Capítulo 5

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Na manhã seguinte, despertei antes de todos. A minha noite não havia sido das melhores, pois as recordações do choro, da convulsão, o desespero de todos, e a morte da criança tinham me perseguido durante todo o meu descanso, ou deveria ter sido. Saí do quarto e ouvi um fungado ao meu lado e quando me virei avistei Nicolas sentado no único sofá que existia ali. O semblante caído dele era de dar pena.

— Nicolas, o que faz aqui? — Sentei ao seu lado com o pesar também.

— Acho que passei a noite aqui — ele respondeu com a voz pesarosa e cansada.

— O que está sentindo? — Segurei a mão dele.

Ele inclinou-se para frente, apoiou os cotovelos nos joelhos, cruzou as mãos e suspirou.

— Eu achei que poderia fazer a diferença com essa profissão. Ao fazer meu juramento, prometi pra mim mesmo que nunca perderia uma vida... Mas...

— Mas aprendeu que o poder da vida não está na sua mão. Não importa o quanto se esforce. – Massageei as costas dele. — Como disse Jó: “O Senhor deu, o Senhor tomou bendito seja o nome do Senhor”.

— É muito difícil saber que não podemos fazer quase nada. — Os olhos dele fitavam algo à sua frente e o deixavam inerte.

— Meu amigo, nós, realmente não podemos muitas coisas. — Foi apenas o que consegui dizer, pois o sentimento de inutilidade também pairava sobre meu coração. — Mas eu tenho uma ideia. – Sorri esperançosa para ele.

— O que é?

— Podemos visitar aquelas outras crianças que tratamos. E você verá como a recuperação delas está acontecendo e então lembrar que as vezes o esforço vale a pena. — Eu apertei a mão dele.

Ele apenas assentiu e me abraçou de lado.

Perto da casa da criança, a mãe dela nos avistou e veio toda sorridente ao nosso encontro. A mulher de cabelos longos desejava de todas as formas demonstrar seu afeto de gratidão por tudo que fizemos em favor de sua filha. Ao entrarmos na casa, Quezia, a criança, veio alegre em nossa direção e nos abraçou. Nicolas a pegou no colo com grande satisfação e olhando para mim, disse:

— Às vezes Deus tira e às vezes Ele restaura e é por isso que estamos aqui! — Fiquei alegre com a expressão contente dele ao ver a menina sarada.

Assim que sentamos, Quezia me puxou pelo braço para que eu a acompanhasse até o pequeno quintal. A garotinha queria mostrar os brinquedos dela, e segui com Mariana. Ao chegar em sua casa de brinquedo, ela nos apresentou a bonequinha de pano que a mamãezinha dela havia costurado com todo o amor.

Enquanto começávamos a brincar, escutei vozes de homens entrando na casa e segui para verificar pelas vigas da janela, eram os militares. De repente, meu coração estremeceu, pois me lembrei do soldado da noite passada e eu estava curiosa para o ver à luz do dia, porém, não sabia se ele estava entre aqueles, então parei para ouvi-los.

— Senhora, pedimos desculpa pela demora, mas viemos trazer os suprimentos para sua família. — Aquela voz grave não me era desconhecida.

— Agradeço, contudo, os missionários nos deram uma ajuda enquanto o aguardávamos — a mãe declarou.

— A igreja, de fato, tem servido bem — ele afirmou e tive a certeza pelo timbre grave da voz.

— Posso perguntar o seu nome? — perguntou a mulher.

— Tenente Artur Dantas, senhora.

Meu coração saltou dentro do peito e os batimentos cardíacos aceleraram. Não sabia o porquê daquela sensação de euforia, mas, procurei olhá-lo atentamente.

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