Beth
Sinto cheiro de café fresco e sou obrigada a descer as escadas e ir em direção a cozinha, meu estomago resmunga que não vê comida a muitas horas. Passando pela porta encontro Thomas sentado na bancada, como sempre, lendo seu jornal.
- Pedi para Marli fazer panquecas – Ele abaixa o jornal e me olha com um sorriso ameno nos lábios – Eu não sei o que você gosta de comer, nunca conversamos sobre isso, mas pode pedir qualquer coisa que ela irá fazer o que você quiser, ela cozinha muito bem – Amo panquecas, era muito raro comer panquecas na casa do Alves. Quando me sento a mesa, a mulher na beira dos 50 anos, morena dos cabelos cacheados coloca uma porção de panquecas diante de mim.
- Tem geleia e mel – Ela fala me mostrando os acompanhamentos.
- Obrigada – Encho minha panqueca de geleia de frutas vermelhas, e me delicio com elas, estão simplesmente perfeitas, não sei se é porque estou com bom humor, me sentindo a garota mais feliz do mundo, mas pela primeira vez me sinto bem em estar nessa casa.
- Então... – A voz de Thomas repercute pela cozinha – Como estão as aulas de teatro?
- Ótimas – Respondo dando mais uma mordida generosa na panqueca – Estamos ensaiando para uma peça.
- Que maravilha, qual é a peça?
- Romeu e Julieta.
- Intenso – Ele fala - William Shakespeare era um pensador muito intenso.
- Eu acho que ele era maluco – Me surpreendo como a conversa está tranquila – Muito drama, mas enfim os professores de teatro adoram isso.
- E você não gosta?
- Gosto mais de peças contemporâneas, coisas mais atuais sabe, que retratem mais a nossa vida hoje em dia, não como a 100 anos atrás.
- Você tem um ponto interessante aí mocinha, mas arte transcende gerações você não acha? A música, por exemplo, uma boa música é ouvida por gerações e nunca perde a sua essência.
- Pode não perder a sua essência – Bebo um gole do suco de laranja que Marli coloca diante de mim – Mas não é interpretada da mesma forma.
- Isso é verdade. Mas voltando a peça, quem você será? Julieta? – Engasgo com o suco.
- Sem chances, com certeza serei mais uma figurante que faz parte da guerra entre os Montéqueos e o Capuletos, nunca seria uma Julieta.
- Porque não?
- Nenhuma Julieta tem isso na cara – Falo apontando a minha cicatriz. A marca que carrego do acidente que levou minha família.
- Ah Beth! – Thomas se aproxima de mim cuidadosamente – Não pense assim, podemos ir a um cirurgião plástico para ver se conseguimos retirar essa cicatriz se isso te incomoda tanto – Ele me surpreende com a sua delicadeza. – Pra mim você é linda, mas se te incomoda podemos ir ao cirurgião.
- Nunca pensei nisso – Pulo da cadeira e vou em direção a minha mochila – Não vou gastar o seu dinheiro com isso.
- Dinheiro não é o problema Beth.
- Não – Me volto para ele – Obrigada, mas não. – Olho para o relógio – Droga, estou atrasada.
- Eu vou te levar – Ele fala pegando a chave do carro e passa apressado pela porta. Quando me aproximo do carro, sinto uma sensação estranha, por alguns segundos minha visão fica embaçada, me sinto um pouco tonta.
- Tudo bem? – Thomas fala de dentro do carro enquanto encaro a maçaneta.
- Hum, sim tudo bem, tá tudo bem.
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No alto da colina - Série Perfeição Livro 1
RomancePerder os pais é uma das piores dores da vida, ainda mais quando se é criança, Beth se vê perdida ao chegar em um lugar totalmente desconhecido, mas encontra em lindos olhos cor de mel o conforto de que precisa. Dois irmãos se tornam o seu refúgio...