Brad
Entro na academia do hotel pronto para espantar as diferenças de fuso que me mantiveram acordado metade da noite. É isso ou ficar no quarto e perder o horário com o sono que me toma de assalto se meu corpo ficar mais de dez segundos parado. A maioria da equipe teve a mesma ideia que eu, e a sala de ginástica parece uma filial da EP Morgan em Bruxelas.
Cumprimento todos que conheço começo a correr na esteira. Uma garota simpática, que surpreendentemente é uma hóspede aleatória do hotel, luta contra os botões de velocidade de seu equipamento ao lado do meu. Entre uma corrida desajeitada e uma caminhada extremamente lenta ela parece presa num programa de pegadinhas, e não consigo evitar de rir de sua pobre situação.
– A coisa é que você não pode apertar os botões tão rápido. – digo me pendurando na lateral da esteira dela, e aperto os botões com calma.
– Essa porcaria está quebrada. – ela reclama revirando os olhos e com uma vergonha visível.
– Não está não. Ela só é temperamental. – rio e ela deixa escapar um sorriso no meio da irritação.
Seu cabelo é curto e combina com a estrutura forte do rosto bem desenhado. O corpo é quase uma escultura e a postura e o sotaque me entregam que ela deve ser espanhola.
– EU sou temperamental, isso aqui é uma geringonça com defeito. – ela graceja e finalmente começa a andar num ritmo normal e contínuo de exercício. – Obrigada pela ajuda. Lola García.
– Brad Kensington. – estico a mão e aperto a dela. Lola estava envergonhada, mas agora parece um pouco melhor. – Eu não ouço ninguém falar "geringonça" desde quando minha avó era viva.
– Deus a tenha! – ela se benze exageradamente. – Está na cidade a negócios ou prazer, Sr. Kensington?
– Negócios, basicamente. – volto para minha esteira, mas em vez de correr, ando com Lola. – Mas sempre sobra um pouco de tempo. E você?
– Negócios também. Mas sempre sobra um pouco de tempo. – ela levanta as sobrancelhas.
– Quem sabe com todo este tempo livre poderíamos jantar ou conhecer a cidade. – o que eu estou fazendo? Estou flertando descaradamente com uma mulher que conheci há dois segundos.
É como um hábito que eu não consigo desvencilhar do meu comportamento meio patético e desesperado. Vejo Lola sorrir e balançar a cabeça em concordância. Parece que tenho um encontro internacional e quase nenhuma noção.
Olho para o lado oposto da academia e vejo Natalie limpando o suor do rosto com uma toalha. Ela tem o cabelo preso e está completamente avermelhada pelo esforço. Diferente do dia anterior, hoje seu olhar não ousa vir para minha direção e desço da esteira num pulo deixando Lola falando quase sozinha quando ela me pergunta o número do meu quarto.
Natalie me ignora voluntariamente, olhando para frente mesmo quando paro a seu lado. Eu sento no banco onde ela repousa e reparo nas pequenas gotinhas de suor que escorrem em sua nuca, imaginando seu gosto salgado.
– Não sabia que você gostava de exercícios. – inicio a conversa mesmo que ela tenha um ar de poucos amigos.
– Eu não gosto. – sua resposta é seca. – Eu só preciso me livrar da energia acumulada.
– Posso te ajudar com a energia. – finalmente ela me olha, mas só pra me fulminar com a mandíbula presa e as sobrancelhas franzidas.
– Você pode voltar pra sua donzela em perigo na esteira, Kensington. Estou muito bem sozinha.
– Donzela em perigo? – rio e olho para Lola. Ela acena e volto a olhar para Natalie. – Está com ciúmes?
– Não estou num dia bom, Kensington. – ela espreme os olhos pra mim.
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Cosmopolitan
Short StoryNatalie é uma mulher forte e decidida, cosmopolita e dona de suas próprias regras. Quando ela percebe que não consegue controlar absolutamente tudo, vai ter que descobrir até onde suas leis podem ser dobradas em nome do que realmente importa na vida...