Capítulo 30

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Brad

A música que estava tocando enquanto eu lia uma papelada do trabalho continua de fundo pra minha noite no chão com Natalie. Agora todas as vezes que eu escutar minha playlist vou inevitavelmente pensar nela, nos flashes de imagem de seu corpo no escuro da sala, do sorriso em sua boca quando a encarei tentando verificar se estava mesmo acordado ou só sonhando novamente em tê-la nos meus braços.

Repasso na minha mente todos os momentos do dia. Algumas doses pra aliviar a tensão depois do trabalho e a memória de um sofrimento que eu conheço muito pouco. Eu nunca amei ninguém ou sofri por alguém como agora. Então banho, música e trabalho até que meu interfone tocou e parou. Todos os moradores têm acesso às câmeras de segurança do prédio.

Assim que liguei a televisão pude ver a imagem em preto e branco de Natalie, indecisa no saguão de entrada, conversando com Sr. Gomez, um declarado membro de seu fã-clube, junto com Edward. Era descer ou me fingir de morto. Meu sangue ferver dentro de mim na mesma hora que eu reconheci a figura pequena e esguia de Natalie nas imagens e o calor furioso dentro de mim não é algo fácil de ignorar. Então eu resolvi descer ao saguão, com o único objetivo de mandar ela embora, com meu orgulho declaradamente ainda ferido e sem nenhuma intenção de perdoá-la por ter dormido com outro homem.

Pretendia olhar Natalie nos olhos e desejar-lhe boa viagem altivamente, um "vá com Deus" que a tiraria de vez da minha vida, me dando a vingança necessária para eu continuar tranquilamente sem ela, pronto para colocar uma pedra de vez sobre o túmulo do nosso pequeno e conturbado relacionamento. Eu quero tripudiar sobre todas as razões que fizeram ela vir parar na minha casa, como se elas não significassem nada pra mim.

Me imagino olhando pra ela e perguntando "o que você está fazendo aqui?" e independente do que ela responder, eu vou replicar "é problema seu, sua ingrata mesquinha e arrogante.".

Que pretensão carrega quem conhece tão pouco o amor. Por nunca ter me apaixonado tão seriamente, eu não imaginava que bastaria que meu corpo estivesse perto do dela pro meu rancor voar pela janela. Já aconteceu antes, obviamente, mas agora eu tinha convicção de estar bem calejado e apto a recusá-la. Eu sei lidar com desejo reprimido, mas não sei lidar com a paixão que me faz um capacho para Natalie pisar.

Ela está linda, com o rosto rubro e os cabelos em ondas amarelo-claro que contrastam como seu próprio interior. Tudo nela é perigosamente frio e quente, ela é dúbia, confusa, uma boneca que brinca com minha sanidade o tempo todo. E mesmo sabendo que ela é a Pesadelo Parker e a armadilha que Edward preveniu, eu continuo me jogando de cabeça, mergulhando nela como quem diz "pode me ferrar de novo, eu sobrevivo". Sei que tão logo ela caia em si, meu coração vai estar novamente em risco. Ela vai embora para outro país e já está claro que eu não sou motivo suficiente para Natalie mudar absolutamente nada em sua vida. Mesmo assim eu a abraço no tapete, satisfeito pela segunda vez por seu corpo, remediando a falta que ela me fez com mais veneno em vez de abstinência.

Eu só queria mandar Natalie embora, e agora a agarro entre meus braços e procuro sua boca com a minha. Ela me toca como se eu estivesse escrito em braile, com as pontas dos dedos me guardando em sua reminiscência tátil. Seus suspiros recheados da voz rouca me preenchem as veias de algo que eu não quero que acabe em vez da raiva de antes, mas não me iludo mais com ela.

– Sinto muito ter magoado você. – ela sussurra assim que seus lábios desencostam dos meus.

Meu coração ainda não está nem remendado de ter se partido, não sei exatamente como responder. Eu não consigo desculpar o fato dela ter transado com Logan, mas o que sinto por ela supera isso em intensidade.

– Você ainda vai me magoar mais, Natalie. – sei que vai.

– As coisas não são o que parecem, Kensington. Sei que pareço egoísta e fria pra você.

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