Maquiagem Borrada - Caio Cesar

CAPÍTULO 92

Viro o carro e vou em direção ao Pecing. Pago e entro.
— Olha quem resolveu aparecer, estava sumido. -diz uma mulher vindo em minha direção.
Todas as vezes ela tentava alguma coisa, mas eu nunca dei bola, meu foco era outro.
— a Beatriz tá aqui? -pergunto.
— quem é essa?
— que horas começa?
— as nove, já se esqueceu?
Não respondo, vou para próximo do palco principal e me sento. Não demora muito e começa. Dançarinas entram em todos os palcos, mas nada dela. O palco principal continua vazio. Quando ela dançava aqui ele era dela. Será que continua sendo? Prefiro não pensar nisso, deve ser tudo coisa da minha cabeça e ela não está aqui. Mas se não estiver aqui vai estar onde? Não sei o que é pior.
— com vocês, a pantera desaparecida! -anunciam.
A cortina se abre e ela entra. Era ela. De imediato não acredito. O que ela está fazendo aqui? Grávida como está veio aqui para que? Mas algo em seus olhos me chamava atenção. Além da maquiagem Borrada ele não estava com sempre. Não estava radiante, não estava contente. Ele transbordava de tristeza, raiva, medo. Sua expressão nem carregava um sorriso, coisa que eles obrigavam todas as moças fazer. O que aconteceu? De repente ela se abaixa e me olha.
— o que ta fazendo aqui? -diz só com os lábios.
— sai desse palco agora! -faço do mesmo jeito.
Ela pega o dinheiro que estava no chão e sai. Vou até a lateral do palco e dou um jeito de entrar.
— você ta achando que pode entrar aqui dançar cinco minutos e depois sumir? Se quer dançar, que dance direito! -escuto alguém dizer.
Entro na sala onde ouvia os gritos.
— me solta, Fabrício!
— solta ela! -o empurro e dou um murro em seu rosto.
— quem é você? -ele me olha- Seguranças! -grita.
— sai daqui Caio!
— o que você está fazendo aqui? -pego em seu braço- Não vê que isso vai fazer mal para o bebê?
— que bebê? -aquele homem pergunta. Tá pedindo outro soco!- Você está grávida?
— não estou. -puxa o braço.
— lógico que está! -afirmo.
— não, eu não estou, Caio!
— mas...
— eu perdi! -grita- Eu perdi. -se senta- Estão felizes agora?
Por isso que ela veio aqui. Por isso bebeu. Por isso está desse jeito. Mas por que não me ligou? Por que tinha que vir justo aqui? Por que ele?
— eu vou chamar os seguranças! -sai batendo a porta.
— o que tá acontecendo, me conta? -me abaixo em sua frente- Ele te faz sofrer e mesmo assim você vem pra cá, por que? Não vê que a gente é o melhor você? -abaixa a cabeça- Confia em mim! Até quando vai sofrer assim? O que tem nele que falta em mim? Diz!
Ela não responde, parecia chorar.
— pra que chorar se você pode sorrir? -me levanto- Você tem cinco minutos pra se decidir, se eu fico pra sempre ou vou desistir. -respiro fundo e me encosto na porta- E ai?