Brad
O mais difícil em toda a exposição da vida de Natalie Parker é vê-la ao lado de outro homem, segurando a mão dele publicamente em aparições controladas, jantares e almoços programados. As fofocas da empresa passaram de suposições sobre a falta de competência dela, para certezas de que Edward a favorece em troca de sexo, mesmo que alguns acreditem na história do romance.
Ela aparece inúmeras vezes por dia em matérias de pseudojornalismo, teve seu perfil vasculhado, fotos de infância e do colegial postadas em sites, apontada como causa de um dos divórcios mais caros de Nova Iorque. A entrevista que ela deu ao lado de Edward me doeu imensamente. Ela é inteligente e sagaz, e embora eu a chame de boneca, sei de todo seu potencial. Enquanto Ed falava sobre os erros de um homem infiel, e se dizia apaixonado por Natalie, ela parecia um mero adorno a seu lado, colocada numa posição humilhante que ela sempre temeu.
Com o passar de algumas semanas as coisas se amenizam.
O baile anual de caridade do Memorial Hospital é a menina dos olhos de Natalie, ela ajudou em seu planejamento meticulosamente, com afinco, por se tratar do financiamento da ala oncológica da instituição. Entretanto, quando chega o dia, ela está retraída, beirando uma insatisfação dolorosa. Tento distrair seus pensamentos pela manhã, enquanto pintamos um cômodo que ela me convenceu a transformar num escritório no apartamento, como se eu precisasse mesmo trabalhar mais.
Natalie escolheu a cor e colocou algumas fotos nossas, que tiramos durante nosso breve relacionamento, numa moldura para pendurar na parede. É uma declaração e tanto, junto com a escova de dentes, o secador de cabelo e os duzentos potes diferentes de cremes que ela deixa no meu banheiro. Estamos mais juntos do que nunca dentro das quatro paredes da minha casa, e ela é de Edward para o mundo.
Ela termina os retoques de tinta com um pincel enquanto eu me pergunto pela vigésima vez como ela me convenceu a isso. O fato de estar deitada nua sobre chão que eu piso agora deve ter tido algo a ver com isso. Natalie teve tempo de observar o quarto mal aproveitado e, francamente, eu concordaria com qualquer coisa que ela me pedisse entre gemidos.
– Ficou ótimo. – elogio seus dons de pintora enquanto ela encara a parede sobre a escada.
– Começou a gostar da cor? – ela me olha do alto.
– Não. – rio. – Mas eu gosto de você, então posso conviver com seu mau gosto.
– Estou chocada. Eu gosto de você, e se eu tenho mau gosto, quer dizer que você é péssimo.
– Você sabe que eu sou ótimo, apesar do seu mau gosto. – paro em frente à escada e ela senta na pequena plataforma do topo, inclinando o corpo para me beijar.
– Seu único defeito é não amar esta cor. – ela sorri com o rosto manchado de tinta, especialmente o narizinho.
Não consigo conter a contemplação sobre ela, tão autêntica, tão diferente de como ela em sido em público.
– Me convença a gostar dela, e eu juro que vou amar.
– É a cor do burro. – ela me encara satisfeita, como se bastasse o argumento.
Até que basta. Me lembro do simpático burrinho de pelúcia que ela trouxe de Santorini, que fica sobre sua cômoda cuidando da nossa foto. Pronto, já olho o ambiente com outros olhos.
– Eu adoro você, Parker. – Natalie me beija novamente, devagar e quente.
Eu a abraço e a sinto passar o pincel na minha bochecha, gelando minha pele e a barba por fazer com a cor do burrinho. Sua gargalhada é alta e vívida enquanto esfrego o rosto em sua roupa e ela passa o pincel do outro lado. Eu achava que Santorini tinha sido inesquecível pela intimidade que criamos, mas a convicência, nossa frequência e permanência, tem me mostrado que eu não poderia esquecer Natalie, nem que eu tivesse aberto minha cabeça e arrancado meu cérebro. Eu me pego querendo estes momentos de filmes românticos entre nós, achando tudo meio bobo e piegas, mas completamente irresistível.

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Cosmopolitan
ContoNatalie é uma mulher forte e decidida, cosmopolita e dona de suas próprias regras. Quando ela percebe que não consegue controlar absolutamente tudo, vai ter que descobrir até onde suas leis podem ser dobradas em nome do que realmente importa na vida...