Capítulo 24

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Brad

O mais difícil em toda a exposição da vida de Natalie Parker é vê-la ao lado de outro homem, segurando a mão dele publicamente em aparições controladas, jantares e almoços programados. As fofocas da empresa passaram de suposições sobre a falta de competência dela, para certezas de que Edward a favorece em troca de sexo, mesmo que alguns acreditem na história do romance.

Ela aparece inúmeras vezes por dia em matérias de pseudojornalismo, teve seu perfil vasculhado, fotos de infância e do colegial postadas em sites, apontada como causa de um dos divórcios mais caros de Nova Iorque. A entrevista que ela deu ao lado de Edward me doeu imensamente. Ela é inteligente e sagaz, e embora eu a chame de boneca, sei de todo seu potencial. Enquanto Ed falava sobre os erros de um homem infiel, e se dizia apaixonado por Natalie, ela parecia um mero adorno a seu lado, colocada numa posição humilhante que ela sempre temeu.

Com o passar de algumas semanas as coisas se amenizam.

O baile anual de caridade do Memorial Hospital é a menina dos olhos de Natalie, ela ajudou em seu planejamento meticulosamente, com afinco, por se tratar do financiamento da ala oncológica da instituição. Entretanto, quando chega o dia, ela está retraída, beirando uma insatisfação dolorosa. Tento distrair seus pensamentos pela manhã, enquanto pintamos um cômodo que ela me convenceu a transformar num escritório no apartamento, como se eu precisasse mesmo trabalhar mais.

Natalie escolheu a cor e colocou algumas fotos nossas, que tiramos durante nosso breve relacionamento, numa moldura para pendurar na parede. É uma declaração e tanto, junto com a escova de dentes, o secador de cabelo e os duzentos potes diferentes de cremes que ela deixa no meu banheiro. Estamos mais juntos do que nunca dentro das quatro paredes da minha casa, e ela é de Edward para o mundo.

Ela termina os retoques de tinta com um pincel enquanto eu me pergunto pela vigésima vez como ela me convenceu a isso. O fato de estar deitada nua sobre chão que eu piso agora deve ter tido algo a ver com isso. Natalie teve tempo de observar o quarto mal aproveitado e, francamente, eu concordaria com qualquer coisa que ela me pedisse entre gemidos.

– Ficou ótimo. – elogio seus dons de pintora enquanto ela encara a parede sobre a escada.

– Começou a gostar da cor? – ela me olha do alto.

– Não. – rio. – Mas eu gosto de você, então posso conviver com seu mau gosto.

– Estou chocada. Eu gosto de você, e se eu tenho mau gosto, quer dizer que você é péssimo.

– Você sabe que eu sou ótimo, apesar do seu mau gosto. – paro em frente à escada e ela senta na pequena plataforma do topo, inclinando o corpo para me beijar.

– Seu único defeito é não amar esta cor. – ela sorri com o rosto manchado de tinta, especialmente o narizinho.

Não consigo conter a contemplação sobre ela, tão autêntica, tão diferente de como ela em sido em público.

– Me convença a gostar dela, e eu juro que vou amar.

– É a cor do burro. – ela me encara satisfeita, como se bastasse o argumento.

Até que basta. Me lembro do simpático burrinho de pelúcia que ela trouxe de Santorini, que fica sobre sua cômoda cuidando da nossa foto. Pronto, já olho o ambiente com outros olhos.

– Eu adoro você, Parker. – Natalie me beija novamente, devagar e quente.

Eu a abraço e a sinto passar o pincel na minha bochecha, gelando minha pele e a barba por fazer com a cor do burrinho. Sua gargalhada é alta e vívida enquanto esfrego o rosto em sua roupa e ela passa o pincel do outro lado. Eu achava que Santorini tinha sido inesquecível pela intimidade que criamos, mas a convicência, nossa frequência e permanência, tem me mostrado que eu não poderia esquecer Natalie, nem que eu tivesse aberto minha cabeça e arrancado meu cérebro. Eu me pego querendo estes momentos de filmes românticos entre nós, achando tudo meio bobo e piegas, mas completamente irresistível.

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