Capítulo 21

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Beth

Sinto cheiro de café fresco e sou obrigada a descer as escadas e ir em direção a cozinha, meu estomago resmunga que não vê comida a muitas horas. Passando pela porta encontro Thomas sentado na bancada, como sempre, lendo seu jornal.

- Pedi para Marli fazer panquecas – Ele abaixa o jornal e me olha com um sorriso ameno nos lábios – Eu não sei o que você gosta de comer, nunca conversamos sobre isso, mas pode pedir qualquer coisa que ela irá fazer o que você quiser, ela cozinha muito bem – Amo panquecas, era muito raro comer panquecas na casa do Alves. Quando me sento a mesa, a mulher na beira dos 50 anos, morena dos cabelos cacheados coloca uma porção de panquecas diante de mim.

- Tem geleia e mel – Ela fala me mostrando os acompanhamentos.

- Obrigada – Encho minha panqueca de geleia de frutas vermelhas, e me delicio com elas, estão simplesmente perfeitas, não sei se é porque estou com bom humor, me sentindo a garota mais feliz do mundo, mas pela primeira vez me sinto bem em estar nessa casa.

- Então... – A voz de Thomas repercute pela cozinha – Como estão as aulas de teatro?

- Ótimas – Respondo dando mais uma mordida generosa na panqueca – Estamos ensaiando para uma peça.

- Que maravilha, qual é a peça?

- Romeu e Julieta.

- Intenso – Ele fala - William Shakespeare era um pensador muito intenso.

- Eu acho que ele era maluco – Me surpreendo como a conversa está tranquila – Muito drama, mas enfim os professores de teatro adoram isso.

- E você não gosta?

- Gosto mais de peças contemporâneas, coisas mais atuais sabe, que retratem mais a nossa vida hoje em dia, não como a 100 anos atrás.

- Você tem um ponto interessante aí mocinha, mas arte transcende gerações você não acha? A música, por exemplo, uma boa música é ouvida por gerações e nunca perde a sua essência.

- Pode não perder a sua essência – Bebo um gole do suco de laranja que Marli coloca diante de mim – Mas não é interpretada da mesma forma.

- Isso é verdade. Mas voltando a peça, quem você será? Julieta? – Engasgo com o suco.

- Sem chances, com certeza serei mais uma figurante que faz parte da guerra entre os Montéqueos e o Capuletos, nunca seria uma Julieta.

- Porque não?

- Nenhuma Julieta tem isso na cara – Falo apontando a minha cicatriz. A marca que carrego do acidente que levou minha família.

- Ah Beth! – Thomas se aproxima de mim cuidadosamente – Não pense assim, podemos ir a um cirurgião plástico para ver se conseguimos retirar essa cicatriz se isso te incomoda tanto – Ele me surpreende com a sua delicadeza. – Pra mim você é linda, mas se te incomoda podemos ir ao cirurgião.

- Nunca pensei nisso – Pulo da cadeira e vou em direção a minha mochila – Não vou gastar o seu dinheiro com isso.

- Dinheiro não é o problema Beth.

- Não – Me volto para ele – Obrigada, mas não. – Olho para o relógio – Droga, estou atrasada.

- Eu vou te levar – Ele fala pegando a chave do carro e passa apressado pela porta. Quando me aproximo do carro, sinto uma sensação estranha, por alguns segundos minha visão fica embaçada, me sinto um pouco tonta.

- Tudo bem? – Thomas fala de dentro do carro enquanto encaro a maçaneta.

- Hum, sim tudo bem, tá tudo bem.

No alto da colina - Série Perfeição Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora