Capítulo 3

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Na manhã seguinte, uma voz feminina me acordou.

— Lia, acorde já está tarde.

Virei-me para o outro lado, esfregando os olhos e me espreguiçando, disse:

— Tudo bem, Jamile, obrigada. — Afundei minha cabeça no meio da rede de novo. 

— O café está pronto — ela informou, e eu assenti com um resmungo abafado.

Ouvi a porta sendo fechada, ela havia partido. Me levantei e fui ao banheiro. A água estava alojada em uns baldes e a privada não se encontrava muito limpa (fiz cara de nojo), mas tudo bem. Não demorei com minha higiene matutina, e logo segui ao encontro dos demais.

Nicolas e os jovens já estavam preparados, me uni a eles. Juntos oramos e lemos as escrituras, a fim de que o Espírito Santo nos fortalecesse. As meninas estavam abatidas e com medo, depois da noite difícil, mas a palavra os fortificou e tornaram-se esperançosos. Fiquei agradecida a Deus por isso. Ninguém – a não ser Ele – poderia tornar nossos corações firmes neste propósito.

Andamos pela comunidade e notamos como era bem jeitosa. As casas eram lado a lado, possuía um campo de futebol e na parte da frente para o rio tinha uma pequena praça, uma escola, uma igreja e um pequeno espaço aberto que poderíamos excitar algumas atividades. Chegamos à casa de Tereza para saber se ela poderia nos acompanhar até as famílias adoentadas, as quais ela se referiu no dia anterior. Ela aceitou e partirmos.

Na primeira residência, havia a criança doente, com febre alta, tosse, náuseas e vômitos. A mãe de longe nos avistou. Já perto, ela no olhava com desconfiança, mas Tereza explicou nossas reais intenções e fomos aceitos. Nicolas examinou a menina e deu para a mãe a dosagem de remédio necessário para tratar a doença, que não era grave. Os outros jovens distribuíram um do kits que havíamos montado. O pai da família ficou agradecido com aquele gesto de solidariedade dirigido a eles, percebi quase cair uma lágrima dos seus olhos.

Após algumas outras visitas, concluímos que a comunidade estava passando por uma pequena Epidemia de Influenza, que afetava mais crianças e idosos. Aquela estação seca ajudava para piorar ainda mais. Resolvemos nos dividir em duas equipes. Nicolas e alguns jovens. Eu e outros, mas Larissa ia comigo pra atender os necessitados. Visitamos outras famílias e os problemas respiratórios eram majoritários. Enquanto os da área da saúde faziam seu serviço com os doentes, nós, conversávamos com outros familiares sobre a vida e o Senhor.

Voltamos para a nossa residência já perto das 16h. O cansaço predominava, porém, um sentimento de satisfação nos visitou. Corremos para se limpar e cozinhar antes que a noite chegasse. Depois que averiguei os nossos recursos, percebi que logo se acabariam. Deveria – com urgência – escrever para igreja solicitando mais mantimentos, principalmente, remédios.

O jantar havia sido servido e os rapazes comiam como se não houvesse amanhã. De certa forma, era engraçado, todavia alertei sobre o comer desenfreado e eles se conteram.  Depois que boa parte da equipe dormiu – isso era às 23h. Eu estava indo me recolher quando Nicolas se aproximou para conversar. A aparência dele não era das melhores.

— Lia, as condições aqui estão bastante complicadas na questão de saúde. Esse vírus da Influenza tem contaminado toda a comunidade. Com a seca, pouca imunidade deles, a situação de muitos tem se agravado e entrado numa pneumonia. Sinceramente não sei o que faremos — desabafou, sentando no sofá e jogando o corpo para trás.

— Eu sei. — Sentei ao lado dele. — E estou preocupada também, mas creio que Deus tem algum propósito. Ele sempre tem.

— O risco de contágio é alto. Até mesmo nós. Não estávamos prontos para isso.

Ficamos em silêncio por um momento. Não esperávamos que a comunidade estivesse afundada num surto viral de gripe, que pelas poucas condições estavam se deteriorando um pouco.

— Tudo que podemos fazer é servi-los da melhor forma e crer. Não é para pregar sobre o Deus que pode todas as coisas que estamos aqui?

— Você está sempre com essa fé! — ele disse e sorriu.

— Para ser missionária é necessário doses grandes de coragem e fé. — Dei um empurrãozinho nele.

— É verdade! Apesar de todas as coisas, sinto que Deus realmente me chamou para estar aqui — ele falou, passando as mãos entre seus cabelos castanhos. — Mas vai ser bem mais difícil do que as outras vezes.

— Nem ouse duvidar! Tenho visto o Senhor lhe usar grandemente. Precisamos orar para mais homens como você, Nicolas.

Ele corou um pouco envergonhado com aquele elogio — sabendo que era verdade — principalmente, vindo de mim, sua maior amiga.

— O que será de nós dois daqui a um tempo? —ele perguntou, fitando o teto.

— Não faço ideia! — Gargalhei e ele se juntou a mim.

— Vamos orar. — Segurei na mão dele.

— Sim, o alicerce de tudo isso aqui é o Senhor Deus. — ele declarou e confirmei com a cabeça.

Nós dois sabíamos o que Deus podia operar através da oração. Vimos Ele curar por meio dela, abrir portas, converter almas perdidas...

— Jesus amado, graças te damos por mais esta oportunidade de Ti servirmos. Que o Senhor manifeste a sua graça e nos ajude a servir essas pessoas para que assim Teu Santo Nome será glorificado e as pessoas abençoadas. Em nome de Jesus. Amém.

Nos despedimos e fomos para os nossos aposentos. Ao repousar minha cabeça no colchão, pensei nas palavras de Nicolas: “O que será de nós daqui a um tempo?”. Eu realmente não sabia a resposta. E olhando para aquele lugar, a sua condição de vida precária, aquela epidemia de Influenza percebi que Deus poderia ter nos posto no olho do furacão.

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