Capítulo 30

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À noite estávamos jantando e ao longo do dia até aquele momento, Jamile não falou mais nada comigo. Eu me encontrava um pouco aflita com isso. Já havia explicado a minha situação com o Nicolas, mas a paixão, infelizmente, nos traz insegurança.
Em meio a mesa, onde só se ouvia as colheres batendo nos pratos, pronunciei:

— Jamile?

— Oi. — A voz dele ressoou um pouco baixa.

— Após o jantar, podemos conversar?

— Eu estou cansada, Lia. Poderia deixar para outro dia? — Ela deu uma desculpa que eu sabia pela forma de falar.

— Não. Por favor, aceite, será rápido. — Eu precisava por aquele assunto pra fora e tirar toda e quaisquer desconfiança entre nós duas.

— Tudo bem. — Soltou o ar.

Após o jantar seguimos rumo ao meu tronco. Andamos lado a lado em silêncio, somente o som das nossas respirações se ouvia. Esperava sabedoria para lidar com a aquela situação. Assentamo-nos uma ao lado da outra e pronunciei:

— O que houve?

— O quê? — a pergunta soou rude por parte dela.

— Está indiferente!

— Não acho. — Ela procurava fugir daquela conversa, mostrando seu desinteresse pelas respostas curtas.

— É sobre o abraço que viu entre eu e o Nicolas?

— Não quero falar disso. — Jamile soltou um resfolgo.

— Mas precisa.

— Não pode me obrigar! — Levantou-se, abruptamente, com a voz alterada.

— Nossa!

— Desculpe-me, Lia. — Ela sentou-se de novo ao meu lado. — Eu só não quero falar nada. Estou tão cansada de tudo isso.

— Eu também. — Bati a mão em meu coração. — Tenho tantas angústias e não quero saber de carregar mais uma, vendo você está com raiva de mim.

— Eu não estou com raiva. — A voz estava embargada.

— Está enciumada! Quantas vezes preciso dizer que não existe e nunca existirá nada entre mim e o Nicolas? Ele é meu amigo e apenas isso. Na verdade, um GRANDE AMIGO e nem você nem Artur poderá mudar isso — afirmei com grande convicção.

— Eu sei — senti seu tom fraco —, mas vê-los naquele estado dói — confessou com a voz pesarosa. — Eu queria tanto poder abraçá-lo, consolá-lo em suas dificuldades, mas ele só conta contigo. Ele corre para você.

— Com ciúmes você não vai resolver atrair o coração dele. A bíblia fala que o verdadeiro amor não arde em ciúme, não se ufana e nem se exaspera — aconselhei-a a fim dela mudar naquela atitude. — Se você não tendo nada com ele já sofre deste modo, se ficarem juntos vai querer prendê-lo ao seu lado?

— Não, eu... — Tentou argumentar, mas desistiu.

— A mulher sábia não teme, Jamile. Ela confia em Deus e no seu marido. O ciúme nesse nível que você tem, ele só demonstra como você quer segurar as coisas com suas próprias mãos.

Ela nada respondeu.

— Acho que essa viagem está servindo para nos mostrar como não temos controle de nada. Você não pode segurar nada em suas mãos, você só pode fazer uma coisa.

— E qual seria? — Jamile perguntou com a voz como de uma criança.

— Confiar. — Eu suspirei. — Ou ao menos tentar. 

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