Capítulo 29

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LIA RODRIGUES:

“A vida é feita de momentos” ouvi isso uma vez, mas não tinha certeza se isso era verdade. “Um dia teremos uma história para contar...” Talvez isso acontecesse mesmo. No entanto como alguém um dia afirmou “(...) Por hora não parece que estamos fazendo uma história enquanto caminhamos no meio dela, parece na verdade uma grande confusão e incômodo”.* Assim é a vida: uma grande imensidão e, sinceramente, temos dias que não sabemos que caminho seguir.

Nisso, eu meditava acerca da brevidade da vida, depois do aborto de Iara. Ela é muito curta e devemos conduzi-la no caminho certo enquanto é tempo. Os nossos esforços, trabalhos, construções, amores e família tudo é emprestado a nós para um propósito e por um determinado tempo, como disse Jonathan Edwards.

Deus me dizia claramente naquela manhã de sábado: “A vida é minha, tudo é meu!” e junto com essas palavras trazia essa meditação. Não entendia direito o porquê, no entanto, nunca ouvi tão nítido a voz do Senhor ecoando no meu coração. Como declarou Jó: “O Senhor deu, o Senhor tomou, bendito seja o nome do Senhor”. Questionamentos surgiam em minha mente: “Lia, você me amará mesmo que eu lhe tire tudo? Eu e, somente Eu, serei suficiente para você?”.

Ainda refletia quando a porta da casa se abriu com rapidez, e eu perguntei quem era. Mariana se apresentou e chegou perto de mim, com certa cautela.

— Lia, você está bem?

— Estou. Por que a pergunta?

Ouvi seu profundo suspiro e prologando silêncio. Aquilo começou a me agoniar.

— Aconteceu algo?

— Bom, é...

— Pelo amor de Deus! Me diz o que houve? A Iara piorou ou aconteceu algo com alguns dos nossos jovens?

— Não, nada disso.

— Então?

— Lia, eu preciso que você fique calma. Tudo bem?

— Agora que não ficarei calma. Fala, mulher! — Toda minha paz de espírito tinha evaporado naquela hora.

Ela tocou na minha coxa e disse:

— Contaram ainda pouco que houve um tiroteio da fronteira e...

— E...? — Eu estava a ponto de dar um grito.

— Alguns homens morreram.

— Oh, não! Não! Não! — Eu dei um grito que não podia mais segurar. — Meu Deus! O meu sofrimento nunca terá fim?

— Lia, não se aflija antes do tempo — Mariana disse, na vã tentativa de me consolar.

Eu não queria escutá-la e nem ninguém. Queria ir na fronteira fazer alguma, procurar alguma coisa. Eu tentei me levantar, mas o solavanco foi tão forte que voltei para trás. Estava vivendo um caos que eu nunca imaginaria. Eu não tinha minha visão, não tinha minha família, agora não tinha o Artur. Não tinha nada!

— Lia, por favor! Você terá um infarto desse jeito.

— Mariana — eu segurei o seu braço —, você está vendo o que Deus fez comigo? Ele me tirou tudo! — Eu não podia vê-la, mas sentia sua respiração ofegante. — Ele me trouxe para essa missão a fim de me destruir por completo. Seus açoites sobre minha vida não têm fim. Eu nunca pensei que passaria por um deserto tão terrível como esse.

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