LIA RODRIGUES:
Vivian sempre vinha me visitar quando podia. Começamos um estudo bíblico, com ela e suas duas amigas, todos participavam. Estava ocorrendo tudo bem até que certa noite ela declarou algo que nos deixou com as expectativas abaladas:
— Não tenho como escapar. Vou ter que voltar aos meus serviços.
— Não, Vivian, não faça isso. Deus dará uma solução. — Eu esperava no Senhor, mas o meu coração pesava por saber que se havia passado uma semana e nada tinha acontecido. Nós orávamos, porém não víamos nenhum mover de Deus.
— Mas como? — Ouvi as batidas das mãos dela no corpo. — José, o dono do bar, disse que dentro de dois dias me quer pronta de novo para trabalhar. Não quero fazer mais isso. — Vivian chorou em desespero ao meu lado.
— Confie que terá uma solução. — Segurei na mão dela. Eu dizia aquelas palavras mais para mim mesmo.
— Qual solução? Ah não ser que Deus rasgasse esse céu e se manifestasse em carne e osso a fim de fazer José voltar atrás. Não há como escapar.
Meu coração estava na mão e sinceramente não sabia mais o que fazer ou falar para que a fizesse confiar nas minhas palavras de que o Senhor era poderoso para fazer tudo que fosse necessário para nós.
— Vamos confiar. Por que não vai para casa e descansa?
Após um tempo calada, Vivian pronunciou:
— A noite está tão bonita, Lia.
— Deve estar mesmo. — Sorri levemente.
— Perdão havia me esquecido da sua condição — murmurou envergonhada.— Não tem problema.
— Como é ser... — Ela pigarreou — cega?
— No início é um desespero, mas depois acostuma — expliquei a minha condição. — O Senhor Deus nos deu a graça de aprender a se adaptar às circunstâncias.
— Sente falta da sua visão?
— Com toda certeza. — A minha deficiência ainda me trazia tristeza, mas eu só podia confiar no Senhor.
— Acha que um dia poderá voltar a enxergar?
— Não sei, mas quero crer que sim. Se o Senhor quiser ele pode me curar. — Dei de ombros.
— Eu espero que ele queira — Vivian sussurrou.
— Eu também espero que faça justiça a quem me fez isso. Se fez de propósito é claro.
— Você não sabe?
— Não
— O que faria se encontrasse com a pessoa? — ela indagou curiosa.
— Não sei mesmo, mas tenho certeza que não teria uma boa reação — confessei meus sentimentos ainda um tanto endurecido acerca desse fato.
Ela não disse nada.
— Mas tudo ocorrerá no seu devido tempo — conclui.
— É sim... — Ela suspirou profundamente.
🪵
Dois dias haviam se passado e a hora de Vivian começar a trabalhar chegou. Já era de noite e pela manhã ela me disse que não teria mais como fugir. Precisava retornar às suas funções. Meu coração estava aflito, pois todos os dias nos víamos e eu procurava ensiná-la a confiar em Deus. Agora como? Se até a minha própria esperança estava ruindo em meio as incertezas sobre o que fazer.
Estava deitada na minha rede e não conseguia dormir, minha ansiedade e aflição chegavam a níveis altíssimos. Meu peito começou a apertar dentro de mim, e resolvi me ajoelhar e orar, apesar de minha consciência querer me convencer que aquilo era inútil, afinal já tinha orado tanto e não aconteceu.
— Senhor, nunca estive numa posição tão vulnerável. Onde parece que por mais que eu grite e suplique nenhuma palha se move. — Respirei fundo. — Por favor, livre a Vivian dessa vida. Ela não tem ninguém. Nós temos ensinado a sua palavra. Cumpre-a, Senhor. Ouve o clamor do aflito. Se Tu a salvou mostre a ela o seu poder. Como por permitir um salvo sofre nas mãos da prostituição novamente? Senhor, ela é tua!
Minha voz alterou naquele momento. A mistura de raiva e angústia se uniam e causavam uma ebulição dentro de mim.
— Faz algo, faz algo, não deixe a pequena fé dela esmorecer. Não a deixe, Senhor.
Eu estava soluçando. Minutos se passaram e senti como se alguém me dissesse: “Ore, ore mais”.
— Senhor, eu não sei mais o que orar, mas livra a Vivian do mal. Livrai-a de voltar para os laços do pecado. Liberte-a daquele bordel e todas as outras mulheres. — Eu lutava em oração. Meu coração começou a se agoniar uma sensação de agonia queria me sufocar. — Deus meu mostra o teu poder na vida dela e que ela saiba que pertence a ti e não mais a satanás...
Então ouvi o som estrondoso.
“Boom! Boom!”
Senti como se um clarão passasse por mim e um rompante de pessoas gritando muito alto.
A porta do meu quarto se abriu e ouvi:
— Fogo! Fogo! — A agitação dentro da casa começou.
Outra explosão: Boom! Boom!
O cheiro de fumaça era forte.
— Lia, levante. Vamos! — Nicolas me tirou da minha posição e me guiou para fora do quarto. Eu me encolhi com medo de tudo o que estava acontecendo. Ouvi as vozes de Jamile e Felipe que vieram ao nosso encontro e nos ajudaram a sair dali. A correria era tamanha.
— Meu Deus! Onde é esse fogo, Nicolas? — eu gritava em meio ao barulho dos gritos do pessoal da comunidade. Era desesperador.
— É no bar, Lia, e está consumindo as casas vizinhas — respondeu, e às pressas desceu as escadas comigo.
— A Vivian! — gritei e usei de força para me desvencilhar dos braços dele e corri tropeçando nas pedras a frente, mas Nicolas logo me segurou. Eu caí no chão pelo puxão que ele me deu.
— Não, Lia! Você não pode ir até lá. É perigoso. — Me segurou com firmeza.
— Mas e se ela... Meu Deus, não! — berrei aos prantos.
Não era isso que eu estava pensando ou orando.
— Nicolas, ela pode ter morrido! — Minha voz saiu mais abalada do que qualquer coisa. — Nicolas...
Ele me acolheu perto do seu peito e disse:
— Então, ela de fato foi livre para sempre.
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Uma Porta de Esperança
Spiritual"Portanto, que o Deus da ESPERANÇA vos abençoe plenamente com toda a alegria e paz, à medida da vossa fé nele, para que transbordeis de ESPERANÇA, pelo poder do Espírito Santo". Romanos 15:13. No ano de 2002 uma seca assolou as comunidades ribeirin...