Capítulo 37

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Natalie

O telefone toca duas vezes e eu desligo, me sentindo mais nervosa do que imaginei ficar. É como reviver a adolescência quando qualquer menção minimamente romântica era capaz de dar tontura e um amortecimento alvoroçado no meu rosto.

– Não seja uma idiota, Natalie. – digo antes de soprar o ar e puxar devagar.

Não adianta muito. Meu coração salta descompassado dentro do peito conforme aumentam o número de toques do telefone. Penso em diversas coisas para dizer além de "eu não consigo viver sem você" quando ele atender, mas nada mais vem. É só isso, eu não quero mais viver sem Brad Kensington.

– Alô? – eu não contava com a voz de Alina atendendo.

– Acho que liguei errado. – tanto nervosismo e uma só obviedade: eu não liguei errado.

– Brad não pode atender agora. – escuto a risada dele ao fundo e a dela bem no meu ouvido. – Quem é?

– Quem é? – ouço ele perguntar e desligo.

Largo o telefone sobre a cama, olhando pra ele como se fosse um punhal que acabou de me ferir. O toque do celular me incomoda. É ele. Merda. Minha língua coça em ressentimento e ciúmes, mas não digo nada quando atendo.

– Natalie? – a voz dele me causa uma onda pelo corpo, eu guardo as palavras que eu queria dizer em um lugar seguro e mantenho o silêncio. – Diga alguma coisa.

– Eu quero meu burro de volta. – o nó na minha garganta quase me impede de falar essa coisa ridícula. Mas já que ele não pensa em mim, exijo a devolução da minha lembrança de Santorini.

– Seu burro? – ele suspira.

– É. Ou você já deu meu burro pra Alina?

Ele suspira do outro lado e não consigo identificar se é por irritação ou desesperança.

– Natalie...

– Não tem problema, Brad. São quatro meses. Eu entendo perfeitamente. Você continua sendo você.

– O que isso quer dizer?

– Você continua sendo o mesmo Kensington.

– Galinha, canalha, imbecil... e o que mais mesmo? Aproveitador. É isso?

– Boa memória.

– Você lembrou de me ligar só pra me ofender?

– Pelo menos estou mantendo a promessa de pensar em você, não é?!

– Eu não sei o que te dizer, Natalie. Só estou tentando continuar, me reconstruir depois de nós.

– Tem muitos pedaços seus por aí, Brad. Metade da cidade já viu seus pedaços, diga-se de passagem. – digo ironicamente.

– O que você quer, Natalie?

– Merda, Brad. Tem um pedaço seu comigo. É isso que eu quero dizer. E também que eu quero te ver.

– Eu nunca sei o que é verdade com você, Natalie. Por que você mentiu pra mim? – meu coração se congela. – Você não dormiu com Logan. Deixou eu te humilhar, pensar menos de você só pra se afastar de mim. Por que, Natalie?

– Tanta coisa mudou depois disso, Brad. Nós não conseguimos ficar afastados, eu te procurei, você me procurou. Não é esta nossa forma de agir? Estou aqui te procurando novamente.

– Toda vez que eu começo a curar minhas feridas você reaparece, Natalie. Você me magoa e eu acabo saindo cada vez mais ferido sem você. Talvez a nossa forma de agir seja impossível pra mim, é por isso que eu não fui te visitar, nem te liguei mais. Eu preciso que você pare de me enlouquecer.

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