CAPÍTULO 77

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— e por acaso eu tinha que me cuidar sozinha? A culpa é sua que não gosta de usar a merda da camisinha!
Ele passa a mão no rosto.
— porra Beatriz, eu só tenho dezenove anos, uma vida inteira pela frente, vou fazer o que agora? Como vou falar isso para os meus pais?
— na hora de fazer não pensou nisso, né? -digo fria. A raiva me dominava.
— você tinha que ter se cuidado! -murra a parede.
— sai da minha casa!
— você tem certeza que esse filho é meu?
— sai da minha casa agora! -grito pausamente.
Ele sai da cozinha e vai para o quarto e pega suas coisas e sai, batendo a porta e cantando os pneus do carro. Me sento no sofá e choro. Não acredito que isso está acontecendo. Primeiro a gravidez, agora isso? Eu sabia que ele não ia aceitar, mas duvidar que é dele é demais! Eu saio com ele todas as noites, seria de quem? Do meu dedo, só se for.
Uma raiva corre em minhas veias. Raiva de tudo. Tento me acalmar, querendo ou não eu estava grávida e essa agitação faria mal para o bebê. Se é pra ter um filho, terei um filho direito. Será muito bem criado, não irá faltar nada, nem que pra isso eu tenha que trabalhar dia e noite, ele não vai passar fome. Encosto no sofá, fecho os olhos e respiro fundo. Esqueço um pouco de tudo, dos problemas, da vida. Esqueço não, tento esquecer. A cena do que acabou de acontecer, as dúvidas de Caio, o jeito como eu o tratei, tudo, não saiam de minha cabeça. Eu tentava apagar tudo, esquecer, mas me recordava de cada detalhe. Coisa que estava me fazendo mal.
Mas o pior ainda estava por vir. Junior. Ele vai aceitar, mas ele vai querer matar o Caio. E no momento, o que eu mais quero é distância dele. Ontem disse que me amava e hoje isso, belo amor. Pode até ter me mostrado que dá pra fazer amor, mas só reforçou a minha opinião de que o amor não existe. Se existisse, depois do que ele me disse ontem, ele estaria aqui agora e não sabe lá onde. Me apoiaria, mesmo eu não me apoiando. Também, tanto faz! Chega! Esquece isso tudo. Vou para a cozinha, pego um copo de água com açúcar e bebo. Tento me acalmar. Meu celular toca, Francielly. Atendo.
— oi.
— e aí, o que aconteceu?
— não quero falar sobre isso. -me sento no sofá novamente.
— você está bem?
— bem eu não tô, né. Mas eu vou ficar.
— daqui a pouco eu chego em casa e a gente conversa.
— eu vou sair.
— vai sair? Vai pra onde? Está louca?
— não Fran, eu vou na faculdade. Vou trancar. Não vai ter como eu pegar e é melhor eu fazer isso agora do que esperar pra depois.
— não vai ver o que o Junior acha sobre isso? Espera ele chegar.
— não vou contar pra ele. Pelo menos agora não. E a faculdade depois eu faço outra, uma mais barata, mais popular, sei la.
— amiga, você ta pensando tudo isso de cabeça quente. Espera um pouco.
— já está decidido! E você nem pense em falar qualquer coisa para o Junior, ouviu? Eu vou sair procurar emprego enquanto essa barriga não cresce, vai que eu de sorte e consiga qualquer coisinha. Sem faculdade qualquer coisa está bom.
— você está fazendo besteira.
— estou? Será? Pra mim é o certo. Se não for também, deixe. Uma hora se acerta.
— você não é a minha amiga.
— não sou a sua amiga de antes que pensava em como dar uma vida boa para o irmão. Agora eu penso em como dar uma vida boa para alguém que vai nascer.

Maquiagem Borrada - Caio CesarOnde histórias criam vida. Descubra agora