Capítulo 28

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Brad

Realmente as coisas não são o que parecem, como um cachorro com roupa de burro e a paixão de Natalie Parker. No momento em que deixo o hospital, depois de ter feito novamente papel de imbecil por esta mulher, eu decido que já chega. Chega de tudo que diga respeito a ela e sua polaridade confusa. Ela continua me deixando louco, de tesão, de amores, de vontades, de raiva, de insegurança, e agora de insanidade mesmo.

Juro que me sinto perdendo a razão ao tentar dar algum sentido a minha proximidade com Natalie. Eu não a entendo, não consigo significar suas ações. No fim, creio que ela seja uma sádica que adora me ver sofrendo, brincando com meus sentimentos como uma malabarista, como se minha felicidade fosse um conjunto de pinos que ela taca pro alto ora sorrindo, ora chorando.

Estou acima de tudo muito cansado até para brigar com Natalie por ter me feito de idiota novamente. Só consigo apoiar a testa no volante do carro e respirar fundo algumas vezes para me acalmar e parar de chorar antes de ir pra casa. Não quero repetir o padrão de bebida e ressentimento. Não quero conversar com ninguém. Não queria nem a minha própria companhia pra ficar remoendo as agruras dos últimos dias, mas não consigo desatarraxar a cabeça do corpo para descansar sem pensar nela.

Mentalizo o Caribe, mas lembro do corpo de Natalie mergulhando em águas cristalinas. Apago os contatos dela no meu celular novo e qualquer coisa que me permita falar com ela. Não quero cair na tentação de me render à saudade que dói meus ossos. Ela simplesmente disse que não me quer mais.

Eu preciso que meu orgulho seja eficaz e não me deixe continuar sendo um besta por esta mulher. Acontece que, depois que o baque inicial que me deixou atordoado passa, eu realmente acho que posso odiar Natalie.

No dia seguinte eu já substituo a tristeza e saudade por uma sensação pungente que me seca a garganta em raiva. Decido que Natalie pode ir se foder, ou foder com Logan o quanto quiser, que meu juízo não será prejudicado. Quer dizer, meu juízo já prejudicado não será prejudicado ainda mais. Enfio todas as coisas dela numa caixa, cremes, secador, escovas, pijama, vou socando tudo dentro do espaço reduzido de papelão, como se pudesse enfiar meu próprio coração ali, no meio dos pertences de Natalie Parker.

Jogo a moldura com as fotos lá dentro também, arrancando-a da parede. Coloco a caixa sobre a mesa de Brenda.

– Pode enviar à Srta. Parker, por favor? – peço sério e determinado.

Ela só faz um sim com os olhos arregalados pra mim.

A providencial ausência dela no escritório em sua semana de folga também me ajuda a intensificar sentimentos de repulsa por ela. Vê-la seria muito mais difícil. Chego a achar que a mãe doente seja um castigo merecido a Natalie, uma forma do universo forçá-la a pensar em alguém além de si mesma, mas eu tive uma mãe doente e nunca fui mesquinho como ela. Ou fui?

Melhor deixar a doença da pobre Anna Parker de fora disso. Não quero também achar que a morte da minha mãe foi pra mim um merecimento. São coisas que cruzam a cabeça durante a fúria. Nem sei por que eu penso essas besteiras. Ninguém merece o que Natalie e Anna estão vivendo, por mais que a primeira seja uma maníaca egocêntrica.

Quando Natalie volta ao trabalho, desvio de encontrá-la por bastante tempo e ela mesma não participa mais das reuniões de equipe com Edward. Bruno aprendeu em poucos dias que não precisava mais comprar o soy latte junto com meu café, mesmo que eu não tenha tido coragem de dizer pra ele parar. O tempo passa, dolorosamente devagar e meus dias se alternam entre ruins e piores, até o dia que eu compro um galão de tinta branca e cubro as paredes do escritório do meu apartamento, como se quisesse cobrir meus sentimentos em vez da tinta cor de burro dela. É uma catarse, eu pinto mal pra caralho, rápido e em todas as direções, então desarrumo todos os livros jogando-os no chão e termino a noite nos braços de Alina.

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