**Beth**
Olho para a colina e vejo a luz do horizonte, eu preciso alcançar a estrada. Volto meus olhos para trás e encaro o rastro de destruição que o carro fez ao sair da estrada e rolar ribanceira abaixo.
Fecho meus olhos e posso ouvir novamente os gritos, eles me deixam desesperada. Mas, o silencio é mais desesperador do que qualquer barulho. Preciso ouvir suas vozes. Porque não ouço mais as suas vozes? Minhas pernas estão dormentes de frio, subo mais alguns passos e meus joelhos vacilam, desabo sobre as pedras, arranhando a pele, espero sentir a dor, mas não sinto nada, apenas vejo o sangue fluir pelo corte, não sinto nada. Volto a subir e a cada passo sinto que estou mais longe, o topo da colina nunca chega. Minha visão começa a ficar embaçada e o frio diminui, me sinto quente novamente, algo afaga meu rosto, porque me sinto segura? Estou no meio de uma mata fria e escura, mas mesmo assim me sinto quente, me sinto em casa.
- Ei – Uma voz soa ao fundo da minha mente – Está tudo bem, você está bem.
- Estrada – Sussurro – Preciso chegar a estrada.
- Não linda, não precisa, apenas durma, você está bem.
** Nicolas **
Não consigo dormir direito durante a noite, estou inquieto, ansioso, quando ouço os passos de Beth descendo as escadas pulo da cama e desço correndo. Encontro-a novamente com os olhos fechados, tentando sair pela porta, fico desolado, a mente dela volta para o passado e seu corpo age automaticamente, ela precisa sair do fundo da colina, precisa salvar a família, mas como posso dizer que eles não podem mais ser salvos? Que ela sonha com a mesma noite por 7 anos? Como falar que meu irmão e eu dormimos preocupados todas as noites depois de a encontrarmos no meio da rua em uma madrugada fria, de pijama, chorando e andando sem rumo? Tínhamos apenas 10 anos e naquela noite decidimos que iriamos protegê-la.
Puxo Beth para meus braços, ela se aconchega em mim, vejo Lucas me olhando do topo da escada.
- Ela se machucou? – Ele pergunta com os cabelos despenteados. É como olhar em um espelho, somos gêmeos, idênticos, poucos sabem nos diferenciar. Olho para meus braços e vejo a menina que tem essa percepção, a única que nos conhece tão profundamente como nossa mãe nos conhecia. A única que conhece nossas diferenças, por mais que não sejam externas, o mais importante, ela conhece a nossa essência.
- Não – Respondo, passo os braços por baixo das pernas de Beth e vou em direção a porta do quarto dela, sem fazer barulho, precisamos manter silêncio, os Alves não podem nos escutar, não novamente – Ela estava batendo contra a porta novamente.
- Merda mano, precisamos deixar a porta dela trancada – Ele fala se aproximando de mim enquanto coloco Beth cuidadosamente em sua cama.
- Você sabe que não podemos, se ela começar a trancar a porta irão começar a se perguntar o porquê, ela não quer voltar para a clínica, vamos ter que manter como estamos fazendo, assim a manteremos segura.
- Mas Nicolas, temos apenas 4 meses aqui, cara, 4 meses. Ela irá completar 18 anos após 2 meses da gente, nesses 2 meses vai dar merda, eles vão descobrir.
- Lucas – Falo cobrindo Beth com a coberta de borboleta que demos a ela no aniversário de 13 anos – Vamos dar um jeito, mas não agora, precisamos dormir um pouco, daqui 4 horas a casa inteira vai estar acordada.
- Você fica ou eu? – Ele pergunta olhando para Beth dormindo calmamente em sua cama.
- Pode ir pra sua cama, eu fico essa noite – Subo calmamente na cama e me deito ao seu lado, de imediato Beth se aconchega em mim.
- Tente dormir mano – Lucas fala saindo do quarto. Retiro uma mecha dos cabelos castanhos avermelhados de de seu rosto, ela dorme serenamente, de imediato volto a 7 anos atrás, a primeira vez que a vi. Encolhida no canto do sofá da sala, o cabelo mais curto, na altura dos ombros, preso com um rabo de cavalo baixo, mas o que me impactou foram os olhos, grandes olhos verdes me olharam de volta, escuros e tristes, sua pele que hoje em dia é rosada, estava pálida, o rosto com um curativo desde a sobrancelha esquerda até o meio da bochecha e um braço imobilizado. Assim que ela olha para meu irmão e eu, pisca freneticamente, acredito que tentando entender como havia dois de nós, apenas a cor da blusa era diferente, de resto éramos o reflexo um do outro. Lucas como sempre mais extrovertido, se aproximou e sentou ao seu lado, a Senhora Alves observava da porta e o Senhor Alves sentado ao lado de Beth, permaneci na porta apenas observando. Lucas falou alguma coisa, algo engraçado com intuito de criar um clima mais leve, fez os Alves darem risada, mas ela não esboçou nenhuma reação. Beth voltou seus olhos novamente para mim, em silêncio nos entendemos, ela não tinha vontade de sorrir, sua alma estava triste, assim como a minha.
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No alto da colina - Série Perfeição Livro 1
RomancePerder os pais é uma das piores dores da vida, ainda mais quando se é criança, Beth se vê perdida ao chegar em um lugar totalmente desconhecido, mas encontra em lindos olhos cor de mel o conforto de que precisa. Dois irmãos se tornam o seu refúgio...