Capítulo 5

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Natalie

Quando chego em casa, Maryanne está cozinhando e isso é um bom sinal. Geralmente ela se arrisca na cozinha quando está de bom humor. Pergunto sobre o teste e ela diz que foi bem, embora tenha que aguardar a resposta em alguns dias. Fico genuinamente feliz por Mare.

Somos amigas desde sempre, estudamos juntas no colegial e depois da faculdade ela veio morar comigo. Passar tempo com Maryanne é uma das minhas coisas favoritas no mundo, contudo, não temos nada em comum além da devota amizade. Ela é morena, com a pele bronzeada e olhos negros. Seus cabelos compridos brilham de tão escuros e lisos, moldando um rosto latino bem harmonioso. O corpo esguio e alto tem curvas bonitas, o que lhe garante alguns trabalhos como modelo. Eu, por outro lado, sempre fui mais baixinha e reta, com cabelo ondulados na altura dos ombros, que já foram do castanho ao ruivo e ao loiro. Nossas diferenças vão além da aparência. Mare me contrapõe em tudo.

Ela tem grandes sonhos, romantizados em um mundo que existe só em sua cabeça. Eu luto para ser mais como ela, mas meu cinismo não deixa. Ela é capaz de se apaixonar em segundos, por pessoas e por ideias, e eu admiro sua capacidade de abstração. Muitas vezes eu sinto uma responsabilidade imensa sobre ela. Outras vezes ela quem parece cuidar de mim.

Me visto em roupas mais confortáveis para arrumar a mesa e Mare me entrega um prato extra. Não precisei esperar ela me dizer quem era nosso convidado, porque Logan abriu a porta com sua chave e entrou me fazendo correr ao seu encontro. Até o ar se aqueceu com a presença dele, e o mês inteiro que ele esteve fora pareceu um ou dois dias.

Logan também é nosso amigo desde o colegial. Eu e Mare éramos uma boa dupla, mas nosso trio era imbatível. Logan tem uma aparência deliciosa e descontraída, e um carisma que faz dele um sucesso com as garotas desde novo. Nossa amizade sempre foi muito honesta, que durou mesmo com os desgastes da vida adulta e nosso relacionamento muito conturbado. Perdemos a virgindade juntos, eu e ele numa cama sem ideia alguma do que estávamos fazendo. Embora nossa intimidade seja boa, nossas visões de vida são opostas.

Eu gosto do agito, de vida noturna, das inúmeras opções que uma cidade grande tem para oferecer. Logan é avesso a isso. Ele poderia morar exilado tranquilamente, mas atualmente ele mora num modesto apartamento no Brooklin, o que é bem o contrário do exílio.

Estamos sempre a um telefonema de distância, mesmo quando ele viaja para um dos mil cursos que faz como professor assistente de literatura na NYU. Sempre admirei um homem que pudesse falar de Jane Austen ou das irmãs Brontë com propriedade. Ele e o sr. Armst, nosso professor do colegial, tinham sido os únicos até hoje.

Após o jantar nos sentamos na sala para que Logan conte todas as novidades sobre a última viagem. Foi sua primeira vez na Inglaterra e sua narrativa das experiências britânicas foi fascinante. Quase madrugada adentro, Mare vai se deitar e eu e Logan ajeitamos juntos os pratos na cozinha. Fico observando-o, encostada no armário, admirada por seus cabelos castanhos meio cacheados, sobrancelhas grossas e expressivas e olhos escuros.

– Você parece mais magro. – reparo. – E mais pálido.

– Todos os bons romancistas são meio franzinos e têm a saúde frágil.

– Está escrevendo?

– Pouco menos do que eu gostaria. – ele sorri e eu me aconchego na sensação do meu peito, Logan é o mesmo faz pelo menos 15 anos, meu melhor amigo e companheiro.

Fomos namorados e noivos, mas não aconteceu como deveria. Hoje temos um porto seguro um no outro. Apesar de amá-lo profundamente, não consigo me enxergar casada com ele, e mesmo sem saber exatamente como terminamos nosso relacionamento, não me arrependo de tê-lo feito.

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