Capítulo 6

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Nicolas

A casa está uma barulheira, as crianças estão correndo de um lado para ao outro e Lucas está brincando de esconde-esconde com elas. Consigo ouvir as risadas dos menores, abro a porta do meu quarto e encontro a pequena Luiza de 5 anos, a procura de um esconderijo, ela olha para a cortina do corredor e vejo em seus olhos o desespero.

- Entre aqui – Falo baixinho – Vem! – De imediato ela corre ao meu encontro e passa pela porta.

- Nic me ajuda, eu sempre perco essa merda de jogo.

- Olha a boca! – falo sem conter a risada – Eu vou te ajudar! – Ela pula de alegria. – Entre aqui no meu guarda roupas.

- Mas é escuro – Seus olhos temerosos me encaram e nitidamente nervosa ela aperta as mãos – Tenho medo do escuro

- Vou deixar a porta meio aberta e vou estar no quarto o tempo todo

- Tudo bem – Ela fala animada, no mesmo instante que ouço Lucas falar no corredor.

- E onde será que se meteu a princesa Luiza? – Ouço o riso abafado de Luiza de dentro do meu armário.

- Xiu, ele vai te ouvir – Lucas passa pelo corredor e me olha pela porta aberta. Com um sinal ele aponta para o armário e eu faço que sim com a cabeça, mas falo sem som "não", ele entende e se aproxima do armário, as risadas abafadas de Luiza continuam. Meu coração se aquece com o calor de alegria que ela emana.

- Ela conseguiu se esconder tão bem que não tenho a mínima ideia de onde ela está. – Rindo Lucas se afasta da porta e vira para o outro lado do quarto fingindo estar procurando por ela. Abro a porta de vagar e falo baixinho para que ela corra, assim ela poderá escapar dele e chegar no local que estará a salvo. Em sua inocência Luiza tenta não fazer barulho, mas quando passa pela porta solta um grito animado e corre corredor a fora.

- Ah sua malandrinha – Lucas corre atrás dela obviamente mais devagar que uma tartaruga para que possa fazer a alegria da pequena.

Luiza como nós é órfã, a mãe morreu no parto e o pai foi preso por tráfico e morreu em uma briga de gangues.

A primeira noite que dormimos nessa casa foi a mais longa de toda a minha vida, Lucas e eu havíamos acabado de completar 9 anos de idade. Duas semanas depois do nosso aniversário nossos pais embarcaram em uma viagem em mar aberto, ambos eram biólogos e se conheceram em uma expedição pela floresta amazônica. A viagem em mar aberto seria apenas para meu pai. Depois do nosso nascimento mamãe se resignou a apenas ensinar na faculdade, mas se sentia presa, ela amava a sensação de aventura, me lembro de quantas histórias nos contou de como foi ver um ninho de crocodilos escondido no meio do pantanal, ou como ficou emocionada em ver vários filhotes de tartarugas marinhas encontrarem o mar pela primeira vez, fazia tudo parecer mágico. Então meu pai percebendo como a falta das viagens afetava sua amada decidiu leva-la na expedição que deveria durar apenas 8 dias. Ficamos em uma colônia de férias, afinal não haviam parentes próximos, meus pais eram filhos únicos e haviam perdido os pais a muito tempo. Os oito dias se tornaram dez, que se tornaram quinze e no final do dia quando voltávamos para o dormitório depois de várias atividades, uma assistente social veio juntamente com o chefe do meu pai nos informar que eles haviam morrido, o barco foi pego por uma tempestade e ambos foram engolidos pelo mar. Simples assim, em uma hora estávamos brincando de cabo de guerra e na outra estávamos arrumando nossas malas para sermos levados para algum lugar. Como viemos parar na casa dos Alves? O chefe do meu pai é irmão de Marissa, Augusto sabia do interesse deles de criarem uma casa de acolhimento para órfãos, a apólice de seguro dos meus pais pagaram por todos os anos de moradia que passamos aqui e nos garante uma quantidade razoável de dinheiro para quando completarmos 18 anos.

- Ela ficou enlouquecida – Lucas fala passando pela porta e me tirando das minhas lamentações – Foi a primeira vez que ganhou essa brincadeira – Rindo como uma criança meu irmão deita na cama ao meu lado e me olha – Será que a Beth se saiu bem na aula?

- Não tenho dúvidas – Apenas de ouvir o nome dela minha mente viaja para nossa conversa na cozinha no dia anterior, por alguma razão senti Beth nervosa com o meu toque. Pergunto-me se ela percebeu que ficar próxima de mim daquela forma me fez tremer por dentro. Seus olhos verdes como sempre tão intensos fixos nos meus me desestabilizaram. Durante a noite ouvimos novamente ela sair do quarto, achei melhor deixar Lucas cuidar dela e como fiz algumas noites ele a levou novamente para cama e adormeceu ao seu lado.

No alto da colina - Série Perfeição Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora