Acordamos no outro dia com um grande barulho. Parecia ser uma confusão generalizada. Eu e as meninas nos levantamos da rede com o rosto assustado. O que estava acontecendo? Saímos do quarto e encontramos os meninos já abrindo a porta para averiguar a situação, sendo essa todo mundo correndo para ir há algum lugar.
— O que está acontecendo? — Nicolas perguntou para um dos moradores.
— Aconteceu uma briga lá onde o pessoal bebe — ele respondeu. — O negócio foi sério. Parece até que alguém morreu.
Nossos olhos arregalaram e Nicolas junto com Larissa correram para pegar as maletas de trabalho.
— Senhor! Esse povo em vez de se ajudar se mata — Mariana declarou, limpando o rosto com água.
— Se ajeitem rápido, pessoal. Vamos oferecer ajuda para que precisa — eu declarei e sem demora todos nós nos organizamos de maneira apropriada e seguimos o fluxo com os outros.
Chegamos numa casa mais afastada, ela tinha uma varanda bem mais longa e era uma espécie de bar. Não acreditei! Descobrimos que era mais longe para o som no perturbar os moradores, além de poderem praticar atos não apropriados. Aquilo entristeceu profundamente meu coração.
A confusão era clara. Dois homens tinham brigado por uma mulher e a bendita era a Vivian, que naquele momento possuía um sorriso no rosto, como se tivesse conseguido um grande feito. Um dos homens estava com sérios ferimentos, mas não tinha morrido. Nicolas pediu espaço para chegar a pessoa machucada a fim de poder tratá-lo e conseguiu. Enquanto era socorrido ouvimos:
— Você vai aprender a me respeitar — o outro brigão, que era segurado por alguns homens, gritava bêbado.
De repente, uma voz trôpega feminina rompeu no local.
— Essa mulherzinha não vale que ninguém lute por ela.
Aquilo não ia dar nada bom!
— Quem você pensa que é para falar comigo desse jeito sua... — E palavras inapropriadas saíram da boca de Vivian.
Ela era o exemplo perfeito da mulher que a bíblia orienta os homens a fugirem. Como poderia ser alguém tão desbocada daquela forma? Não tinha um pudor ou senso de respeito.
— Certeza que sou uma mulher melhor que você!
Aquilo não prestaria e foi dito e feito. As duas se atracaram pelos cabelos e mais gritos ecoaram, porém, a maioria era em forma de competição para ver quem das duas venceriam. Era uma locura total!
— Alguém precisa parar essa situação ou simplesmente vai sair do controle — declarei com o coração apreensivo.
— Acho que já saiu — Jamile disse ao meu lado.
Pensei sobre o que faria e, antes que o raciocínio tivesse se concretizado, meus pés já andavam em direção àquela confusão. Nem sabia o que faria com exatidão, porém as coisas não podiam ficar dessa forma.
— Pelo amor de Deus! — Acabei dando um grito. — Como vocês podem brigar, sabendo que tem alguém tão ferido na frente de todos? Isso é loucura.
As duas mulheres estavam ofegantes, enquanto eram seguradas e a tal Vivian gritou com o homem que a prendia. Ele a largou.
— E quem você pensa que é para se intrometer? Acha que só porque veio da cidade grande pode nos ordenar alguma coisa? — Vivian caminhou na minha direção com toda sua presunção.
Eu a olhei com atenção.
— Não estou ordenando nada, apenas pedindo para se conscientizarem acerca de tudo isso. Não percebe como é destrutivo? — Apelei para a consciência dela.
— E se eu quiser me destruir? O que você tem a ver com isso? — Vivian perguntava com um desdém terrível.
Todos os olhares estavam sobre nós e eu senti que Nicolas, perto do homem machucado e com o olhar em mim, pedia que não fosse tão impulsiva naquela hora. Mas algo dentro de mim fervilhou.
— Então, somente espero que não leve outros com você. Porque pelo que percebo não se contenta em apenas se destruir, mas precisa influenciar os demais a isso — declarei com a maior firmeza da minha vida.
Ela era o tipo de mulher que sujeitava a todos com sua vontade, muito manipuladora e que não havia ninguém que dissesse umas boas verdades em sua cara. O que foi óbvio, pois depois da minha ousadia, Vivian bufou e seus ânimos foram remexidos ao ponto de não conseguir se controlar. Ela avançou para cima de mim com suas unhas grandes.
— Lia! — Foi a voz de Jamile e Mariana com os outros.
Eu fechei os olhos para receber talvez o maior tapa da minha vida, contudo, o êxito dela não se concretizou. Apenas ouvi:
— Segure sua força, menina, ou as coisas ficarão difíceis para você! — A ordem era tão clara quanto a luz do dia.
Naquele instante, o receio deu lugar ao meu sentimento intruso. Sabia muito bem de quem a ordem veio. Ao abrir meus olhos, estava de frente com Artur que segurava o braço de Vivian, e ela o olhava com um misto de raiva e malícia. O desejo dela por ele era visível a qualquer um. Que raiva!
Artur largou o braço dela e se virou para mim. Nos olhamos por um tempo até que ele perguntou:
— Está tudo bem com você? — Sua preocupação era real. Me olhava de cima a baixo para ver se encontrava algum machucado.
Eu senti meu coração apertar. Fazia um tempo que não nos falávamos. E sabia o real motivo que nos afastava. Era horrível aquela sensação.
— Estou. Muito obrigada, tenente. — Eu desviei o olhar para Nicolas, ou era capaz de acabar o abraçando.
Percebi que Artur se dirigiu a Nicolas e me olhou novamente, mas nada declarou.
— Ele está melhor? — indaguei para meu amigo.
— Precisa ir para um lugar melhor — ele respondeu, fazendo o que podia.
— Na base tem uma pequena enfermaria. Acredito que pode servir — Artur declarou e andou para o lado de Nicolas
— Será bem melhor que está aqui. — Meu amigo se levantou.
Artur assentiu e deu os comandos para os soldados levarem o homem ferido.
— Lia, vai com o pessoal. Eu e a Larissa mais tarde voltaremos.
Artur me olhava enquanto meu amigo passava suas informações, porém permaneceu na sua posição costumeira de um militar sem grandes emoções. Quando Nicolas se foi, Artur deu ordens sobre todos irem para suas casas, pois apenas assistiam tudo com grande curiosidade e falou com o homem responsável por espancar o outro.
Eu me virei de costa para sair junto com os outros quando me deparei com a Vivian e suas amiguinhas ao lado dela. Estavam bem na porta de saída.
— Ainda não terminamos nossa conversa, mas teremos outra oportunidade. — Ela sorriu e foi embora.
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Vamos segurar nossos corações de agora em diante hehehe! Obrigada por cada uma que está acompanhando essa estória que tanto significado para mim.
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Uma Porta de Esperança
Spiritual"Portanto, que o Deus da ESPERANÇA vos abençoe plenamente com toda a alegria e paz, à medida da vossa fé nele, para que transbordeis de ESPERANÇA, pelo poder do Espírito Santo". Romanos 15:13. No ano de 2002 uma seca assolou as comunidades ribeirin...