Uma semana se passou.
A hora do devocional chegou. Vieram umas crianças a mais. Todas se sentaram nos lugares que havíamos feitos para elas. Aproximei-me e fiz todas as apresentações. Peguei umas das ilustrações que Felipe fez e mostrei. Quando viram se deslumbraram ficaram agitadas entre si, perguntei:
— Gostaram?
— Sim — responderam em uníssono
A alegria pulou no meu coração. Parece que dessa vez ia dar certo.
— Nessa tarde iremos aprender sobre o plano de Deus para nossas vidas. Essas imagens — apontei para os desenhos —, nos ajudarão a compreender melhor isso. Mas primeiro, quem se lembra do que estudamos na semana passada?
Somente Davi respondeu. Segui em frente. E aos poucos fui ensinando sobre como Deus fez tudo para a glória a dEle, passando pela criação até o momento em que o homem pecou. Minha fisionomia mudou para tristeza.
— O que é pecado? — Uma criança perguntou.
— Pecado é tudo que desagrada a Deus. É nossa desobediência a lei dEle. — Era um pouco difícil explicar, pois as crianças nem sabiam o que era a lei de Deus. Não sabiam o que deveriam obedecer. Mas continuei a história.
Tinha ensaiado um pouco as expressões faciais. Mariana me alertou acerca disso, o tom da voz e as caras e bocas. Tudo isso contribuía para chamar a atenção da criança. Artur estava certo sobre isso. Terminei a minha história com uma promessa.
— Será que há esperança para o homem caído? — elas nada responderam. — O Senhor nos fez uma promessa de alguém que nos libertaria do poder do pecado. Crianças, apesar de todo o erro cometido, Deus tem um remédio para nós e ele se chama Cristo Jesus.
— Quem é Jesus? — Uma menina de olhos castanhos indagou, curiosa.
Aquela pergunta me assombrou um pouco. Eu sabia que muitas pessoas nunca tinham ouvido falar sobre Cristo, porém, ver e ouvir algo assim me chocou de verdade. Mas me alegrei em saber que Deus estava dando oportunidade para aquelas crianças o conhecerem.
— Vocês descobrirão nos próximos capítulos da nossa história. — Sorri e me levantei. O calor estava me consumindo.
Elas esperaram o lanche e depois partiram satisfeitas. Algumas já sorriam, o que era um motivo de muita alegria para mim.
Eu admito que gostaria de ter Artur aqui para ver as ilustrações e como a aula não foi tão ruim quanto a passada. Ele até pareceu algumas outras vezes, mas quando visitávamos. E eu já estava acostumada com nossas breves conversas, mas costumeiras. No entanto, na última semana, ele sumiu. Uma leve tristeza assentou-se sobre o meu coração.
— Vamos para o rio? — Eduardo junto com os outros já tinham posto o shots.
— Está quente demais! — Jeniffer se abanava.
— Vocês sabem que vão ter que andar na água lamancenta para poder encontrar profundidade suficiente para mergulhar, não é? — Alertei.
— Não importa. Desde que a gente consiga nadar — Tiago disse e saiu correndo com os outros atrás deles.
Aquela ação dos jovens fez com que as crianças corressem com eles. Quando prestei bem atenção já tinha um monte no meio da lama, correndo atrás de água suficiente para nadar, mas como a seca havia piorado. O rio tinha recuado ainda mais desde o dia em que chegamos. Aquilo gerava preocupação na comunidade.
— Não vai nadar com eles?
Eu coloquei a mão no coração, quase infartando ao ouvir aquele timbre masculino atrás de mim.
— Artur? Oh, você apareceu. — Não acrescentaria que senti um pouco de saudade. Apesar de nem sermos tão próximos ainda, mas ele exalava uma paz que me atraía.
Ele se colocou ao meu lado, com suas mãos para trás e fitando a mesma paisagem que eu. Notei como sua barba tinha crescido um pouco. Aquilo dava um certo charme para ele.
— Estávamos cobrindo outras comunidades e a fronteira. — Ele se voltou para mim.
— Fronteira com qual país mesmo? — Admitia que geografia não era o meu forte.
— A Colômbia é a principal. — Ele apontou para o rio. — Você não imaginou o quanto de trilha tem por aqui pelo qual os traficantes exportam suas drogas.
Minha preocupação aumentou com aquela conversa.
— Por isso que os alcoólicos e drogados aumentam cada vez mais, não é? — indaguei, sentindo a derrota. — É incrível como os filhos do diabo parecem chegar primeiro que os filhos de Deus. Veja aquela mulher brigando naquele dia.
Artur tirou a boina da cabeça e soltou o ar.
— A prostituição aumentou muito por aqui com esses barcos de passeio. As adolescentes se encantam com esses estrangeiros e se estendem ainda mais os casos de pedofilia, gravidez precoces e em alguns casos até somem crianças — ele confessou e notei como se entristecia com aquela situação.
— Oh, meu pai! Por que o mundo tem que ser tão perverso? — Minhas emoções travaram minha garganta.
— É bom ver que eles tem uma missionária que se importa muito. — Artur se virou para mim e ficou um pouco atônita com seus olhos sobre mim.
Por um momento, aquilo me fez esquecer dos sofrimentos e somente focar naquele homem à minha frente.
— Eu gosto de conversar com você, Lia. — Ele revelou com sinceridade e meu coração pareceu errar umas batidas. — Não trata as coisas com leviandade, mas se preocupa de verdade.
Eu coloquei o cabelo atrás da orelha, nem sabia o que responder para ele.
— É a graça operante.
— Certeza que sim. — Ele virou um pouco o rosto para o lado, pareceu pensar e disse: — Você quer conhecer um pouco mais sobre esse lugar?
Meus olhos brilharam com aquela pergunta.
— É claro! Sem sombra de dúvida.
— Passo amanhã às 14h. Se prepare! — Ele colocou a boina de volta.
🪵
Pelo visto Artur e Lia vão avançar, hein? Ou será que não? Não perca os próximos capítulos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma Porta de Esperança
Espiritual"Portanto, que o Deus da ESPERANÇA vos abençoe plenamente com toda a alegria e paz, à medida da vossa fé nele, para que transbordeis de ESPERANÇA, pelo poder do Espírito Santo". Romanos 15:13. No ano de 2002 uma seca assolou as comunidades ribeirin...