Capítulo 11

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Às 14h em ponto Artur apareceu na porta de casa. Ele estava numa moto e fiquei surpresa em saber que ele usaria seu veículo de serviço. Me despedi do pessoal, que acenou curioso, sentei no transporte.

— Para onde vamos?

— Só aproveite a viagem. — Ele deu um sorriso e eu obedeci.

Me deixe levar por aquele vento, que batia em meu rosto por causa da velocidade da moto. Após passarmos por algumas trilhas e entrarmos floresta adentro, ele parou o veículo e me ajudou a descer. Começou a me conduzir e após um tempo percebi que a caminhada ficou inclinada.

— Onde estamos?

— Sinta, Lia! Só sinta! — Artur pediu e eu me esforcei.

No primeiro momento, não senti nada, mas depois que meu corpo relaxou do cansaço, comecei a ouvir: o som dos pássaros, água correndo, o vento que passava e mexia nas folhas, algum animal andando por aí. A sensação era incrível! Os meus ouvidos nunca captaram tamanha abundância de sons, nem mesmo quando eu apenas fechava meus olhos. Uma lágrima solitária caiu pelo meu rosto.

— Não precisa chorar, Lia — declarou Arthur.

— Precisa sim. Estamos passando por momentos mais difíceis e Deus em sua infinita misericórdia me concede sua amizade para me fazer ver que há beleza mesmo onde parece não ter. — Enxuguei as lágrimas que desciam.

— Que bom que estou sendo usado para o seu bem.  — Limpou uma lágrima de meu rosto com o seu polegar — Você gostou?

— Eu adorei! Cada sensação é única e eu me sinto mais perto do céu. — Tentei descrever o tamanho da minha alegria. — Como descobriu esse lugar?

— Foi na minha ronda. Nós tínhamos que sair um pouco das comunidades e achei esse lugar. — Ele soltou o ar.

Enquanto conversávamos, ouvi o barulho de crianças.

— São crianças mesmo? — indaguei sem compreender.

— É sim! Temos uma pequena aldeia aqui perto. Você quer ir até lá?

— Quero!

Ele guiou-me até as pessoas da aldeia. Chegando perto eu perguntei:

— Artur, eles não são perigosos? — Me apoiei em se braço.

— Esses não. Eles estão mais perto das comunidades e são mais receptivos. — Me passou segurança. Com ele eu sentia que estaria sempre protegida.

Chegamos na aldeia e fomos recepcionadas pelos curumins, que já conheciam Artur. Uma delas tinha uma jibóia na mão e eu quase gritei, mas Artur envolveu minha mão, aquele contato me fez se arrepiar, mas não deixaria transparecer. Me atentei ao que ele disse:

— Não se preocupe! Ela é... “Mansinha”. Se é que posso dizer isso. — Ele riu. — Vamos toque nela — pediu.

— Tem certeza que ela não vai me atacar?

Ele gargalhou.

— Não, Lia! Eu tenho certeza.

Não sou do tipo de ter medo das coisas. Sempre tive o espírito bem aventureiro, mas cobra... No entanto, eu testei. A pele dela era geladinha e bem gostosa de tocar. Eu, literalmente, pedi para que ele deixasse ela se enrolar no meu braço. Artur, com grande cuidado, deixou. Vou admitir que foi uma boa sensação.

— Ela é muito boazinha. — Uma senhora indígena de uma senhora falou para mim.

Sorri e acariciei a jibóia mais um pouco. Artur segurava a cabeça dela.

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