Capítulo 26

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Brad

Meu celular vibra e eu o ignoro o quanto posso, até jogá-lo na parede e vê-lo se partir em pedaços. Eu não quero ouvir Natalie enquanto a raiva pulsa mais forte que o sangue em mim. Sei que estou sendo irracional em diversos pontos, mas meu ciúme é inevitável. Eu deixei claro que não quero dividir Natalie, e é só o que estou fazendo, mesmo que seu relacionamento com Edward seja "de mentira". Falar com ela agora vai causar só mais uma briga que não estou disposto a enfrentar.

Minha cabeça está confusa, dolorida e sem qualquer chance de clarear meus pensamentos tão cedo. Eu quero acreditar em Natalie quando ela diz "é só você", mas então ela sai com Edward e Logan, e eu entro em parafuso, imaginando que eles veem nela o mesmo que eu.

Tenho uma adoração gigante por Natalie e isso me tira da razão, completamente. Quero acreditar que ela realmente sente o mesmo por mim, eu a vi triste e confusa com tantas mentiras e tentei dar apoio, mas dormir na casa de Edward foi um golpe que minha sanidade não esperava. Minha capacidade de raciocínio fugiu tão rápido quanto Natalie fugiu de Barcelona, e eu fiquei cego, inclusive ameaçando Edward.

Eu nem sei mais se tenho um emprego depois disso tudo e me sinto culpado por pensar assim, porque recriminei Natalie pela importância que ela dá a seu trabalho. Só consigo xingar e parecer um imbecil hiperativo batendo a bola de basquete no chão do apartamento. Obviamente tiro o dia de folga do trabalho que nem sei mais se tenho, me encho de autocomiseração e vodca. Parece uma coisa clichê e certa a se fazer quando seu coração está partido.

Eu tenho feito isso bastante ultimamente, mundialmente, diga-se de passagem.

Natalie conseguiu partir meu coração em Nova Iorque, na Grécia, em Barcelona e na Itália. É quase uma volta ao mundo em 80 dias, mas uma bem trágica e cheia de toques etílicos onde eu tento deixar de sofrer substituindo o sangue e a raiva por álcool.

As aulas de literatura finalmente fazem sentido, eu me lembro que o Romantismo foi uma época cheia de cirroses e doenças relativas à vida boêmia. Se o amor não morre afogado na bebida, morre quem abriga o amor inevitável, desiludido e bêbado. Aviso o porteiro que não quero receber visitas de ninguém, com a voz alterada e melancólica eu peço e ele concorda.

– Nem da Srta. Parker? – ele ainda insiste. Maldito homenzinho intrometido.

– Especialmente dela. – caralho, dói. – Se ela aparecer, diga pra dar meia volta. Só me ligue se o prédio estiver pegando fogo.

– Entendido, Sr. Kensington.

Passo a corrente na porta, para garantir que Natalie realmente não consiga abrir mesmo se passar pelo Sr. Gomez. Pode ser infantil, mas eu preciso ficar sozinho. Entro no meu novo escritório só pra me martirizar mais um pouco, já que o ambiente todo grita "Natalie Parker" em voz alta. Ela não escolheu somente a cor da tinta, ela colocou as cortinas, arrumou a mobília e ordenou meus livros, que estavam guardados em caixas há tempos. Eu os colocaria nas prateleiras por assunto, mas ela os arrumou por cores, pouco ligando para seus conteúdos.

Lembro de Natalie sentada sobre a mesa onde está meu laptop, com as pernas abertas pra me receber logo depois que terminamos de arrumar tudo. É quase como se eu pudesse sentir o cheiro dela, como um animal faminto e desesperado. E pra terminar de vez comigo, encaro as fotos na parede. É o gran finale pra minha fossa.

Deito na cama, tonto e bêbado. Não sei dizer quanto tempo dormi, nem se fui procurado por alguém, incomunicável sem celular e enclausurado no meu apartamento. O dia está claro. Já é o dia seguinte. Não me sinto melhor, nenhum pouco, e além de tudo ainda tenho que lidar com a ressaca.

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