Capítulo 34

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Nicolas


As minhas buscas foram em vão, a polícia me falou várias vezes que não poderiam fazer nada porque ela estava com o seu guardião legal, que não havia nenhum indicio de violência. Simplesmente ignoraram os meus pedidos, os Alves como eu se revoltaram, mas estávamos de mãos atadas, os dias se transforaram em semanas. Pensei por um momento que a dor iria diminuir, mas cada vez que o telefone toca a angustia no meu peito aumenta, sinto um corte na minha alma.

Olho para o envelope na minha frente e não tenho coragem de abrir. Lucas me encara do outro lado da mesa, Arthur mantem sua postura rígida atrás dele, estou começando a me acostumar com a sua presença constante dentro de casa.

- Eles te deram uma chance Nic, você precisa pensar melhor. É uma grande oportunidade.

- Pelo que entendi – Arthur fala sentando-se a mesa – Eles só deixaram você participar do festival por causa do seu desempenho durante todo o curso, entenderam que está passando por um momento difícil. – Depois do desaparecimento da Beth não fui mais as aulas do curso de fotografia, mas como eu poderia ir? Para se tirar uma boa foto, além de qualquer técnica você precisa colocar o seu coração em cada clique, a sua inspiração e eu não enxergo mais nada colorido, a minha vida passou a ser preto e branco, sem graça sem alegria.

- Meninos eu sei que você estão aqui com boas intenções, mas a questão não é que eu não quero, a questão é que eu não consigo, para ganhar o festival eu preciso de fotos boas de verdade.

- Mas você estava trabalhando nisso a um tempão, não é possível que não tenha fotos para usar, eu sei que você já estava separando um material. – Vejo a preocupação nos olhos do meu irmão, sei que ele está sofrendo como eu, afinal ela é importante para nós dois, mas ele tem Arthur ao seu lado e eu me sinto sozinho.

- Vou pensar – Levanto e vou em direção ao meu quarto.

- Nicolas - Lucas chama a minha atenção – Não volte pro quarto, vamos sair fazer alguma coisa, venha conosco, você precisa sair um pouco de casa. – Me volto para eles e encontro olhares apreensivos.

- Obrigada, mas não, prefiro ficar em casa – O som da minha porta se fechando encerra qualquer argumento. Deitado de barriga para cima, encaro o teto branco, tento resistir ao impulso de pegar a caixa que está na minha cabeceira, mas sou fraco demais, puxo ela novamente para meu colo. Logo que abro a tampa um lindo sorriso com o os olhos verdes me atinge. Minha coleção de fotos de Beth é enorme, me recordo do dia que comprei minha primeira câmera, juntei o dinheiro que o chefe do meu pai insistia em nos dar todos os meses, ele se sentia culpado por termos perdido nossos pais. Era uma câmera simples, mas com quinze anos foi a minha maior realização. Meu primeiro clique, a primeira vez que ela registrou uma imagem, minha primeira recordação é uma foto de Beth com uma trança lateral. Ela estava com um vestido verde que combinava com seus olhos e com seu cabelo. Simples e perfeita, a luz do sol estava perfeita no quintal e Beth ria de uma piada idiota que Lucas havia contado, não resisti e registrei aquele momento como se fosse único, sem saber que ela realmente era única. Passo pelas outras fotos, revivo os nossos aniversários, o dia que fomos ao parque, quando ela fez o seu primeiro bolo de chocolate. Recordação após recordação meu coração se aperta. Lembro-me das vezes que a carreguei nos braços quando andava desnorteada no meio da noite, como a sensação de senti-la se aconchegar no meu peito cada dia se tornava mais intensa. Não consigo ignorar a sensação de que ela precisa de mim, da mesma forma que eu sabia que Beth havia acordado sem fazer nenhum barulho, o sentimento no meu peito me dá certeza. Beth precisa de mim.

No alto da colina - Série Perfeição Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora