Capítulo 28

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ARTUR DANTAS:

Estávamos há uma semana na fronteira, sofrendo com aquele clima inóspitos e a seca que parecia ruir até nossos espíritos. Há uns três dias começamos a ter problemas com alguns traficantes que tentavam a todo custo passar. Senti-me cansado, irritado e a minha paciência começava a se esgotar.

Era umas 17h da tarde de quinta-feira quando me aproximei daqueles homens de novo, contudo, percebi que havia um novo integrante na equipe. Era um homem magro, de pele morena, uma barba mal feita, tinha um palito entre os dentes e carregava uma espingarda pump. Ele pareceu revestir seus homens de atrevimento que custaria bem caro para todos nós, provavelmente.

— Eu sou o tenente Artur Dantas e vocês só passarão depois de mostrar suas bagagens — falei diante deles. O maioral ao ouvir minha ordem riu sarcástico.

— Não me interessa quem tu é — disse me encarando —, eu vou passar e ninguém vai me impedir — berrou as palavras rodando com a arma para cima, a fim de todos verem.

— Não passará até mostrar a bagagem — disse firme, com a arma em mãos.

— Rapaz, tu não vai querer me fazer testar minha arma, seus... — pronunciou mais palavras deploráveis.

— O tenente disse para mostrar e você irá por bem ou mal! — gritou o soldado Willian, andando em nossa direção. — Minha paciência está se esgotando — disse o traficante raivoso, passando a mão na cicatriz de seu rosto.

— A minha já se foi! — falou Willian o encarando mais perto. Quando ele ia soltar mais palavras, eu me intrometi não queria que ocorresse coisa pior. — Droga! Esses donos de cartéis acham que tem todo poder na terra e esses empregados se sentem da mesma forma.

— Calma, Willian! — eu dizia isso para mim mesmo também.

— Vai deixar passar? — O bandido olhou nos meus olhos, naquele momento eu soube o que ocorreria.

— Não sem antes... — disse, mas ele interrompeu.

— Agora a minha acabou! — ele declarou, cuspindo o palito no chão.

Os sons dos disparos começaram. Os estilhaços dos vidros dos carros deles explodiram. Corremos para trás das árvores e começamos a atirar.
Ao ouvirem o som dos tiros, os soldados escondidos soltaram fogo em direção aos traficantes. Estes se protegeram em seus carros e não pararam de lançar fogo.
De dentro da mata, um dos nossos disparou o fuzil e acertou o carro com os conteúdos roubados e ilegais, acertando dois daqueles traficantes. O tiroteio não parava, eu atirava e voltava a minha posição atrás de uma árvore frondosa.

— Tenente Artur, eu acho que fui acertado! — Willian que estava ao meu lado disse com pouca voz.

Em meio aos tiros, eu olhei para ele que caiu de joelhos e rendeu o corpo no chão. Eu não acreditei quando avistei o corpo morto de um dos meus homens.

A gritaria dos bandidos correndo entre as árvores e disparando para todos os lados, vendo como muito deles também era atingidos e caiam ao chão. No meu espírito pedia ao Senhor para aquilo terminar. Mais traficantes se uniram a eles com o objetivo de passarem todos juntos. Eu vi alguns soldados sangrando. O soltar fogo de uma metralhadora foi o estopim, os tiros de fuzil se intensificaram de dentro da mata. Meus homens eram preparados e acertaram uns cinco, mas vi corpos de outros soldados mortos. Os disparos eram quase ininterruptos.

Indiquei com um gesto para os soldados restantes entrarem na mata ao nosso redor. E assim entramos na floresta. Os traficantes, com a intenção de acertar os soldados escondidos, começaram a adentrar também. Eles ao se aproximarem dos soldados camuflados foram atingidos, nas pernas, braços, clavículas, crânio, e as munições militares estavam quase acabando. Cada um de nós se escondeu em posições e áreas diferentes, ficando sozinhos. Os disparos cessaram, ouvindo-se apenas as folhas secas se quebrando por conta dos passos.

Olhei de soslaio por de trás da árvore e avistei o homem que iniciou os tiros. Ele estava com a arma em posição de ataque e olhava para todos os lados perscrutando o espaço. Estava somente eu e ele ali. Por frações de segundo me avistou iniciando assim os disparos. Corri para outra árvore e adentrei mais a floresta e o mesmo atrás de mim.

No fim, eu me posicionei e levantei o corpo, mirando-o bem, acertei um tiro em seu ombro e estômago. O mesmo caiu de joelhos. Ele olhava para mim enquanto seu corpo desabava diante dos meus olhos, caíndo de costas no chão. Saí de meu esconderijo e andei até seu encontro, parecia ter morrido.

Analisei ao meu redor, vendo o sol já querer se pôr entre as folhas das árvores, eu não sabia onde estava. Era certo que havia me afastado para longe da estrada. Como eu iria sair dali? Dei mais alguns passos no meio daquele lugar quando ouvi:

— Ei! — Virei-me ao som de sua voz falha. — Eu morrerei — disse com o sangue saindo de seus lábios —, mas você irá junto.

E a bala correu em minha direção acertando meu peito, o ardor daquele pequeno objeto entrando em meu corpo fez tudo queimar dentro de mim. Virei de costas na vã tentativa de correr, no entanto mais dois tiros acertaram-me por trás. Lançando meu corpo ao chão.

A dor era agonizante. Olhei para ele, já morto no chão. Eu coloquei as mãos sobre meu peito procurando aliviar minha intensa falta de ar, mas as roupas pesavam sobre mim e a sensação de dar meu último suspiro se aproximava.  A minha visão embaçou. Senti sobre nos meus dedos o sangue percorrer sobre minha grossa farda.

— Senhor, recebe meu espírito, cuide da minha filha — falei com o meu resquício de voz, olhando para a última luz do sol e tudo se apagou.

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