Capítulo 3

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Natalie

Ao entrar em meu escritório pela manhã já recebo os recados do dia. Sou relações públicas do dono de uma das maiores holdings empresariais de Manhattan, Edward Morgan. O Sr. Morgan possui um andar inteiro de relações públicas que controlam a imagem das mais de 40 empresas que seu grupo administra. Eu, especificamente, não cuido da imagem corporativa e sim da imagem do Sr. Morgan diretamente.

Isso quer dizer que meu trabalho é basicamente dizer a ele quantas horas ele deve permanecer em eventos, em quais festas ir, quais são os convidados com quem ele deve conversar, em quantas inaugurações de negócios é relevante que ele apareça, quais os eventos mais impressionantes de caridade onde ele deve ir. Também negocio suas aparições em propagandas, programas de entrevistas, editoriais e matérias jornalísticas. Pelo menos é esse o resumo que eu dou pra minha mãe quando ela me pergunta "O que é mesmo que você faz?". Simples assim.

Eu não controlo a agenda de Edward, pois suas duas assistentes são eficientes nisso. Mas meu relacionamento direto com ele, em apenas quatro anos de trabalho na empresa, já havia gerou muitas conversas nos corredores. Alguns dizem que eu tenho privilégios por fornecer privilégios. Mas honestamente eu não precisei usar artimanhas pra conquistar um cargo de confiança. Meu cérebro é meu melhor aliado.

Entrei na empresa logo depois de terminar meu curso de comunicação na faculdade. Quando era apenas estagiária comecei a trabalhar no setor de relações públicas e escrevi um memorando sobre a melhora da condição da holding pelo investimento em um hospital base durante a guerra do Iraque. Isso chamou a atenção do Sr. Morgan. Ele gosta de seus funcionários como gosta de sua coleção de carros esportivos: espertos, responsivos e rápidos.

Enquanto algumas empresas financiam a guerra, a EP Morgan financiou a cura para suas feridas. Isso melhorou tanto a imagem da corporação que gigantes de todas as áreas se acotovelaram para reuniões onde pudessem associar seus nomes a Edward e suas empresas. Além, obviamente, de financiar tratamento para milhares de soldados que lutavam pelo país.

Sr. Morgan é um homem de 50 anos, de barba grisalha e cabelos como os pelos de um dálmata, porém indiscutivelmente bonito. Ele tem olhos claros bondosos e um sorriso contagiante. Sua voz é grave e emblemática, com uma gargalhada cheia de personalidade que lhe confere uma marca registrada muito peculiar. Eu o acho incrivelmente inteligente, mas sei detalhes demais de sua vida pessoal para considerá-lo atraente. Ele vive rodeado de mulheres que abririam mão de sua dignidade para estar com ele.

Meus interesses não se depositam em julgá-lo por seus casos extraconjugais. Hillarie, sua esposa há quase 30 anos tem ciência de muitos dos atos do marido. Se ela não se incomoda, por que eu deveria? Discrição é uma parte importante do meu trabalho. Se é verdade que o silêncio vale ouro eu não sei. Eu sei que o meu vale platina. Eu sou uma das funcionárias mais bem pagas da folha de pagamento da EP Morgan, e francamente, aos 27 anos eu conheço bem pouca gente da minha idade com o mesmo salário que eu.

Reviso os recados e faço algumas ligações, leio os jornais e suas manchetes e começo a responder os pedidos de entrevista um pouco antes das nove horas. Meu telefone toca as dez pras nove e saio para o elevador. Mentalizo quase um mantra conforme os números mudam no display. "Não pare no trinta e quatro. Por favor, não pare no trinta e quatro."

Pim. Trinta e quatro. Eu bufo desanimada. Não parece meu dia de sorte. Quando a porta se abre e vejo Brad Kensington com um sorriso no rosto, eu tenho certeza que não vou conseguir o financiamento necessário pra minha nova proposta a Edward. Conversamos brevemente e até que o soy latte que ele me deu está decente, o que é um elogio e tanto para qualquer coisa que venha dele.

Brad é um garanhão sem escrúpulos. Eu duvido que ele já não tenha dormido com mais da metade das mulheres solteiras da cidade, e algumas casadas. Faço algumas piadas com ele porque, decididamente, ele é o único que entende meu humor ácido e o aprecia sem moderação.

Gosto de perturbar o homem, e ele gosta de me perturbar, e esta interação é boa e divertida, exceto quando quero convencer Edward de qualquer coisa que envolva gastos de dinheiro com caridade. Neste momento nossa interação é cáustica e até meio cruel. Como o fato dele dizer que uso meu olhar pra conquistar a atenção do nosso chefe, sabendo de todas as fofocas a meu respeito.

Sentada em frente a Brad, recuso o uísque que Edward me ofereceu.

– Deve ter sido uma bela noite, Srta. Parker, pra você recusar meu melhor 12 anos.

– Sempre são, Ed. – sorrio e reparo no olhar que Brad direciona às minhas pernas. – Meus olhos estão aqui em cima, Sr. Kensington.

– Já reparei que eles ficam no seu rosto, Srta. Parker, logo acima deste narizinho lindo que você mete em tudo. São lindos, grandes, suplicantes e verdes. Consigo descrevê-los com os meus fechados, de tanto olhar pra você enquanto você faz nosso chefe gastar rios de dinheiro com crianças carente.

– Não consigo evitar. Eu adoro crianças.

– Vamos fazer uma. Eu e você faríamos bebês lindos. – ele pisca e reviro os olhos.

– Nos seus sonhos, Kensington. – respondo fazendo uma expressão enojada.

O Sr. Morgan nos observa com divertimento. Minha impressão é que ele adora estas situações e ele confirma como que lendo meus pensamentos.

– É como assistir Tom e Jerry, sem toda a parte do jazz como música de fundo.

– Não sei se quero ser comparada a um rato esperto ou a um gato atrapalhado. – digo na dúvida entre qual personagem eu gostaria de ser nesta distopia.

– Vocês dois deveriam resolver essa tensão palpável entre vocês. – Edward aconselha. – Na cama ou na terapia. Mas se for a primeira opção, por favor me mandem um vídeo.

– Vocês têm sorte que eu não processo ninguém por assédio. Vocês dois seriam os primeiros. – digo encerrando o assunto.

Inicio a explicação sobre minhas ideias e Brad quase enfarta quando demonstro o plano de investimentos. Eu tenho a análise crítica toda do setor de Relações Públicas demonstrando os impactos e números positivos de publicidade, mas reconheço que é um pesadelo financeiro e jurídico. Edward ouve tudo e diz que irá pensar no assunto.

– Você não pode querer que o homem gaste milhões em mais um hospital, Parker. É insano, embora muito filantrópico. – Brad está com o pescoço avermelhado e completamente exasperado.

Abro a porta da minha sala e ele entra, tirando o terno e afrouxando a gravata. Ele se senta numa das cadeiras em frente à minha mesa, onde encosto meu traseiro e fico meio em pé, meio sentada.

– Brad, eu não quero que ele gaste, quero que ele mostre a intenção de gastar. Assim todos os seus amigos vão segui-lo na iniciativa. Você sabe como isso funciona. Além do mais a filantropia sempre fez bem para a imagem de Edward.

Ele ergue os olhos na cadeira e me encara sério. A figura de Brad Kensington é extremamente agradável de se admirar, os olhos vibrantes são azuis ciano, seu cabelo é loiro escuro e o sorriso é amplo debaixo de um nariz ligeiramente grande. Lindo, atraente, irritante e promíscuo. Brad é exatamente o meu tipo de homem. Meu e de toda Manhattan. Mas nenhum atributo dele me parece mais atrativo do que meu trabalho, e o que posso fazer com ele, ao lado de um dos homens mais ricos de Nova Iorque, e eu não arriscaria isso por um flerte com Brad.

– Você é um pesadelo, Natalie Parker. – ele diz ironicamente.

– Eu sei que você não quer realmente dizer isso. – pisco pra ele e cruzo os braços vendo-o esfregar o rosto.

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