Capítulo 6

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Na virada do outro dia, passamos a manhã visitando mais famílias e, ao entrar numa das casas, vimos uma gritaria sem fim. Não era um grito normal, parecia sufocado e também perturbador, a criança passou por nós e começou a bater as mãos de forma estranha. Fiquei assustada.

Os pais da garotinha discutiam, eu olhei para os outros jovens, que tinham um questionamento no olhar. A criança correu até nós e me abaixei, perguntando seu nome.

Ela não respondeu. Repeti a pergunta, mas em vão. Ela saiu alvoroçada de novo.

— Estranho isso. — Nicolas, ao ver aquilo, pôs o dedo indicador no queixo e franziu o cenho, pensativo.

— E o que faremos para ajudar essa família? — Eduardo, que estava atrás de nós perguntou.

— Para falar a verdade, não sei. — Murchei os ombros.

Os pais se apresentaram a nós, que ainda estavamos parados na porta da casa. A mãe tinha um olhar aflito e percebi que as lágrimas estavam para saltar de seus olhos.

— Desculpa, mas ela é assim e não sabemos o porquê. — A mulher de pele morena passou as mãos cansadas pelo cabelo.

— Não se preocupe, estamos aqui para ajudar. — Só queria saber um jeito de ajudar mesmo.

Ela nos contou o quanto a criança nunca conseguia dizer nada e somente gritava, chorava e fazia pirraça para qualquer coisa. Enquanto ela nos contava, chegou na casa Jamile, Mariana e Tiago, que atendiam uma situação de extração de dente em outra casa, já que Tiago era odonlogista. Jamile ouviu parte da conversa.

— Ela não fala? — A sobrancelha de Jamile se ergueu em questionamento.

— Não. — Nicolas foi enfático.

— Curioso... — ela afirmou num tom de voz desconfiado, mas, logo se achegou ao fogão, não muito distante de nós.

— Por quê? — eu perguntei e mamãe franziu o cenho.

— Por nada. — Deu de ombros, mas proferiu: — Na verdade, estou pensando em algo. Quando tiver a certeza, eu direi.

Todos olhamos para ela, mas Jamile resolveu se calar, para aumentar nossa ansiedade, e continuou a ouvir a mãe da garotinha.

A criança era um ser muitíssimo estressada, tinha uns ataques que nos deixavam assustados. Nicolas me encarava em alguns momentos, como se eu pudesse ter resposta para aquilo. Senti todo meu corpo tencionar. Oh, Deus, como eu era falha!

A mãe nem conseguiu terminar a conversa quando vimos a menina correr para ela e tentar dizer algo e não conseguindo se irou iniciando seus ataques, jogando as coisas no chão.

–Misericórdia! Segura a menina! – ordenei, levantando-me rápido e indo até sua direção.

Ao alcançá-la com as mãos, ordenei que deveria parar e, num relapso, senti um estalo no rosto. Não acreditei! Olhei para Nicolas, de pé do meu lado, os olhos deles se arregalaram e a boca entreabriu. Eu havia levado um tapa na face.

A menina começou a se debater nos meus braços. Nicolas tentou me ajudar, mas a violência dela o acertou também. e Os jovens tentaram auxiliar e, ao me virar para trás, percebi que Jamile estava de longe nos observando. Eu não entendia a sua reação diante do cenário de estresse que estávamos passando e – para completar – do nada ela riu.

Todos nós, os jovens e os pais da menina, pararam e dirigiram seus olhares a ela. Nicolas, ao constatar aquela postura de nossa colega, ficou com uma expressão de raiva na face.

“Como poderia rir de uma situação assim?” – O olhar de todos fazia essa indagação.

— Me desculpem!  — Ela colocou a mão sobre o peito e engoliu em seco, vendo que sua postura era incoerente. — Só nunca pensei que presenciaria isso. Queria saber se era verdade mesmo, assim como me disseram — Jamile se explicava, andado em direção a nós.
 
Todos ficaram confusos e a olhei com questionamento.

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