Capítulo 23

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No jantar, todos nós estávamos reunidos comendo e só se ouvia a respiração e os talheres raspando no prato. Após nossa conversa, Nicolas não falou mais nada. Ele estava estranho no seu comportamento. O que seria? Mas não perguntaria nada por enquanto.

Terminei de comer, peguei minha vara e parti para o meu tronco, queria respirar ar puro. Aquele caminho eu decorei e conseguia me movimentar ao menos de casa para ele.

— Eles estavam muito calados hoje — ouvi o timbre de Mariana se achegando.

— Sim, o Nicolas parecia muito pensativo, quase não comeu nada — Jamile estava perto também. As duas sentaram-se. Senti o braço de cada uma me tocar de cada lado.

— Tiago não falou nada e ficou quieto o dia inteiro — Marina falou.

— Não me encontrei com o Artur para falar algo. — Ri e as meninas também.

— Falar de mim o quê? — O tom grave de Artur ressoou por trás. No mesmo instante meu coração se aqueceu. Estava com saudades dele.

— Nada, estamos entrando — Jamile disse e elas partiram.

Artur sentou-se ao meu lado e respirou fundo. Parecia cansado.

— Como foi seu dia? — ele perguntou.

— Foi bem comum. — Dei de ombros. — E o seu? Certeza que teve muito mais aventura do que eu.

— E muita exaustão também  — ele disse com uma risada.

Ele encostou quase me fazendo cair, com sua gracinha, e senti a aspereza do tecido de sua farda.

— Aí! Esse tecido machuca minha pele. — Massageei meu braço.

— Não sabia que a sua pele era tão sensível. — A voz dele denunciava o sorriso.

— Eu sou sensível! — Elogiei-me.

Artur deu uma gargalhada, o que era algo bem fora do comum acerca do comportamento dele, mas aquela momentânea alegria dele fazia vibrar meu coração.

— Por que está rindo? — Franzi o cenho, querendo manter minha pose ofendida.

— Minha querida, você pode ser tudo, menos sensível. — Ele riu mais uma vez. Fiquei boquiaberta.

— Como ousa zombar da minha cara, Artur Dantas? — Eu dei um beliscão nele.

—Oh!

Ele colocou a mão onde belisque e nossas mãos se encontraram e, para minha surpresa e satisfação, ele tomou minha mãos entre as suas e apertou. Eu queria que tudo se acabasse e ficasse só nós dois ali.

— Fique tranquila. Não gosto de mulheres muito sensíveis e cheias de frescuras. — Ele aproveitou e beijou o dorso da minha mão.

As borboletas do meu estômago que eu tentava segurar foram liberadas para voar livremente depois daquele gesto.

— Hummm, sei... — Me fingi de ofendida.

— Lia, você é incrível do jeitinho que é! – Ele me abraçou de lado. Então, aproveitei e deitei a cabeça no ombro forte dele. Estar ali fazia tudo parecer certo e bom.

Ficamos naquela posição e eu sentia sua respiração constante e calma. Artur era tão seguro que me dava estabilidade também, algo que nunca pensei em ter. Nós nos conhecíamos a pouco mais de um mês, mas eu experimentava a sensação de uma vida inteira. Me perguntei como pude viver 28 anos sem conhecer um homem assim.

Nesse instante de interrogação, lembrei-me da esposa e da filha dele. É claro! Enquanto eu estava nas viagens, ele formou uma família e a viveu e agora estamos aqui. Como a vida tem caminhos tão estranhos. O Senhor e seus propósitos. Aquela reflexão, me causou um questionamento:

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