhando me ver, especialmente durante a semana, de ressaca e precisando dela. Eu não consigo explicar direito o que estou fazendo ali, só tiro os sapatos e me deito no sofá com a cabeça em seu colo. Ela me faz carinho até que eu pegue no sono. Quando acordo, minha mãe tem um jantar delicioso pronto. Comemos com Calvin e ele vai ver televisão enquanto nos ocupamos dos pratos.

– Quem é ele? – ela me encara séria.

– Tem que ser um homem, mãe? – fico chateada com a inferência que mulheres têm dramas e catarses relacionadas somente a figuras masculinas. Embora isso seja verdade neste caso.

– Natalie, você sempre viveu como se não precisasse de ninguém. Quem vive assim geralmente é péssimo em lidar com sentimentos de reciprocidade, como o amor. Pra você estar sofrendo assim, imagino que seja algo desta natureza.

– Eu não sei por que me machuca tanto.

– Você gosta dele? – faço um "sim" com a cabeça e ela dá um sorriso compreensivo. – Então seja honesta.

– Eu tentei. Mas acho que é tarde demais. – digo dando um suspiro cansado.

– Vocês estão vivos, então ainda há tempo. – sua piscadinha é otimista e feliz.

Maryanne compartilha este mesmo sentimento, achando que o amor sempre vence, as coisas são lindas e românticas, e por aí vai. Pra mim é só mais um jeito de alimentar a ilusão, que por sua vez torna a decepção inevitável e ainda mais grotesca.

Estou tendo a catarse por Brad que Maryanne já teve algumas vezes por Edward. Eu tento consolá-la com conselhos diferentes do que os que minha mãe me dá. Se eu disser que ela pode continuar sonhando com Edward não estarei ajudando de verdade.

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