Capítulo 37

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Beth


Tudo está planejado a mais de uma semana, olho para o banheiro e respiro para tomar coragem. Espero por uma noite que ele pareça cansado. Depois de vários dias comecei a perceber a variação do seu humor, havia dias que Thomas estava animado, sentava na minha cama e ficava falando de como foi a vida na estrada e como gostava de tocar guitarra. Em outras noites ele parecia disperso, simplesmente me trazia a comida e depois se retirava, e houve dias que ele estava visivelmente abatido, triste.

Se ele se preocupa tanto com a minha segurança, se ela estiver em perigo ele irá me socorrer? Levar-me para algum hospital? Se eu fingir um desmaio ele irá facilmente perceber a minha mentira, não conseguiria me manter imóvel. A tentativa tem que ser certeira, não pode passar pela cabeça dele que estou tentando enganá-lo. Vários cenários passaram na minha cabeça e nenhum deles parecia dar certo. A única coisa que eu sempre soube que deixa qualquer pessoa apavorada quando se trata de uma grávida é ver sangue. Me recordo de quando a mãe de um menino do colégio sofreu um aborto espontâneo no meio de uma festa da escola, enquanto ela falava que estava com dor, todos mantinham a calma, bastou o sangue aparecer que o desespero tomou conta de todos. Tenho apenas uma chance, e tenho que fazer bem feito.

Ele parece abatido, deixou a comida no meu quarto e saiu sem falar muito, é a minha chance. Olho para o pequeno espelho em minhas mãos e tremo, envolvo o espelho em uma fronha e pressiono até ouvir o barulho dele quebrar, preciso de um pedaço grande e afiado. Por diversas vezes ele demonstrou que se importava com a minha vida, ainda mais depois de descobrir o bebê, então tenho praticamente certeza de que se o bebê estiver em perigo será uma brecha. Meu plano tem vários pontos falhos, eu sei disso, mas preciso tentar.

- Fique tranquilo meu amor, a mamãe vai sentir muita dor, mas é pra você encontrar o seu papai. – Sussurro enquanto acaricio minha barriga – Não se assuste, fique tranquilo aí dentro.

Medo percorre meu corpo, minhas mãos tremem, meu coração bate alucinado, mas não posso desistir. Estou com uma camisola que vai até o joelho, branca, perfeita para o que eu quero. Sento na bacia do banheiro e afasto as pernas, olho para a o espelho quebrado em minhas mãos, aproximo a ponta afiada da parte interna da minha coxa, bem próximo a virilha. Respiro fundo, uma, duas, três vezes, pego uma toalha e a coloco entre os dentes. Não posso gritar, não posso gritar, repito esse mantra até que a dor me atinge, ela não é piedosa. Fecho meus olhos e vejo o rosto de Nicolas, o imagino com nosso filho nos braços, preciso ser forte, por mim, preciso ser forte por nós. Sinto o sangue começar a escorrer, preciso de uma quantidade de sangue que o faça entrar em pânico, não sei se é melhor aprofundar o corte ou faze-lo maior. A dor aumenta, aperto tanto os dentes que sinto meu maxilar estralar, o sangue escorre pela minha perna, com a mão sujo a parte de baixo da minha calcinha, ele precisava acreditar que eu estou abortando, ele precisa saber que a segunda chance dele fazer sei lá o que está se esvaindo pelas minhas pernas, é um plano arriscado, mas preciso tentar. O corte começa a doer demais, preciso mantê-lo escondido. Encaro o sangue no chão, me levanto e ando lentamente até a cama, andar doí demais, preciso me apoiar na parede, movimentar a minha perna esquerda faz o sangue escorrer, alcanço a cama, respiro fundo, está na hora.

- Thomas!! – Grito o mais alto que posso – Socorro! Thomas, por favor, me ajude, pelo amor de Deus me ajude – De imediato ouço passos correndo pelo corredor e a porta se abrir, com os olhos arregalados ele me olha e vê uma poça de sangue.

- Estou perdendo meu bebê Thomas – Falo em meio às lágrimas. Elas não são de fingimento afinal a dor do corte está muito forte, mas eu suportaria qualquer dor para poder encontrar Nicolas pelo menos uma única vez.

No alto da colina - Série Perfeição Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora